ARQUIVOS DE DISPOSITIVOS MÓVEIS
recife e olinda/pernambuco
por vezes, os fluidos caminhos da vida nos conduzem por marés cujas ondas desassossegadas quebram com força: nos sugam, sem contratempos, para longe do caminhos dos sentimentos ou nos arrastam para a profundeza da poesia. me encontro em um desses processos de abstinência induzida, para não dizer forçada e, ainda assim, esbravejando resistência. me pus a fotografar a partir dos (e com) os instrumentos que estavam ao meu alcance: a câmera do celular. a fotografia mobile se desenhou como uma possibilidade de teimosia a feitura das imagens. elas nunca estiveram distantes. é necessário olhos atentos para encontra-las por perto mesmo quando resolvem fugir, ou desaparecer por um tempo. a narrativa aqui construída não busca ter um início e menos ainda um fim: são sobreposições de sentimentos nem sempre positivos. hoje as enxergo como uma poesia confusa de crises e desentendimentos mais profundos do eu, do ele, do nós. são fragmentos do mundo que me cerca que ganharam vida própria e agora contam as suas próprias histórias. são migalhas que me induzem a reconciliação com a profundidade superficial do mundo das imagens e me mantém na ativa antes que sejam prontamente devoradas pelos passarinhos do tempo. conhecemos em demasiado suas artimanhas enquanto maré feroz ou passarinho ansioso; ambíguo e nem sempre justo. me redimo com o que não capturei, nos tempos de inquietude, todavia celebro, desde já, as [imagens] que com vigor serão capturadas. como é contraditoriamente belo o mundo das imagens e me queima desde os espaços mais gélidos até os mais esperançosamente reluzentes a possibilidade de estar de volta. um brinde às imagens!
2017
kerol correia
