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Nossa Senhora do Rosário Church - Luíz Cunha

Igreja da Nossa Senhora do Rosário - Luíz Cunha (1964/65)
Nossa Senhora do Rosário Church - Luíz Cunha (1964/65)
 (LUIZ CUNHA \\ ARQUITECTURA E ARTES PLÁSTICAS 1957/2011)
 Luíz Cunha, arquitecto português, professor catedrático do ISCTE - Instituto Universitário de Lisboa, jubilado em 2004, foi homenageado com uma exposição sobre a sua obra urbanística, arquitectónica e artística (entre 1957-2011)
 
 (LUIZ CUNHA \\ ARCHITECTURE AND FINE ARTS 1957/2011)
  Luiz Cunha, portuguese architect, professor at ISCTE - Lisbon University Institute, retired in 2004, honored with an exhibition of his urbanistic, architectural, artistic work (between 1957-2011)
Group Work
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(PT)

   Fruto da audácia reflexiva de Luiz Cunha, arquitecto responsável por muitas das igrejas construídas em Portugal nas últimas décadas do séc. XX, existe em Fátima uma das igrejas que constitui um marco na história da arquitectura religiosa portuguesa da época contemporânea. Construiu-se em Fátima, sob traça do arquitecto Luiz Cunha, aquela que poderemos classificar como a primeira igreja de betão aparente em Portugal, acontecimento extraordinário por operar a exaltação do referido material rompendo com as fronteiras arquitectónicas e estéticas que até então vigoravam. Subjacente à obra construída encontrava-se uma maturação de ideias que tinha em conta os ventos conciliares que, à data do Projecto agitavam a vida eclesial.
   A igreja intitulada de Nossa Senhora do Rosário fora edificada para servir a comunidade de frades do convento dominicano de Fátima. Como qualquer plano arquitectónico, assumia condicionantes que seria necessário ultrapassar, como o irregular desenho do terreno e a necessidade de se agregar ao convento preexistente, para além da dificuldade inerente a qualquer templo de uma comunidade religiosa aberto aos fiéis. Luiz Cunha ultrapassa tais dificuldades, assumindo que elas fariam parte efectiva do plano que queria traçar. Assim, sem desperdiçar qualquer porção de terreno, risca o perímetro da igreja em coincidência com os limites do terreno disponível e vai harmonizar nessa planta irregular que lhe coubera, dois espaços distintos inscritos numa forma aproximadamente trapezoidal, ambos em posição de convergência em relação ao altar: um destinado aos frades e outro aos fiéis.
   No centro da composição arquitectónica encontra-se o que a Igreja assume como centro de qualquer celebração eucarística: o altar. No entanto não se trata ainda de uma igreja de planta centralizada, pois o Concílio Vaticano II decorria simultaneamente com as obras da igreja, sendo o projecto anterior a essa data, mas já se começava a pensar os espaços sagrados de maneira diferente. Só após o concílio se começou a desenhar as igrejas com a planta centralizada, para aproximar os fiéis do celebrando, um pouco ao estilo bizantino. Em redor deste altar constrói-se uma casa cuja planta se decompõe num grande recinto da assembleia dividida pelo altar em duas zonas (a dos fiéis e a dos frades), apresenta uma entrada com pequeno átrio, uma capela do Santíssimo Sacramento, zona de confessionário e um amplo espaço destinado ao coro de frades. 
   Tudo concorre para a enfatização da grande mole de pedra que constitui o altar. As divisões em planta e os desníveis do pé-direito das diferentes zonas do recinto de oração acentuam o altar. Os jogos de iluminação cujas fontes se situam, quer na cobertura do templo, com a inclinação dos tectos pelo progressivo aumento da altura das vigas em função do proporcional aumento dos vãos sobre os quais estão lançadas, quer nas paredes pelas próprias formas das aberturas da fenestração, cuja medida cresce ritmadamente de tamanho em ordem ao centro onde se encontra o altar, estabelecem uma hierarquia dos elementos arquitectónicos que conduzem o fiel para esse ponto que se quer enfatizar. Os próprios materiais que “revestem” os espaços, as colorações das diversas zonas, utilizando somente o branco e a cor natural do betão, e até mesmo a discreta presença das imagens de Nossa Senhora do Rosário de Fátima e de São Domingos (fundador da ordem dominicana) são feitas de metal de forma a (aparentemente) se fundir com a cor do betão, perdendo protagonismo para acentuar a importância da pedra do altar.
   Na inovadora configuração que apresenta em planta e alçado, Luiz Cunha não relega para plano inferior antigos elementos construtivos da arquitectura sacra: simula na porta de entrada dos fiéis um vitral colorido, aludindo aos vitrais utilizados na arquitectura religiosa europeia dos sécs. X e XI e desenha um “campanário como dimanador de luz”1 sobre a zona do altar, para realçar a zona central da nave onde este se insere. 
   Luiz Cunha não menosprezou nenhum pormenor e colocou enlevo na qualidade do mobiliário litúrgico do templo (altar, ambão, castiçais, sacrário, cruz, candeeiros, confessionário e demais esculturas…). Insistiu que o espaço da capela do Santíssimo Sacramento fosse valorizado com o “cunho pictórico de um dos maiores autores de arte sacra do séc. XIX”2 e ao consegui-lo, fez da capela do Santíssimo Sacramento um dos locais mais “sui generis”3 da arte sacra em Portugal, aliando modernidade arquitectónica a modernidade pictórica. 
   De modo geral, a igreja reflecte o resultado da procura de uma certa sobriedade em todos os pormenores, de modo a obter um aspecto final de dignidade austera que exprima o modo de viver daqueles a quem a obra se destina.

 
Nossa Senhora do Rosário Church - Luíz Cunha
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Nossa Senhora do Rosário Church - Luíz Cunha

(Biografia) Luiz Cunha nasceu no Porto a 14 de Abril de 1933. Licenciou-se pela Escola Superior de Belas Artes do Porto (ESBAP) em 1957, com a cl Read More

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