ARGUMENTO:
Portugal, limiar de 2018. No auge da ânsia da autoaceitação, algo que para alguns é ato de dificuldade extrema, e que para outros surge da pele, como se viesse no suor gerado pelo motor narcisista que a alma carrega. Numa terra cuja humildade é reduzida ao facto de todos os dias, ao passar pelo vidro embaciado do café JB, um rapaz ter a necessidade incontrolável de consolar o seu sentimento de autoconfiança, observando-se como se estivesse na sua casa, a olhar para o seu reflexo, obra de quem não cede às emoções dos outros.
Geram-se frases intituladas de autoestima, pelos jovens, com distúrbios, mas bonitos, para além da noção de que o são, mas com falta de saber dos demais.
Sentado num banco de café, encontra-se António, um rapaz humilde, observador, critico dele e dos outros. Rapaz que tem dificuldade de olhar para ele mesmo, sem pensar nele, mas nos opostos.
Ele observa tudo e todos atentamente, mas foca-se numa pessoa só, alguém sombrio, que não aceita críticas nem observações e que nem pensa na existência do próximo.
Quando António pensa em alguém, não pensa de certeza em si, pensa noutra pessoa, mas ele, só pensa nele.
Ao ver aquela pessoa incomum abandonar o café, António decide segui-la e confrontá-la com todas as recordações que tem dela, em que ela maltrata, mas não se deixa nunca maltratar.
António encontra-se escorrido em lágrimas, com uma respiração ofegante, e a suar da cabeça aos pés, mas ainda assim não desiste de açoitar aquele ser desprezível, que abandonara o café como quem abandona um terminal de autocarros. Com pressa e sem agradecer ao funcionário, que de tudo fez para o atender bem.
Está cada vez mais escuro o ambiente, e assim também se encontram os pensamentos de António. As recordações da imundice das atitudes daquela pessoa que agora caminhava em sobressalto.
Até que ele a consegue alcançar pelo casaco e a vira, constatando que a pessoa que fugia se tratava dele próprio.
Agora António encontra-se confuso e com nojo de si, até que se apercebe que esta pessoa que o assombrava este tempo todo, afinal não era assim tão má.
