. de partida
 
 
 
 
Avô a dormir, Casais do Peral, 2011
 
 
Praxe de estudantes, Saldanha (Lisboa), 2012
 
 
Observador, Murteira (Cadaval), 2012
 
 
Amanhecer, Almeirim, 1 de Janeiro 2013
 
 
Avó na piscina velha, Casais do Peral, 2012
 
 
Flores em campa recente, Cemitério do Cadaval, 2013
 
 
Laura com espelho, Almeirim, 2012
 
 
Crisálida de uma borboleta-zebra (Iphiclides feisthamelii), Borboletário no Jardim Botânico de Lisboa, 2013
 
 
.de partida
 
Era inverno. Fui vê-lo de manhã, ainda de pijama. Não deu pela minha entrada no quarto. Dormia. Tinha uma respiração pesada mas tranquila. Sentei-me na cama ao lado da dele e fiquei a olhá-lo em silêncio. Depois fotografei-o. Foi a última vez.
Como se não se importasse, a cerejeira voltou a florir na primavera.
 
Fotografei-o pela última vez naquele dia em que o fui ver de manhã ao quarto dele. A fotografia ficou guardada no arquivo desde então. Meses depois voltei a pegar-lhe e ela acabou por ser o ponto de partida para o meu projecto.
. de partida não pretende ser um trabalho sobre a memória ou a saudade, foi antes uma forma de transformar uma partida num ponto de partida. Assim, “Avô a dormir” faz a abertura para um discurso sobre a efemeridade da vida. Toda a vida é composta por ciclos. Sejam eles mais globais, como os históricos ou os da natureza, ou mais individuais e breves como o ciclo menstrual de uma mulher, um (des)amor, ou um amanhecer. Tudo está sujeito a uma constante mudança. Um tempo, que sabemos à partida finito, que não pára nem volta atrás. O nosso corpo e a nossa identidade transformam-se. Meninas tornam-se mulheres. Mulheres tornam-se corpos cansados e gastos. Momentos tornam-se memórias e memórias                 transformam-se em esquecimento. Todos fazemos parte deste ciclo, interrompido de uma forma definitiva apenas pela morte, para continuar novamente, numa memória ou numa eventual outra forma de vida.
. de partida reúne assim um grupo de fotografias que representam fragmentos de ciclos tão banais (e belos exactamente por isso mesmo) quanto um jovem pinheiro no orvalho do amanhecer, flores frescas numa campa de alguém que faleceu recentemente, ou uma menina-mulher com um espelho em busca da sua identidade. O próprio título do projecto é em si uma ironia, uma vez que o ponto final implica um fim e a palavra “partida” sugere uma ideia de movimento e ida.
Francesca Woodman, Garry Winogrand, Joel Meyerowitz, Nan Goldin, Sophie Calle, Marina Abramovic, Peter Fischli & David Weiss e Wolfgang Tillmans, são alguns autores de referência com os quais me identifico e que inspiram o meu trabalho. Igualmente influentes são os escritos de Kafka, Milan Kundera, Albert Camus, Baudelaire e Fernando Pessoa (entre outros), o recente filme “Amour” do realizador Michael Haneke, como também o período da Renascença (séc. XVI e XVII) e em particular o género vanitas, na pintura, pelas suas alusões à efemeridade da vida e à inevitabilidade da morte.
                                                                                                                                                                                               Joana Simões
Instituto Português de Fotografia, Lisboa, 2013
 
 
Agradecimentos: Prof. Armando Caseirão pela disponibilidade; Carlos Baptista Santos do Museu Nacional de História Natural pela gentileza e disponibilidade; Ana Sofia Leitão e Adriana Galveias do Borboletário do Jardim Botânico de Lisboa; Laura Simões, Luísa Pinela, João Teixeira, Inês Aragão e Federica Lupati pela ajuda e paciência.
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