Concurso Arena BSB
Equipe de Projeto: Alexandre Kenji Okabaiasse, Vitor Takahashi, Daniela Moro, Beatriz Dutra, Erik Kusakariba
Localização: Brasília, DF - Brasil
Área: 90.000m²
Ano: 2019
“Quanto ao conceito de monumentalidade, não vejo por que na democracia a cidade deva ser necessariamente despojada de grandeza. Da grandeza ostensiva e enfática, sim; mas não daquela que decorre naturalmente de um traçado simples e funcional, concebido com elevada intenção. [...]. Não há de ser decompondo-a em unidades de bitola provinciana que se chegará a significar urbanisticamente essa singularidade.”
[ Lucio Costa - carta resposta no Jornal Correio da manhã 27.3.1957 ]
Um claro gesto de posse sobre o território foi o risco inicial que fundamentou Brasília como urbe, inscrevendo-a no vale da paisagem do Planalto central e validando os sonhos de interiorização da capital nacional.
O Plano Piloto, conjunto arquitetônico e urbanístico reconhecido como Patrimônio Histórico e Cultural pela UNESCO em 1987, utiliza-se não apenas de um planejamento geométrico para dotar de qualidade inerentes a uma capital federal, mas principalmente da presença de vazios e distanciamentos como elementos norteadores da paisagem, que reforçam o horizonte circular.
Através de quatro escalas espaciais: Monumental, Gregária, Residencial e Bucólica, o projeto de Lucio Costa articula e integra a cidade frente à paisagem do cerrado. Sua organização de vazios, contrasta os vazios monumentais descampados com os vazios arbóreos entre blocos residenciais nas superquadras.
A importância territorial do Setor de Recreações Norte está relacionada com a capacidade de público e escala dos equipamentos. Enquanto a porção norte do SRPN é inteiramente ocupada pelo Autódromo Internacional Nelson Piquet a porção mais próxima ao Eixo Monumental abriga um arquipélago de edifícios de caráter esportivo - dentre eles o Estádio Nacional Mané Garrincha, o Ginásio Nilson Nelson e o Complexo Aquático Cláudio Coutinho.
Estes três equipamentos apresentam-se inicialmente como objetos autônomos na paisagem monumental, distantes e dispersos. No entanto, apesar de aparentemente independentes, os edifícios se encontram próximos o suficiente para serem articulados pela intervenção.
A partir destas condicionantes, a presente proposta parte de duas organizações territoriais: a associação dos vazios monumentais descampados- que qualificam a vista e revelam a linha horizontal entre céu e terra -. com os vazios arborizados, que atribuem vivência e permitem a geração de microclimas para o encontro e a celebração do lazer; e a busca pela aproximação e articulação entre o conjunto de edifícios existentes e o programa a ser proposto. Dessa forma, torna-se relevante, antes da distribuição de programas e funções, o desenho dos elementos que organizam e permitem a articulação do território.
Com isso, a proposta inicia com um claro gesto inicial. Não como tomada de posse, mas sim como referencial de ordenamento, dois eixos são demarcados em cruz, de maneira a aproximar e conectar as arenas e complexos esportivos, costurando assim um Complexo único e coeso.
O eixo norte sul, materializado como esplanada, dialoga com o eixo monumental e se torna um eixo visual de acesso e distribuição. O eixo leste oeste, tratado como suporte arquitetônico, se acomoda no relevo em diferentes níveis e cria um embasamento continuo para apoiar e qualificar as arenas esportivas. Nele, abriga se o Bulevar, que visa ser uma efervescente área de eventos e lazer que atenda a população da metrópole e torne-se um ponto de referência e atração.
A partir da determinação de um único elemento de suporte, garante-se precisão à intervenção. Para garantir abertura à flexibilidade e à necessidade de reprograma decorrentes de um empreendimento de grande porte, a estrutura desdobra-se em duas grandes faixas longitudinais, que podem abrigar diversos usos e funções, assim como a infraestrutura básica para o funcionamento do complexo. Essas faixas conformam um espaço central livre, qualificando e dando importância à presença do espaço vazio.
SUPORTE PROGRAMÁTICO
O principal conjunto arquitetônico possui uma diretriz sistêmica, ordenado por três faixas paralelas longitudinais, que definem duas densidades de uso. As faixas periféricas, com maior densidade de ocupação, abrigam a maior parte das operações de médio e pequeno porte. A faixa central, com maior área livre, abriga as circulações e conexões entre pavimentos, operações de pequeno porte e oportuniza a realização de pequenos eventos, tais como apresentações musicais. No setor esportivo, essa faixa central delimita as quadras poliesportivas e a academia de maior porte. Todo o conjunto é modulado transversalmente e dotado de infraestrutura técnica adequada, de modo a conferir flexibilidade de ocupação e expansão para as operações.
Os usos que demandam condicionantes especiais: Cinema, Empório e Mercado Orgânico, Aquário, Banco, Lajes Corporativas e Coworking, estão estabelecidos contíguos ao conjunto longitudinal, em edificações próprias e destacadas do conjunto, para que possuam autonomia em sua identidade externa, mas ainda partilhem unidade com o complexo.
