Eduardo Mascarenhas de Lemos's profile

Piódão, Arganil, Portugal - Restaurante

Aldeia ainda sem praça. Anos 70.
Restaurante no Piódão, Arganil, Portugal
Estrutura
Topograficamente alpendrada em socalcos virados a Sul, a aldeia tem uma estrutura labiríntica, de caminhos pedonais, que interligam as casas e o largo principal, Cónego Manuel Fernandes Nogueira, e a Igreja Matriz, com outras duas capelas, assim como com outros equipamentos de caracter comunal, designadamente a fonte, a eira e algum lagar, que o tempo fez desaparecer.
 
Largo Cónego Manuel Fernandes Nogueira
A formalização deste espaço é bastante recente. Trata-se de um área cuja necessidade advém da utilização de veículos automóveis, e deve ter sido regularizada quando da construção da estrada que dá acesso à aldeia, construída na ultima metade do século XX (anos 60 e 70).
A edificação do grande muro de suporte de terras é uma necessidade da mesma altura, para constituir a plataforma de cota, que suporta o largo. 
Existido fotografias anteriores à construção do largo, pode-se constatar que se tratava de um descampado desnivelado, rodeado de construção e limitado por uma linha de água, existente, que servia um lagar/alambique, ainda existente em ruínas, que com a construção do referido muro de suporte, ficou separado fisicamente, da aldeia.
Também é interessante verificar que a actual Igreja, não tinha a visibilidade de hoje, já que era rodeada por construção.
Recentemente foi construído o Posto de Turismo e Junta de Freguesia, assim como ampliado o pequeno Café Restaurante "Solar dos Pachecos", um com uma linguagem vernácula, e o outro de caracter efémero em pré fabricado.
 
Enquadramento Estético 
Coabitam aqui várias épocas construtiva e arquitectonicamente distintas sobre uma base comum, fruto de um certo crescimento económico turístico, da reconversão das habitações, da reconversão de funções, da chamada modernização, adaptação ás novas solicitações do final do século a que eu chamo de contemporaneidade.
Sobre o olhar do leigo, tudo parece na mesma. Já no olhar do residente, é bem clara a mudança.
Uma já longa actividade de projecto leva-me a algumas considerações sobre a filosofia de intervenção, assim como à sua análise estética.
O “pitoresco”, é algo de dificilmente definível. O mais que se pode dizer sobre o Piódão, para além do que aqui já foi dito, é que mantém uma imagem forte sobre o indivíduo urbano. Trata-se de uma descrição inocula do passado, no sentido em que não fere. Parece organizada, é bonitinha, está composta, não envergonha, sobretudo não ofende. 
No imaginário beirão, corresponde a um lugar inicial, habitado por uma população saudável e feliz. É o mítico local da avó, ou se houvesse um Peter Pam português, o seu local de residência.
Transmite a ilusão de se viver num ambiente com uma arquitectura genuinamente local, quase vernácula. 
O actual modelo mental da aldeia, transposta para o aldeamento turístico, é uma resposta contra a ocupação maciça do território por grandes extensões construídas. É o regresso à  partilha da natureza, ao regional, ao português, ao local, algo que não fira a natureza nem ofenda a arquitectura da região. Transmite a ideia de que estamos numa zona em que a arquitectura tem uma ocupação ecológica ou sustentável. 
A harmonia do conjunto, sobretudo pela aproximação lenta e seriada de quem se lhe dirige, em confronto com o caos urbano da cidade portuguesa, identifica o homem com o lugar. 
A imagem do conjunto sobrepõem-se à arquitectura. Esta é de deplorável qualidade construtiva, não reúne condições de habitabilidade e de conforto, compatível com as actuais exigências dos nossos dias. 
Mas nada disso importa ao visitante. Este não entra nas habitações, não sofre o desconforto das patologias construtivas, nem a interioridade da localização.
 
