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[Reportagem] O mundo cabe em Natal

O mundo cabe em Natal

Como a cultura local tem sido transformada pela absorção de costumes internacionais
(Foto: Arquivo Ana Selma Galvão)
Bacon, internet, spoiler, ketchup, show, air bag. Você começou a ler esse texto achando que o autor decidiu citar uma série de palavras aleatórias, mas não pensou em abandonar a leitura por se tratar de um texto em inglês. A primeira frase contém apenas palavras de origem estrangeira, é verdade, porém elas não causam estranheza ao brasileiro, pois já foram absorvidas pelo idioma português. O nome dessa prática é anglicismo, e ela não é a única forma de incorporar aspectos de outras culturas à nossa, tampouco a única língua a ser incorporada à nossa.

A evolução tecnológica, em nível mundial, dos meios de transporte e das formas de comunicação, impulsiona o processo de integração mundial que chamamos de globalização. É por isso que temos o esporte inglês chamado de futebol sendo praticado religiosamente em todo o mundo há mais de um século. É por isso, também, que pessoas de 119 países diferentes comem na mesma McDonald’s que surgiu em 1940 nos EUA.

Tal processo de troca não funciona apenas entre países, mas também entre regiões diferentes de países continentais como o Brasil. O açaí é natural da Amazônia, porém, de uns anos pra cá, ganhou o Brasil e é febre na região Nordeste. Com as devidas adaptações (pergunte a um paraense se o açaí que se toma no nordeste é o mesmo de Belém), o açaí tornou-se também característico de cidades como Recife e Natal.

No mundo dos negócios, as absorções culturais surgem como alternativas inovadoras para se destacar em um mar de competitividade e concorrência. O Mcdonald's, por exemplo, anunciou recentemente que estará adotando, inicialmente até o fim de 2018, o free refill de refrigerantes por todo o Brasil. A prática consiste em pagar pelo copo de refrigerante, ao invés do refrigerante em si, podendo enchê-lo quantas vezes quiser na máquina. Ela é comum em todas as redes de fast food dos EUA, mas aqui no Brasil se popularizou ao ser adotada alguns anos atrás pelo principal rival da rede do palhaço, Burger King.

Ana Selma Galvão, artista plástica potiguar que expõe desde 2000, é um case de sucesso. Expondo no Praia Shopping há mais de dois anos, ela implementou desde o ano passado o modelo de loja sem vendedores. Sem tempo para estar presente pessoalmente na exposição e na impossibilidade de colocar vendedores, Ana Selma conta que viu referências da Europa e uma loja no Paraná, noticiada pelo Fantástico.
O processo para comprar na galeria de Ana Selma é simples. O cliente escolhe a arte, que possui uma etiqueta com o valor pedido. O dinheiro é colocado junto à etiqueta em um envelope, para então ser depositado na urna que recebe todos os pagamentos. A própria parede da exposição explica o processo em detalhes.

Mas o que a motivou mesmo a adotar o formato foi a confiança no cliente e a intenção de conscientizar as pessoas. “Se o meu cliente quer comprar, ele vai pagar”, conta ela após ter percebido a demanda de pessoas querendo comprar suas obras enquanto mantinha apenas uma exposição de vitrine. “Surgiu da necessidade de eu acreditar no meu cliente”. A postura é no mínimo corajosa, ainda mais em um país que é conhecido pejorativamente pelo “jeitinho brasileiro”.

O retorno da iniciativa é excelente. Porém, ainda conta com situações desagradáveis, já que 95% dos clientes de Ana Selma pagam o valor pedido por cada obra, às vezes até pagando mais e deixando recados elogiando seu trabalho. Quanto aos 5% restantes, Ana Selma se refere cordialmente a eles como pessoas que ainda estão se conscientizando.
Se há um ano, a exposição sem vendedores de Ana Selma era aberta com previsão de um mês de funcionamento, hoje já são duas na mesma modalidade e no mesmo shopping. E não há “jeitinho brasileiro” que esconda seu sucesso.
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Matéria desenvolvida para a matéria Ateliê de Revista do 7° período do curso de Jornalismo da Universidade Potiguar. A matéria aborda os costumes Read More

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