Mulher de luta sim, senhor
Os bastidores do show Retrato Falado de Dandara Manoela
Já são 16 horas. As portas do auditório do Sesc estão abertas para a organização do show que vai acontecer de noite. A equipe é pequena: os integrantes da banda e a família de Dandara, como Renata Schlickmann que, além de noiva, é produtora. Há quase dois anos, ela concilia a correria da vida da companheira com a sua. Na camiseta, as palavras “mulher de luta” dão significado ao nome de uma das mais músicas mais representativas do álbum.
No cenário, retratos de familiares e amigos que contribuíram para a realização do Retrato Falado. A conquista só aconteceu devido às 360 pessoas que ajudaram no financiamento coletivo do CD. Toda a confecção dos retratos foi feita à mão e em casa.
Um é pouco, dois é bom, três é demais... Mas não quando são irmãos e estão dispostos a ajudar. Kauê, Caio e Lucas também participam do Retrato Falado. Estão no cenário, na melodia das músicas, nos ajustes finais e na inspiração de Dandara.
Teste… som… teste… Aumenta o volume ali, abaixa aqui. Tiago, técnico de som do Sesc, é o responsável por conferir se todos os microfones, amplificadores e caixas de som estão funcionando. “Preciso de uns 40 minutos para arrumar a iluminação”, avisa Tiago. Ele coloca um plástico colorido sobre as luzes do palco. Assim começa a última etapa de produção do cenário do show.
Os responsáveis pela parte musical são outros. De Cabo Verde, o mais novo integrante da banda: Jeff Nefferkturu. É ele quem faz os arranjos no violão. Mais conhecidos do público, estão Mateus Romero no baixo e UBrother na percuteria.
Imprevistos também acontecem. UBrother sai do palco e retorna com um extintor em mãos. Agora, com outra função: estabilizar a percuteria.
Os figurinos já estão pendurados nos cabides do camarim. Em meio ao tecido escuro das camisetas, os detalhes coloridos nas mangas são a marca registrada. Amarelo, alaranjado, estampas étnicas e toda a representatividade afro-brasileira de Dandara.
“Encontros são feitos de vento então fique atento porque pode ser sutil”. E um desses encontros, como diz sua música, aconteceu no Dia da Consciência Negra. Após quatro horas de preparação, as cortinas se abrem. Os pés descalços chamam menos atenção que o coração calçado de amor.
Mulher, negra, lésbica, pobre e vencedora do Prêmio da Música Catarinense em 2017, como melhor cantora, e em 2018, como melhor álbum, o Retrato Falado, Dandara Manoela canta suas histórias.