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Jornalismo cultural na era digital

O que as mídias independentes podem nos ensinar sobre as novas formas de produzir conteúdo na internet?
Por Erika Paixão e Juliana Martinelli

Durante o século XX, o jornalismo cultural brasileiro floresceu. Publicações ousadas nasciam e novos formatos para além da crítica de arte foram explorados. A revista, neste período, é um dos principais formatos de divulgação dos trabalhos de artistas nacionais e vinham repletas de reportagens, ensaios, entrevistas e resenhas. Do final da década de 90 pra cá, quase tudo mudou — o mercado editorial não é mais o mesmo por causa da internet. Se, por um lado, ela foi capaz de encurtar distâncias e trazer notícias frescas ao país ao alcance de um click (coisa que não era possível há 20 anos atrás, por exemplo, já que muita parte da cobertura internacional era pautada por revistas estrangeiras), por outro, ela obrigou o jornalismo a se reinventar para continuar relevante, confiável e, principalmente, rentável.
Talvez esse seja um dos períodos mais difíceis para ser produtor de conteúdo, ao contrário do que pressupõe a lógica. Isso porque, um bom jornalista cultural precisa não só ter amplo domínio das novas redes de comunicação e streaming como Twitter, Facebook e Spotify, mas também saber reconhecer o que é verdadeiro e falso no mar de informações que circulam nas redes. É preciso ter refinamento, ser crítico e ainda estimular a venda de páginas ou o número de acessos nos portais de notícias. Outra coisa que pesa contra a maré é a pressão para massificar a produção, baixando o nível de complexidade daquilo que é divulgado.
Apesar dos pontos negativos, também é preciso olhar para o que a internet trouxe de novo e de bom para o profissional de mídia. Enquanto os veículos brasileiros seguem patinando na busca por assinantes, o New York Timesprova que bons conteúdos atraem leitores e que um bom relacionamento com esses leitores podem fazê-lo ficar. No quesito inovação, as mídias alternativas e de nicho parecem estar ainda mais à frente. Mas, como? O que vamos chamar aqui de “jornalismo nerd” está crescendo cada dia mais; menos por conta do jornalismo e mais por conta do “nerd”, ou seja, do tipo de informação que é entregue ao público. Veículos como Omelete e Jovem Nerdalém de publicarem notícias sobre esses temas, lançam vídeos no Youtube, possuem suas próprias lojas (Mundo Geek, Nerd Store, Omelete Box) com produtos sobre filmes, séries, livros, HQs e games. O Omelete trouxe ainda o maior evento de cultura pop do mundo para o Brasil, a Comic Con, enquanto que o Jovem Nerd é pioneiro e responsável por um dos maiores podcasts do país, o NerdCast.
As notícias são parte importante do trabalho dessas mídias, mas elas não esgotam aí. A fórmula secreta, então, é parar de reduzir a informação a apenas um texto ou uma reportagem e procurar expandi-la da melhor forma possível. Um bom exemplo é o filme Vingadores: Guerra Infinita: ao mesmo tempo em que os sites tradicionais se limitam a falar sobre os recordes de bilheteria, o canal do Omelete já tem dezenas de vídeos sobre o assunto e o NerdCast já publicou um episódio de quase 2 horas sobre o hype do filme, só para começar a contar as diferenças.
A comparação não se torna tão justa se levarmos em conta que os dois veículos analisados só falam de cultura pop, ao passo que as mídias tradicionais precisam abordar todos os assuntos da atualidade, de cultura a economia, de política a esportes. Porém, a questão não é copiar o que eles estão fazendo, e nem abandonar velhos hábitos por completo, mas sim seguir os exemplos de outros canais de informação sobre o que está dando certo. Explorar os assuntos em novos formatos digitais parece ser o novo jeito de se fazer jornalismo. É claro que essas novas mídias não são perfeitas, há diversos problemas como a parcialidade e o uso da informação para auto divulgação, entre outras coisas. Mas o fato é que está dando certo e que de algum modo, eles estão conseguindo passar suas mensagens para milhares de pessoas. Eles talvez, tenham encontrado uma fórmula de sucesso e cabe aos veículos tradicionais fazerem o mesmo, buscando a reinvenção dentro de um mercado em constante mudança.

Link para a matéria original: https://medium.com/singular-plural/jornalismo-cultural-na-era-digital-1b0554313ce8
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