“RITO PAJELANÇA - O DESEMBARQUE DE CABRAL”
Ritualizar a história no próprio corpo. Através das imagens canônicas das pinturas coloniais com toda a sua carga de força e criação do imaginário em nós, a partir delas onde fomos e somos todos educados pela imagem, na sua romantização e deturpação da história diante dos seus interesses, a criação de um imaginário de nação- continente a partir da visão de uns poucos se torna verdade histórica.Aqui temos a imagem primeira do encontro na pintura o desembarque de Cabral de Oscar Pereira da Silva, onde está representada a cena épica do encontro dos portugueses com os indígenas no momento da sua chegada em nossas terras. Na cena, vindos do mar em suas naus encontram terra firme registrando o momento em que sepultam a bandeira da santa igreja no achamento da nova terra na outra margem do continente, com sua costa, mata virgem e seus habitantes se acercando vendo estes estrangeiros chegarem. A terra virgem como a própria vagina a ser deflorada e explorada de todas as formas em suas riquezas, como vimos nos séculos posteriores. A história da terra é a história dos homens da terra.A proposta transpor o quadro para o corpo como memória acumulada que guardamos através dos séculos, a má ancestralidade, como Mal Branco. “O corpo é um discurso fortíssimo “, o corpo que ao mesmo tempo é ancestral e atual, fala das impressões carimbadas, marcadas pela história, e história aqui é a história do outro, a nossa não é a contada, é a sofrida. Levar nas coxas há séculos : Na escolha de pensar os locais no corpo para realizar as performances e as pinturas, aqui o locar escolhido foi a coxa tanto no sentido de levar na coxa tanto na região intima onde acontecem todos os estragos e invasões tratar o corpo como terra, território e pensar a vagina como a própria terra virgem nesse processo de encontro e conquista, exploração e estupro. Em nossos corpos há muita coisa acumulada, que aprendemos e nos apreende desde muito tempo, porque não nos serve mais, porque nunca serviu. Ancestral porque genético das gerações que percorrem, e nos transpassam, e assim nos forma. Atual porque somos ela, por ela, e pela chuva dos acontecimentos.Transformar a dor em cura através das tecnologias de cura ancestrais nos métodos da pajelança. Aqui a forma encontrada foi através do Temascal, ritual feito pelos indígenas mexicanos em que consiste em uma sauna sagrada. Fazer suar, através do vapor das pedras quentes e as ervas sagradas dentro desse espaço útero, para produzir a limpeza e a purificação do corpo - da pintura - da história. A arte quando séria, originária, posta a serviço, tem essa força de transformação, move coisas e move a nós mesmos. Assim como o fazer não é um ato individual mas coletivo, colaborativo com a participação da artista Aline Brune nas pinturas e registro e da presença e potência da Índia Travestíndia. A procura e a cura não é minha mas de muitos de todos os indivíduos que fazem parte da história .
Pintura e Fotografia: Aline Brune
( Bruxona)
Fotos Performances selecionadas para a exposição
Abre o Olho Jikula ô Messu, disponível em:
https://www.expoflaabreoolho.com/exposição