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Seven views of Mount Fuji - Japan

Sete vistas do monte Fuji
富士山

Apenas agora olhando essa foto que consegui identificar de forma certeira oclima de uma outra época. O mundo que é deslumbrante só quando bem sonhado, e tenebroso quando não é possível identificar nem uma fibra vibrante em sua consistência. Mas isso eu mal desconfiava. Para mim foi assim. Para alguns é o oposto. Uma odisséia foi completa para essa foto, e o meu cosmos mudou. Agora já posso fotografar uma versão nova em 2027, e o único artigo idêntico é a neve no topo.
Confesso que estava ansioso de como o dia iria amanhecer, afinal, era o último dia em Tóquio e a noite foi chuvosa, e ir até o lago Kawaguchi e encontrar o monte Fuji encoberto pela nebulosidade seria decepcionante. Mas a noite mal dormida me fez ver os corvos granando no cemitério atrás do meu quarto e os primeiros raios de sol do dia. Um bom sinal.

Meu primeiro contato com Fujisan foi no longínquo ano de 1990, quando num jogo de cartas me perguntaram "qual a montanha mais alta do Japão?" e eu sem vacilar disse: Monte Fuji. Acharam que tinha roubado e invalidaram minha resposta mas não tinham ideia que todo dia indo pra escola eu parava em frente ao muro do colégio Arquidiocesano com a pintura do vulcão todo imponente com nuvens ao redor. Entrava em transe. Acordava. E seguia meu caminho até a escola pública pra entrar em transe novamente.

O vulcão mais alto do Japão com 3.776 metros de altitude faz parte do Parque nacional Fuji-Hakone-Izu, onde existem cinco lagos que o rodeiam e o Kawaguchi foi o meu escolhido por ser o trajeto mais rápido e de fácil acesso. A viajem leva cerca de 2 horas e tem partida da estação Shinjuku, no centro, onde é preciso pegar o trem da Chuõ Line até a estação Õtsuki. Se alguém ler isso e pensar fazer esse trajeto algum dia é a hora de comprar um café gelado nas máquinas de bebida na pequena e simpática estação e pegar o trem local que é devagar até Kawaguchiko, o ponto final da linha. Nesse trecho já é possível ver a montanha de ambos lados do trem, fazendo companhia todo o resto da viajem.

Vagando pelas ruas o que se sobressai é ainda o clima bucólico com o fim do inverno, com a cidade vazia, pedalinhos largados sem clientes na beira do lago, restaurantes fechados, quase um vilarejo se não fossem os grandes hotéis prontos para receber turistas com a chegada do calor e lotar as bordas do lago Kawaguchi. Sorte. Procurei um bom canto pra sentar, abri o saquê e peguei os sashimis comprados no Family Mart e aproveitei a refeição notando toda sua simplicidade e beleza. É como o seu local diário da meditação ou para se observar com fones de ouvido escutando seu álbum favorito. São os últimos momentos pra sequência de você ser sugado para um mundo de muito neon e pouca vida só para ser cuspido de volta para o sua cadeira do trabalho, desorientado.
Paz. Essa é a ordem da vez. É?

Espanque nossa pequena alma mas isso não é um relato de viagem.
Só faz com que eu me imagine morando no Japão dos anos 1990 e que a internet ainda nem chegou, o Super Famicon e os fliperamas ainda dominam tudo nas ruas de Tóquio. Sou feliz.
Todas as fotos feitas por mim com uma Pentax Me, Ilford Hp5 Plus 400
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