COMPLEXO ESPORTIVO
PRAÇA DAS ÁGUAS: ARTICULAÇÃO DO COMPLEXO
Na interseção dos dois eixos principais do projeto encontra-se a Praça das Águas, que articula e recepciona os usuários tanto do Setor Esportivo, quanto do Bulevar. Seu posicionamento estratégico como um belvedere, na cota mais alta do terreno, possibilita a visualização do complexo inteiro a partir deste ponto. A presença de um único marco horizontal – uma leve marquise em estrutura metálica – demarca o acesso e desenha uma linha de horizonte para quem acessa o complexo a partir do Eixo Principal. Tal elemento gera um grande espaço livre de encontro e convivência, ativado pela presença de um Restaurante e Casa de Festas.
SETOR DE ESPORTES E LAZER ABERTO
O programa esportivo auxilia e reforça as arenas esportivas e o complexo aquático, apoiando os usos e eventos. Torna-se um local de utilização diária pela população, pela prática de diversos esportes, com integração com a paisagem do cerrado e a escala bucólica.
As quadras poliesportivas e todo o programa edilício do setor foram implantadas em cota inferior às edificações existentes, de modo a organizar a respeitar a horizontalidade da paisagem. Junto às quadras poliesportivas, praças descobertas garantem tanto espaços de lazer para crianças e idosos, como permitem a aglomeração de pessoas em dias de eventos esportivos. As lojas de artigos esportivos e academias contribuem para o fluxo de pessoas e completam o programa deste nível.
Os campos de futebol também foram implantados em cota inferior, próximo às infraestruturas do setor. A arquibancada para 4.000 pessoas se acomoda no terreno e constrói um acesso convidativo para as áreas dos campos. O grande porte dessa área e sua cota de implantação inferior permitem que ali sejam realizados grandes eventos, sem interferir nas outras atividades do complexo.
Na cobertura do programa edilício do setor esportivo são propostas duas esplanadas que atuam como espaço de encontro e convivência. Módulos de apoio são posicionados nesses espaços livres, próximos às quadras de tênis e quadras de areia. Seguindo por essas esplanadas sentido leste, chega-se à praça das águas. Já na ponta oeste da ocupação longitudinal, encontra-se uma praça topográfica destinada ao skatepark, encerrando assim o complexo esportivo. Partindo deste ponto, caminhos em direção ao sul conduzem a uma área livre e arborizada, reservada para animais de estimação. A área verde que rodeia o setor esportivo à norte proporciona pontos de lazer e bem-estar da população, sombreados e caminháveis. A organização do sistema de espaços livres parte das diretrizes de implantação do complexo: as linhas de arborização e a transversalidade das faixas de vegetação acompanham a distribuição dos setores e acessos. A ciclovia e pistas de corrida e caminhada contornam toda a área dedicada ao esporte e lazer, incorporando as demais estruturas de esporte existente - Ginásio e Complexo Aquático - em seu percurso.
BULEVAR
LAZER, ENTRETENIMENTO, CULTURA E COMÉRCIO
O programa do Bulevar tem por objetivo promover a efervescência urbana dos espaços públicos com uma diversidade de usos e foco no entretenimento e lazer. Para um programa tão complexo e variado, além da organização do programa em setores transversais, a acomodação em níveis colabora para a integração da estrutura edificada com o entorno – cujo desnível ultrapassa 10m -, assim como promove a facilidade de fluxos e acessos. Assim, o programa edilício do bulevar se escalona ao longo de três pavimentos, amplamente acessíveis, conectados entre si e com as áreas externas.
A cota do térreo superior (0,00m) concentra a maior parte do programa comercial, gastronômico e de entretenimento. Compreende o nível de acesso do Aquário e Mercado Orgânico. Sua conexão com a Praça das Águas se dá a partir uma escada-rampa convidativa, que expande a vista para quem chega ao Bulevar a partir da Praça. Na porção mais à leste dessa ocupação longitudinal encontra-se um espaço livre, que, além de mirante horizontal, se conecta com a praça de eventos e área externa do Estádio Nacional. No nível intermediário (-4,50m) encontra-se a praça de alimentação e o acesso para o edifício das lajes corporativas, através do Coworking localizado no térreo deste. Esse nível também comporta o acesso do Cinema e amplos espaços de praças, destinados às manifestações culturais e eventos que possam acontecer sem prejuízo ao funcionamento e circulação do complexo. Uma grande rampa de acesso que parte da porção Leste do terreno completa o acesso e articulação deste nível. O nível inferior (-9,00m) põe em foco o entretenimento noturno. Com casas noturnas, bares e praça, a porção do Bulevar pode funcionar sem comprometer a dinâmica das outras porções do Complexo.
O subsolo para 1500 vagas também se acomoda segundo o desnível do terreno, distribuído nos níveis intermediário (-4,50m) e inferior (-9,00).
A articulação dos edifícios autônomos externos ao suporte – Mercado, Aquário, Lajes Corporativas e Cinema - é garantida a partir dos térreos livres destes edifícios, que se conectam com a barra a partir de seus devidos níveis de implantação. Estes, além de acessíveis a partir do Bulevar, voltam-se para área externa, contando também com estacionamentos e acessos independentes.
Seguindo o ordenamento transversal de distribuição do programa e do paisagismo do entorno, infiltrações bucólicas cortam a ocupação longitudinal em alguns pontos, de forma a promover uma maior integração entre a arquitetura e a paisagem. Árvores de pequeno porte completam a ambientação da faixa central, humanizando o grande espaço livre no interior do suporte.
