minha vó dizia que ela mais as amigas lavavam roupa correndo pra ir pro forró, que quem fazia era um sanfoneiro pernambucano que era casado com ua cigana e foi morar lá no garapa. disse ela que naquela época vinha muito home pra casar com as mulhe que ficavam nos buraco. esse forró foi sambado lá na roça, fazenda santo antônio, que depois de levantado o rancho meu avô levantou a casa de adobe com o barro de lá mesmo, assim como fez a casa de quando ele casou com minha vó, “ele levantou a casa e fez os móveis no facão” diz vovó. meu avô foi uma parte da vida serralheiro, oleiro, construtor, assim como seus irmãos, assim como bisavô joaquim. antes de me dar conta fiz tijolos, construí casas, lavei roupas e dancei forró. as memórias-corporais-afetivas atravessam o tempo e o espaço, não correspondem as lógicas-coloniais. ali dançam vovó e tí clésio. tí clesio continuou pela região do garapa, por vezes MST por outras fazenda santo antônio. tijolos já se foram outros. mas foi na mesma terra que ao mesmo tempo novas tintas e ruínas, que eu toquei baião a primeira vez enquanto fazíamos pamonha no fogão a lenha com milho roubado.
2019