TITÃ
"Tell me Atlas, what is heavier:
The world or its people´s hearts?"
- Unknown
  Atlas. Condenado a uma eternidade a carregar às suas costas o mundo. Com essa tarefa veio um fardo mais pesado: a humanidade. O Homem pesa e pressiona incansavelmente sem que o gigante ceda, mas a sua força não é infinita e a sua vida não é eterna como aclamada na mitologia.

  O Atlas do mundo somos nós mesmos. Nós homens que ao invés de o sustentar o drenamos de toda a vida e força que tem, graças à nossa insaciabilidade e ambição descontrolada. Temos, de facto, uma influência titânica sobre o planeta e aquilo que é o seu futuro, ainda que não nos tenhamos consciencializado totalmente deste facto.
Alto Atlas, Vale Ourika, Marrakech | 04/03/2019
Nikon D3400 | Nikkor AF-S 18-55mm f/5.6
  A imagem acima é, para mim, a melhor fotografia que já tirei. Não devido a uma extraordinária composição ou qualidade técnica acima da média, mas pelo que representa. Não existe nada que me encha mais o espírito do que sentir a beleza avassaladora da Natureza perante uma paisagem destas. Inspirar bem fundo e observar esta grandiosidade durante uns minutos que se parecem estender por horas. E, depois de acabada a observação e o deslumbre, fica a fotografia, nada mais nada menos que uma representação física da imagem que gravei para sempre na alma.
 
 
"It seems to me that the natural world is the greatest source of excitement, the greatest source of visual beauty, the greatest source of intellectual interest. It is the greatest source of so much in life that makes life worth living." 
                                                                                          - David Attenborough
  Na minha visita ao Vale Ourika, durante a viagem a Marrakech, passei pela paisagem da primeira foto de carro e pensei imediatamente para mim "Preciso de a fotografar no regresso". Assim o fiz. Ao voltar aquele lugar e ver como a luz, as nuvens, o nevoeiro e os picos nevados se alinhavam numa tensão perfeita senti-me como alguém que após uma longa viagem, chegou a casa. Tirei a minha fotografia e voltei para o riad.
 
  Só dias mais tarde, já em casa, é que liguei o computador e voltei a ver a imagem. E o sentimento de quem encontrou o sítio onde pertence voltou, como se as montanhas estivessem de novo à minha frente e o ar cheirasse a eucalipto e óleo de argão. Foi isto que me fez perceber realmente o poder da imagem. Uma imagem vale não só mil palavras, mas também um universo de sensações, memórias e direções. Esta fotografia despertou em mim as memórias de sempre nos domingos de manhã a ver a BBC, completamente absorvido pela voz do senhor que me fez querer ser biólogo, David Attenborough. Mostrou-me que de facto é possível capturar imagens tais que fazem alguém sentir o que está nelas como se as tivesse penetrado e o seu conteúdo fosse a sua realidade. 
Alto Atlas, Vale Ourika, Marrakech | 04/03/2019
Nikon D3400 | Nikkor AF-S 18-55mm f/5.6
  A quase-epifania que tive graças a essa imagem trouxe-me garantias quanto ao futuro, baseadas no meu passado. Quando era pequeno e via os programas da BBC dizia à minha mãe que quando fosse grande queria ser desenhador de animais. Mal ela sabia que tal profissão existe mesmo. Anos mais tarde descobri a fotografia e tudo mudou. Uma fotografia é, ao contrário de uma ilustração, uma imagem que, por mais carácter pessoal que lhe seja conferido, representa a realidade. E é ai que está o seu poder. A fotografia choca porque é real. Move-nos porque é real. Toca-nos porque é real. Foi esta realização e a paixão de sempre pelo mundo natural que já há muito tempo se namoravam e, no momento em que revisitei a fatídica fotografia, se uniram definitivamente.
 
"The question is, are we happy to suppose that our grandchildren may never be able to see an elephant except in a picture book?"
                                                                                         - David Attenborough
 
  Algo que o confronto com a imensidão da Natureza nos ensina é o quão pequenos e impotentes somos e, por isso, sei que, sozinho, a minha vontade é inconcebível. É necessário que as pessoas se sensibilizem para o problema que enfrentamos e que se unam para o tentar solucionar. O que me move é mesmo isso. É a vontade inexplicável, quase uma necessidade, de capturar toda a majestosidade do mundo natural através da minha lente e de o partilhar com o mundo. Mostrar-lhe o tesouro que estamos a perder e que, em breve, não passará de uma memória, a não ser que a humanidade mude. Aquilo que me chama é salvar o planeta. É aliviar o Atlas.
Titã
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