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A Revolta Dos Burros

A Revolta dos Burros proclama o resgate histórico do burro como importante desbravador de caminhos. Os bravos animais chamados de burros subiam e desciam os morros, transportando todo tipo de coisa, de carga, de gente.
A representação do burro na história da arte parece secundária, pois sabemos que muitos trajetos irregulares são realizados no lombo de burros e eles foram agentes participantes da história. Já o cavalo figura como símbolo de status e potência.
A Revolta dos Burros questiona o lugar dos burros em passagens históricas, principalmente na cultura brasileira. Este animal, que foi fundamental para o transporte e ocupação dos territórios, está sendo esquecido pelas novas gerações informatizadas e urbanas. Com a modernidade, os burros passaram a ser substituídos pelas ferrovias, e sua função se transformou. Os animais foram também historicamente negligenciados, e muitas vezes a sua representação foi substituída pela representação de outros animais. O burro ainda tem lugar na contemporaneidade? E qual o espaço desses bravos animais na história da arte?
O coletivo Nova Pasta elegeu duas obras de referência para seus trabalhos. A primeira é a pintura Independência ou morte (1888), do artista Pedro Américo. Esse quadro retrata uma das cenas mais celebradas no imaginário nacional: simboliza o 7 de setembro, o dia da Independência. O coletivo propõe uma releitura contemporânea da pintura por meio de uma nova configuração do conjunto pictórico com as representações dos artistas atuantes e animais.
A segunda ação do Nova Pasta toma como ponto de partida a escultura Monumento às bandeiras (1921-1953), de Victor Brecheret. A escultura popularmente conhecida como “Deixa que eu empurro” representa o monumento símbolo às bandeiras, com suas diversas etnias e animais puxando uma canoa. A ação do coletivo acontece por meio de uma intervenção urbana no espaço público, no qual a escultura de Brecheret é questionada como espaço legítimo de representação do animal burro, no lugar dos cavalos, como comprovam os dados históricos. O desafio seria eleger o burro como novo símbolo do país e resgatar sua importância histórica.

ESTADÃO 16 de julho de 2012
Em madrugada recente, um grupo de artistas resolveu colocar orelhas de burro nos cavalos do Monumento Às Bandeiras, o cartão-postal da cidade, conhecido como “empurra-empurra” ou “deixa que eu empurro”. Mas, calma, eles não estragaram a gigantesca escultura de Victor Brecheret (1894-1955). Feitas de plástico, as orelhas ficaram ali por cerca de 5 horas, tempo suficiente para que os artistas fotografassem o, digamos, novo visual do monumento. Depois, tudo foi retirado e deixado como antes. “Aos nossos cavalos o eterno reconhecimento, aos burros o esquecimento.” Eis o mote da intervenção, batizada de A Revolta dos Burros. Com ela, os artistas do coletivo Nova Pasta pretendem proclamar o resgate histórico do burro como importante desbravador de caminhos pelo território brasileiro. E eles vão além: querem eleger o burro como novo símbolo do País. As imagens dessa peripécia artística são alguns dos destaques da mostra Na Borda, que reúne, até 11 de agosto, trabalhos de nove coletivos paulistanos no Sesc Consolação (R. Dr. Vila Nova, 245, Tel.: 11 3234-3000). A programação completa do evento pode ser conferida em http://migre.me/9SMkG.
Publicado originalmente na edição impressa do Estadão, coluna ‘Paulistices’, dia 16 de julho de 2012
A Revolta Dos Burros
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