a mesma sobrancelha e curva de rosto.
cruzar os caminhos e herdar desejos
(o mesmo retrato do tí no rio preto aqui, o mesmo tipo de peneira de palha e planta. uma hora acontece o Atravesso)

preciosa


2019
a mesma sobrancelha e curva de rosto.
cruzar os caminhos e herdar desejos
(o mesmo retrato do tí no rio preto aqui, o mesmo tipo de peneira de palha e planta. uma hora acontece o Atravesso)

preciosa

2019
nunca tinha visto essa caligrafia, nem parece que é da minha mãe

areia de rio
terra preta
terra vermelha
(mamãe, esse escrito era a lista para as plantas escondidas)


os retratos amarelecidos. vira e mexe eles tentam escapar de mim. ou roubados de volta. quem guarda a memória? quem pinta de despintar/desbotar os retratos?
ai ai... tempo-brincante, já desconfio ser você aquele galo vermelho no sonho ou aquele rio que se fazia de torno. brincar de ser tempo. de ser rio-escultor. pedra-roladeira. sol-gravador. vento-cantador. água-minguadeira. terra-pintora... sonho com seus desenhos.


2019
minha vó dizia que ela mais as amigas lavavam roupa correndo pra ir pro forró, que quem fazia era um sanfoneiro pernambucano que era casado com ua cigana e foi morar lá no garapa. disse ela que naquela época vinha muito home pra casar com as mulhe que ficavam nos buraco. esse forró foi sambado lá na roça, fazenda santo antônio, que depois de levantado o rancho meu avô levantou a casa de adobe com o barro de lá mesmo, assim como fez a casa de quando ele casou com minha vó, “ele levantou a casa e fez os móveis no facão” diz vovó. meu avô foi uma parte da vida serralheiro, oleiro, construtor, assim como seus irmãos, assim como bisavô joaquim. antes de me dar conta fiz tijolos, construí casas, lavei roupas e dancei forró. as memórias-corporais-afetivas atravessam o tempo e o espaço, não correspondem as lógicas-coloniais. ali dançam vovó e tí clésio. tí clesio continuou pela região do garapa, por vezes MST por outras fazenda santo antônio. tijolos já se foram outros. mas foi na mesma terra que ao mesmo tempo novas tintas e ruínas, que eu toquei baião a primeira vez enquanto fazíamos pamonha no fogão a lenha com milho roubado.

2019
fulejo.
tí turim tocando violão e vó helena cantando. minha mãe na ponta da foto batendo palma. “o povo do barraco” diz vovó. alguma roça mineira. alguma memória de cantoria. o telhado sem forro sempre deixa a gente exposto a animais noturnos. sem forro na cabeça. festa de alforria. forróbodó. o céu um pouco mais perto. os animais que voam trazem o céu um pouco mais pra perto da cabeça. costuram a terra no céu. anunciam noite e dia. 
fulejam.

2019
o barro canta toda vez que mata saudade da água. vejo todas as coisas mágicas e misteriosas como químicas e materiais. a coleta das coisas que dependem do encontro com o acaso escondem no tempo seus encantos. o barro diz seu tempo para os olhos e ouvidos das mãos. o bolo de milho com segredo sempre foi meu preferido. o barro sem cabeça boa não sobe. colhi lágrima,-de-nossa-senhora. na paixão do barro com a água, mesmo depois de virar pedra, vai morar nos seus leitos, daí em diante é água que canta quando corre.
em memória
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em memória

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