LE SORELLE MACALUSO (As Irmãs Macaluso)
 
Direção: Emma Dante
Elenco: Serena Barone, Elena Borgogni, Sandro Maria Campagna, Itália Carroccio, David Celona, Marcella Colaianni, Alessandra Fazzino, Daniela Macaluso, Leonarda Saffi, Stephanie Taillandier
Iluminação: Cristian Zucaro
Armaduras: Gaetano Lo Monaco Celano
Organização: Daniela Gusmano
Produção local: Substância Produções Artísticas
Realização: MIT Mostra Internacional de Teatro de São Paulo 2015
História de uma família formada por sete irmãs, Gina, Cetty, Maria, Katia, Lia, Pinuccia e Antonella, e encenada como uma espécie de cortejo macabro, que reevoca acontecimentos passados no núcleo familiar, recorrendo a memórias, sonhos, choros, risos, sacrifícios e revelações do que impede uns e outros de avançar.  Vida e morte mescladas inextricavelmente.
Jornal do Comercio
 
"AS IRMÃS MACALUSO” E OS NOSSOS MORTOS QUE AINDA VIVEM
 
Publicado em 09/03/2015
 
Dentro de casa, numa daquelas reuniões que ainda teimam em permanecer muito embora não possamos mais com elas (haja vista esta correria à qual nossas vidas estão fadadas), é que As irmãs Macaluso se desfiam. Se reencontram, contradizem e, principalmente, dizem o que inevitavelmente não se apaga das suas memórias, do álbum de família. No núcleo familiar de Gina, Cetty, Maria, Katua, Lia, Pinunccia e Antoniella se erguem boa parte das nossas famílias. Sete mulheres/filhas e um pai; inúmeras lembranças, várias deles difíceis de serem engolidas; muitas não superadas.
O espetáculo que faz parte da Mostra Internacional de Teatro de São Paulo (MITsp), encenado de sexta até amanhã na capital paulista, é uma bela produção da Compagnia Sud Costa Occidentale (Itália). Diante do mar, que olhado horizontalmente é uma ponte dos homens da terra para os homens do infinito, as sete mulheres revivem suas histórias e reveem seus mortos que nunca as deixarão.
Unindo um humor delicado que logo transparece a melancolia, elas falam de sentimentos e memórias que estarão sempre ali, guardados nos armários, nas fotografias, dentro dos quartos escuros, prontos para voltar sempre durante estes processos de busca, de passagens. É como se a cada morte de um deles, os já idos voltem, em procissão para ciceronear os recém-chegados e revisitar os que aqui ficaram.
Dona de uma encenação extremamente poética, a diretora italiana Emma Dante nos apresenta três tempos cênicos que se encontram numa unidade narrativa simples e bonita. Não é uma proposta nova, basta que olhemos um passado não muito longe para que enxerguemos esta estética no vanguardista rodriguiano Vestido de noiva. E Emma junta passado, presente e futuro para nos dizer o quanto estamos interligados, o quanto estamos fadados a reviver o passado para compreender os cóleras que teimam em nos consumir e que nos deixam hiatos sempre que nos reencontramos com eles – sobretudo nestas reuniões familiares.
O dito e o não dito estão nos corpos de cada personagem, nos movimentos marcados, pragmáticos e bailados. No seu âmago, As irmãs Macaluso é também a percepção da feminilidade de nossas famílias. Questiona-nos: em que posto estão as mulheres de nossas casas? Que funções são essas e que falta nos fazem elas? Emma é uma cronista dos tempos de hoje. Fala sem ranço do que somos e pensa, sem tinta, para onde iremos. Faz isso porque mergulha no nosso íntimo, faz do seu teatro um reencontro do espectador com ele mesmo. Uma poética que dói e liberta.
Le Sorelle Macaluso
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Le Sorelle Macaluso

LE SORELLE MACALUSO (As Irmãs Macaluso)

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