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Texto | Quando o Twitter fez Bruna Marquezine mudar


Quando o Twitter fez Bruna Marquezine mudar

Por Camila Meira e Vitória Brunini**

**Publicado originalmente em: https://medium.com/revista-bem-te-vi/deus-salve-o-rei-o-caso-bruna-marquezine-e-a-for%C3%A7a-da-cr%C3%ADtica-feita-pelo-p%C3%BAblico-fb85ce5c6401



Quando falamos sobre a relação entre televisão e internet, é fato que ambas se influenciam mutuamente. A internet ampliou de forma significativa as possibilidades de interação da audiência, tanto entre si, quanto com as emissoras de TV. Debates, que antes quase se restringiam às salas das casas, passaram a incluir números radicalmente maiores de pessoas, e a acontecer em velocidades nunca vistas antes.

As consequências dessas novas formas de interação não se restringem ao telespectador, mas atingem também o produtor do conteúdo. Deus Salve o Rei, novela atualmente exibida pela Rede Globo na faixa das 19 horas, é um exemplo disso. A obra escrita por Daniel Adjafre estreou no dia 9 de janeiro de 2018 e, desde então, tem passado por altos e baixos. As ações de lançamento da Rede Globo foram grandiosas — com direito à pré-estreia nos cinemas de diversas cidades do país, o que no âmbito das telenovelas nunca havia sido visto anteriormente.

Mas a grande jogada da empresa foi parte do seu elenco: Bruna Marquezine, Marina Ruy Barbosa e Tatá Werneck, atrizes que estão entre os 10 perfis brasileiros mais seguidos no Instagram. A junção das três globais parecia uma jogada de marketing boa e muito intencional, deixando o público com altas expectativas.

Entretanto, no decorrer da novela, nem mesmo estrelas com forte presença na internet conseguiram salvar o seu baixo desempenho. Devido a isso, a produção passa por mudanças tanto em seu conteúdo quanto em seu elenco criativo. Mas, para além da trama, o baixo sucesso da telenovela também surgiu a partir da atuação do elenco; em especial, da atriz Bruna Marquezine. Nas redes sociais, principalmente no Twitter, a vilã Catarina, interpretada por Bruna, foi alvo de grandes críticas e memes devido ao modo mecanizado no qual a personagem foi desenvolvida.


Os diversos comentários negativos surtiram efeito. Inicialmente, o diretor da novela, Fabrício Mamberti, disse que a interpretação feita pela atriz era intencional, pois acompanhava o momento frio e amargo vivido pela personagem. Tanto que publicou em suas redes sociais mensagens defendendo e elogiando o desempenho de Bruna Marquezine. Mas a justificativa não convenceu o Twitter: as críticas e memes vieram acompanhados de uma audiência cada vez mais insatisfeita.​​​​​​​

Com as críticas crescendo, no início de fevereiro, o alto escalão da Rede Globo decretou que o diretor fizesse mudanças no desenvolvimento da novela — o que incluía, principalmente, um tom mais realista e natural na atuação da atriz. Depois disso, para algumas pessoas, a mudança no tom de voz da personagem é singela, mas perceptível. Ainda muito se questiona sobre a aceitação do público quanto às mudanças feitas pela novela.​​​​​​​

O que antes parecia não abalar as cabeças criativas da novela, hoje foi imposto pela grande chefia à emissora. As reclamações feitas pelo público não demoraram pouco mais de um mês para serem colocadas em discussão na emissora. Os efeitos da social TV — a utilização das redes sociais enquanto se assiste ao conteúdo televisivo — e da convergência midiática se mostram presentes, uma vez que o público não só reivindica sobre, mas também produz conteúdo. Os memes sobre a atuação de Bruna são exemplos disso.

Um parêntese: quando falamos sobre convergência midiática, nos referimos ao fluxo de conteúdos a partir de diferentes plataformas. Esses conteúdos se complementam e se reinventam por meio das particularidades de cada mídia. Mas, é importante ressaltar que o fenômeno da convergência midiática só é possível através da apropriação que as pessoas fazem das novas possibilidades tecnológicas. Portanto, não se limita à existência da internet, mas sim ao uso que é feito desta.

Já existia participação antes da internet

É interessante observarmos que, antes mesmo do intenso uso da internet, muitas demandas feitas pelo público já haviam sido atendidas pelas produções televisivas. Em Por Amor, novela exibida entre 1997 a 1998, inicialmente, a personagem Eduarda dividiu a opinião do público, o qual ainda estava explorando o início da internet comercial brasileira. Ao longo da história, a protagonista vivida por Gabriela Duarte se mostrou muito mais do que uma garota arrogante e mimada — cativando grande parte do público. Consequentemente, Manoel Carlos se viu “obrigado” a mudar o desfecho da trama: o autor planejava matar Eduarda, mas com a simpatia da audiência pela personagem, ela teve um final feliz. E podemos ir até um pouco mais longe: Cuca Legal, de 1985, não agradou o público que, de tanta crítica, fez com que a novela tivesse sua história encurtada.

As audiências se mostram cada vez mais importantes na definição do rumo das tramas. O episódio de Bruna Marquezine em Deus Salve o Rei é apenas um dentre os diversos casos que exemplificam o empoderamento do telespectador, que também participa do processo de produção. A Internet se tornou uma importante ferramenta neste sentido. E, dependendo da disposição das grandes produtoras de conteúdo televisivo e da demanda da audiência, esta produção colaborativa pode ser ainda mais intensa com o passar do tempo. Aguardemos os próximos capítulos.

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Texto desenvolvido para a revista Bem-te-vi, plataforma digital do COMCULT / UFMG (Grupo de Pesquisa em Comunicação e Cultura).

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