FAVELA DE NOME, CIDADE DE FATO
Em toda minha vida aprendi a interpretar a favela como um local insalubre, criminalizado e com falta de infraestrutura, responsável por espalhar essas problemáticas por toda a cidade. Hoje entendo que “não é a periferia em sua precariedade material que sufoca a cidade, mas sim o contrário. A pressão socioeconômica exercida pelos centros urbanos esmaga as potencialidades transformadoras dos territórios nas periferias da cidade” (BASSANI, 2016). A favela é uma cidade de fato. “É o regime de produção do espaço urbano predominante no chamado sul global” (GONÇALVES, 2013).
A partir disso escolhi como estudo as favelas Iguaçu e Jardim Planalto I, II e III, localizadas entre o distrito do Sapopemba em São Paulo e um trecho no município de Santo André, onde se situa o perímetro da Bacia Hidrográfica do Ribeirão do Oratório, com o objetivo de desenvolver estratégias de reurbanização que possam qualificar essas áreas. Espera-se para estes locais mais do que potencializar as áreas existentes de luta e pertencimento que tenham a qualidade de vida transformada, mudando o modo de viver daquela parcela da cidade, pelos moradores que ali conquistaram seu espaço. Faz-se necessário reivindicar pelo direito à cidade através da qualificação de vazios que são resíduos da autoconstrução sem infraestrutura, insalubres e inseguros, mas, ainda assim, são os espaços conquistados pela comunidade.
Através do plano urbanístico proposto, esses espaços que hoje são invisíveis ao olhar da comunidade serão trabalhados tornando-os visíveis para os mesmos, incluindo o córrego, vielas, pequenos vazios entre as casas, ativando espaços já existentes de forma a serem mais inclusivos.
2019
Projeto selecionado como um dos melhores trabalhos de conclusão de curso elaborados no Brasil, Portugal e Moçambique em 2020 pelo ArchDaily Brasil.
É importante destacar que o projeto de reurbanização foi desenvolvido metodologicamente pensado nas seguintes etapas: diagnóstico - projeto. Entretanto nesse meio tempo a cidade muda, a cidade é um organismo vivo, a favela também é cidade, também é viva, sendo espaço de disputa de transformações e crescimento, por isso o projeto também poderá sofrer alterações ao ser implantado.
TEIXEIRA, Kelly Alencar. Favela de nome, cidade de fato - Subsistindo o Iguaçu e Jardim Planalto I, II e III. 2019, Sapopemba. São Paulo, 2019.