Conclusão 
No entanto é uma aldeia bonita, com futuro turístico e a conservar.
De uma forma geral de fraca qualidade arquitectónica, mantém no entanto uma certa coerência de materiais, formas, revestimentos, cor, etc., que juntamente com a capacidade económica e a vaidade individual de cada proprietário, cristalizou num conjunto que obteve o reconhecimento público de zona típica ou de qualidade de espaços como conjunto.
Intervir no Piódão é intervir na excepcionalidade. E para isso a única regra a ter em conta é a contemporaneidade do pensamento arquitectónico e urbanístico, integrado no contexto das intervenções em malhas históricas.
Pode-se considerar como uma zona turística especial.
Torna-se difícil aplicar a legislação a toda uma área que cresceu sem regras. Aqui cada caso é um caso.
 Intervenção
Noseguimento do que foi dito, a construção em questão, foi profundamentereflectida em termos de conceitos.
Trata-sede um equipamento de apoio ao turismo.
Temgrande visibilidade em termos de imagem postal da aldeia, mas pouca ou nenhumaimportância, vista do seu interior.
Oedifício abaixa-se em relação à praça, esconde-se atrás de outros edifícios, ea sua imagem arquitectónica é minimalista.
Alinguagem arquitectónica é contemporânea, mas escolhe materiais tradicionais.Assim aplica-se como revestimento principal o xisto.
Ascores e os tons escolhidos nos restantes materiais exteriores, são neutros. Sóo branco pontual sobressai.
Comotoda a obra no momento em que é acabada, tem vida e ressalta. Mas contra essefacto nada se pode fazer. É a própria definição de arquitectura – o dia defesta, numa vida de trabalho.
 
Proposta:
O programaresume-se a um restaurante bar, com duas esplanadas, que interligam o Largo,com a via pedonal que dá acesso ás piscinas naturais.
No logradouro,separado do edifício existe um pequeno arrumo de vasilhame e um bar de apoio àesplanada.
O edifíciodesenvolve-se em 3 pisos.
A cérceaproposta é inferior à existente confinante com o Largo.
O presenteprojecto é, como todos os projectos, um compromisso entre as expectativas doproprietário, a opinião que o técnico pensa válida para o local e o normativoque as entidades competentes consideram de estipular para a zona.
 
Integração, Cércea,volumetria, Alinhamentos e Acesso
 
Propõe-se um edifício cujoacesso se faz pelo Largo, com uma cércea de cota inferior à cota do Largo, comum pequeno volume de construção, de cota idêntica à do "Solar dosPachecos", no piso de acesso.
O alinhamento da construçãomantém os alinhamento existentes que o cercam, e mantém os afastamentos normaisna povoação.
O acesso é feito entre asarvores existentes. O facto de existirem arvores de médio porte acentua aintegração do edifício, enquanto novo.
Em termos de linguagemarquitectónica propõe-se uma intervenção actual na forma e nos materiais, recorrendoà utilização dos materiais tradicionais da zona, em termos de revestimentoexterior.
 
 
Programa
 
Nível de acesso:
Ponte de ligação e miradouropanorâmico. Rampa de acesso ao piso 0.
 
Piso 0:
I.S. de apoio, bar e esplanada.Escada de acesso exterior ao piso - 1.
 
Piso -1:
Átrio de entrada e corredor dedistribuição; sala de refeições e varanda, bar e sala de bar. Escada de acessointerior ao piso –2.
 
Piso -2:
Átrio e corredor dedistribuição, arranque das escadas, sala de refeições com instalação sanitáriade apoio, cozinha e copa, distribuição e balneários dos funcionários.Logradouro com esplanada fronteiro à construção; bar e arrumo de vasilhame.Portal e acesso à via pedonal.
 
CoberturaCoberturas planas.
Piódão, Arganil, Portugal - Restaurante
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Piódão, Arganil, Portugal - Restaurante

Restaurante na Aldeia do Piódão, Arganil, Portugal

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