Letícia Costelha's profile

\ .`_´. |-/_O=\-|| - 2016

O toque como sentido memorial. Memórias que são adquiridas a partir do tacto - estando este inevitavelmente associado à convivência entre as pessoas, à interligação entre o homem e a natureza, à vontade de sentir o toque/a textura/ o relevo de algo, a vontade de mexer/brincar com a terra, a areia, sentir a rugosidade de uma pedra ou o frio do orvalho; sensações, em suma,  que apenas adquirimos a partir do tacto, funcionando como uma fonte de conhecimento, uma comprovação de algo que a visão mete em causa. Estas sensações todas ligadas à essência do Homem, ao seu “primitivismo”, à sua “pureza”, podem ser reconhecidas nas crianças com a sua ligação à vontade de sentir/tocar nos objectos – construção de legos, castelos de areia, etc. Podemos, nos dias de hoje, encontrar essa ausência de toque, a sua desvalorização que interrompe as relações humanas, separando os homens de si mesmos; - ausentando a convivência pessoal e aumentando uma convivência mais virtual, como uma negação ao físico – ao toque.
 
O mundo moderno a se transformar, a se desintegrar – e como podemos encontrar essa essência, essa ligação à terra, à natureza, ao toque, à genuinidade do Ser Humano ainda nos indígenas.
 
Estes estão sem dúvida conectados ao físico e à natureza, numa envolvência tanta, que utilizam o próprio físico, a própria pele, o próprio corpo e carne para alcançarem o espiritual. Há uma forte ligação e uma grande fé no espírito, no imaterial, que apenas pode ser alcançado a partir do material, com as danças, as lutas, os açoitamentos, todos os rituais que desafiam o próprio corpo. Não só se ligam ao toque a partir do próprio corpo, mas também a partir da matéria que a natureza lhes oferece, com a construção das máscaras rituais – essencialmente africanas -, os trajes/roupas feitos de folhas/capim, as esculturas de deuses/seres místicos com barro/terra, com a comida que fazem e que oferecem a esses mesmos seres, com os sacrifícios de animais. Todos estes rituais passam pela matéria para alcançar o inalcançável – o imaterial, o espiritual.
 
“The Secret Museum of Man Kind” (http://ian.macky.net/secretmuseum/front_cover.html) - recolhi várias imagens de transfiguração do próprio corpo a partir de pinturas, furos, queimaduras, feridas, todo tipo de comportamento que podemos considerar bruto, agressivo e animalesco, para chegar ao único objectivo de se assemelhar ao místico, ao espiritual – utilizando a própria cara e corpo como uma máscara. A criação destes desenhos assemelha-se sempre às próprias gravuras/estátuas/máscaras que eram trabalhadas em madeira ou em terra. Encontrámos aqui então a criação memorial a partir do toque: a mente assimila texturas como sendo materiais diferentes, devido à imagem visual desta e à imagem composta na cabeça, que é adquirida pelo tacto.
 
Este projecto foi desenvolvido ao longo de duas semanas, no âmbito da cadeira de Artes Plásticas - Bloco de Escultura. Dirigido pela professora Joana Costa. Tínhamos apenas ao nosso alcance alguns excedentes de madeiras, tendo apenas que trabalhar com o material que nos era oferecido, podendo modificá-lo, transformá-lo, etc. O trabalho final ficou aquém da ideia inicial que seria atiçar ao desejo de tocar na peça, pelo contrário, reflecte até uma repelia de tocar no objecto, pela sua fragilidade. Contudo, demonstra o lado frágil, genuíno e honesto do Homem, sendo esteticamente muito ligado ao tribal, ao indígena, com uma atitude mesma atitude que os índios possuem perante a natureza - retirar desta os materiais, retirar do físico para alcançar o espiritual.
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||0_.`-`./\=|-||\\ sorry for the bad quality of the images

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