O PARTIDO
O partido arquitetônico para UBS Quilombola do Gurugi surge do adensamento do programa em apenas um pavimento, priorizando a acessibilidade e simplificação da estrutura, relacionando-se com o contexto urbano de edificações baixas e apropriando-se da geometria do lote, que percorre a maior dimensão do alinhamento frontal até os limites lindeiros.
Utilizando a estratégia de fracionar o volume térreo em 3 partes proporcionais ao caráter de uso, desenvolve-se numa sequência de mais adensável, correspondente ao uso público, ao menos adensável, de caráter de serviço e privado. A necessidade de humanizar os ambientes propiciou a ruptura dos volumes com a criação de hiatos verdes entre os espaços do programa, que percorridos pelas circulações, conecta os usuários a estratégia fundamental da proposta: de qualificação dos espaços internos e apropriação da vegetação externa, criando cenários no interior e na paisagem.
A apropriação da cultura local de utilização de coberturas com telhas cerâmicas é reforçada na proposta, que reinterpreta o sistema, para uma linguagem icônica e acolhedora.
Como forma de ocupação do equipamento pela comunidade, além do programa estabelecido, a cultura e cultivo de hortas comunitárias se desenvolvem como muros verdes, através de um trama metálica, que se relaciona diretamente com o passeio e protege os espaços de apoio e serviço.
JARDINS DA ALMA
"o jardim é sim antes uma necessidade consciente do que simplesmente uma criação acidental de luxo do supérfluo de nossa civilização"
Roberto Burle Marx, 1935.
Os jardins geram paisagens internas que buscam humanizar o espaço destinado à cura e bem-estar. É o momento em que a arquitetura rompe sua forma pura inicial buscando relacionar-se com o entorno através destes pontos de permeabilidade intrínseca da vegetação existente no contexto apresentado. O vazio de um pátio permite várias maneiras de ser e estar em relação ao edifício e lote. Nesta proposta o vazio configura-se como forte agente de SER - ser resgatado pelo conforto visual das paisagens internas geradas por esta permeabilidade e o SER pertinente ao local quando as linhas periféricas desta arquitetura permitem que esta paisagem adentre em sua essência.
ESPAÇOS INTERNOS
Os jardins internos materializam as paredes das circulações do edifício e espaços de estar, assim, as escolhas de acabamentos e materialidades das áreas internas, amplificadas com uma paleta de cores harmônicas, favorecem para a configuração desta atmosfera psíquica do bem-estar. O caráter humanizado se efetiva na definição destas paisagens internas, quando de bancos de espera e estar são instrumentos de acolhimento e proteção nas circulações.
GEOMETRIA DO ACOLHIMENTO _ PERSONAGEM DA HISTÓRIA
Como reinterpretação do contexto tradicional de alvenarias brancas maciças que apoiam coberturas de telha de barro, buscou-se através desta percepção do local, trazer à nova arquitetura proposta algo que ali já foi contado. Propõem-se a reciclagem das telhas das edificações que serão removidas como o personagem que ali permanecerá para contar o que um dia já foi e que permitirá SER o novo. Novo este, que não esquece sua história. Na busca de uma linguagem contemporânea que dialoga com esta história surge a cobertura simplesmente apoiada nos novos volumes, onde o telhado de plano inclinado invertido permite maior contato visual com o personagem da geométrica de acolhimento, não apenas como definição original de proteção e abrigo.
Assim como elemento marcante do resgate e manutenção desta história, este componente da cobertura, em estrutura leve metálica com telhas de barro funciona como um elemento que confere unidade formal à proposta, sendo essencial na eficiência térmica das ventilações cruzadas definidas tecnicamente no projeto, através do sombreamento entre as duas coberturas.
TRAMA METÁLICA E HORTA
Uma trama metálica surge da dualidade do elemento funcional da cobertura intrínseco ao programa, que se materializa como massa compositiva. No plano vertical rarefeito surge a horta comunitária, junto à via pública como convite direto para ocupação de quem ali passa.
A leitura do contexto local, de lotes definidos por muros frios e opacos, é contraposta como crítica cultural. A proposição de um muro verde que serve de cama para cultivo de espécies vegetais e que protege, vai ao encontro da apropriação do equipamento pela comunidade, convidando a usá-lo.
TECNICIDADE DA CONSTRUÇÃO
Pensou-se em uma infraestrutura metálica, com poucos pontos de apoio no solo, para menor impacto ambiental, que eleva o pavimento térreo até a cota única. Construção dos planos horizontais de piso e cobertura, com uma cama de perfil metálico que sustentam painel-wall, sendo no interior da edificação um acabamento em piso vinílico e na cobertura, um sistema de impermeabilização e tratamento térmico. O sistema de vedação são compostos por quadros metálicos revestidos externamente por placas cimentícias mais impermeabilização e internamente por OSB e gesso acartonado atendendo a norma de desempenho. Componentes de esquadrias são de perfis de alumínio com sistemas basculantes para os consultórios permitindo 100% do vão para ventilação, que favorece o sistema de ventilação cruzada com as zenitais, e de correr para os espaços de circulação, proporcionando melhor desempenho de ventilação cruzada nos espaços de longa permanência.
Trata-se de:
- Sistema leve, seco e racionalizado.
- opção por um sistema rápido para fácil execução e controle, tratando-se de uma obra publico, a eficiência do sistema é pertinente.
- o projeto é de fácil adaptação para sistemas construtivos convencionais;
SUSTENTABILIDADE
- Sistema de ventilação cruzada e associação a captação de luz natural difusa para os ambientes mais privados;
- Manutenção do clima em condições mais favoráveis na camada de ar sombreada, que acima dos volumes brancos se mantém devido ao sombreamento da cobertura de barro elevada;
- Captação de águas da chuva para irrigação horta comunitária;
- Eficiência energética, térmica e acústica do sistema steel-frame é superior ao sistema convencional de alvenaria e concreto.
