Alexander Torres's profile

A Pupila Depilada - Livro

A Pupila Depilada - Livro
A inspiração inicial para a criação do livro “A Pupila Depilada” surgiu do trabalho do artista surrealista Max Ernst, a quem admiro muito. Inspirou-me principalmente o seu trabalho chamado “Uma semana de bondade” (Une Semaine de Bonté), um romance-colagem feito com ilustrações de livros e publicações antigas e que faz referências ao gênesis bíblico e a situação política na Europa no período entre guerras.

Meu objetivo inicial neste projeto era apenas produzir as ilustrações, sem pensar, de antemão, o que fazer com elas. Considerei criar alguns cartazes, ou algo parecido. Ao fim da produção, pelo número considerável de ilustrações, acabei por me decidir a formatá-lo como um livro. Creio que esta escolha acabou por introduzir um novo elemento de forte influência paratodo o projeto: o poder que um formato com um uso já institucionalizado tem para moldar nossa percepção.

Seja pelo formato fixo do livro, seja pelo encadeamento de páginas que se ordena em uma seqüência numerada, cria-se uma expectativa por uma lógica que guie a ordem dos textos e das ilustrações. Bem como uma evidente ligação entre o texto e a ilustração. E também uma lógica dentro do próprio texto. Mas, não neste livro.

Imaginei um ou outro leitor folheando o livro e, na leitura dos primeiros textos e observação das ilustrações, pensando “Que p... é essa?”.

Ao ler os pequenos textos que acompanham cada ilustração, o leitor percebe que algo não vai bem com estes, não fazem muito sentido, e alguns são extremamente estranhos. Assim, lhe restam algumas saídas ao considerar estes escritos: como resultado da loucura, totalmente desconexos, portanto, desprovido de qualquer significado; ou como um enigma, cujo significado está escondido por trás de uma chave ausente, ou mesmo com um significado que nos escapa. Embora a percepção, ao longo do folhear do livro, possa oscilar entre estas duas possibilidades.

Óbvio que nem todos os textos são completamente incompreensíveis. Nem todos foram escritos em linguagem críptica, alguns possuem uma linguagem mais poética. E há o fator “significar”, a propensão natural para dotar de significado o que vemos ou lemos. 

Para construir os textos, preservei a estrutura de discurso e subverti seus elementos, o que, em grande parte, consistiu em simples substituição e deslocamento de palavras. Uma pequena parcela é composta por escritos já antigos, de um trabalho anterior, a maior parte foi produzida exclusivamente para este livro. A produção destes escritos exclusivos foi feita em separado das imagens. Mesmo a associação no momento da edição das páginas foi baseada na ordem com que os textos foram digitados e a ordem final das imagens. Quase um “cadavre exquis” editorial.

As ilustrações foram criadas a partir da combinação de diversos desenhos vetoriais e clip-arts de uso popular. Muitos foram fragmentados e recombinados para compor alguma ilustração específica. E estes foram aplicados sobre imagens impressas digitalizadas de ambientes, provenientes de revistas.

Diferente do trabalho de Max Ernst, não crio personagens fantásticos, mas proponho composições inusitadas que preservem elementos conhecidos.

A real proposta deste livro é criar o estranhamento no leitor, através de elementos familiares em situações não convencionais. Seja na composição das ilustrações e dos textos, seja na composição do livro como um todo.

É um livro que não se comporta inteiramente como um livro. Guarda o desejo de tornar-se outra coisa. Foge de encadear um história, sua própria história.

“A pupila depilada” é um livro para ver, não entender.
A Pupila Depilada - Livro
Published:

A Pupila Depilada - Livro

Um livro para ver, não entender.

Published: