oito
vidas de um vestido
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Na mitologia grega, três moiras responsáveis por fabricar, tecer e cortar o fio da vida determinavam o destino de deuses e mortais. A plebeia, aprisionada numa alta torre, se viu condenada a tecer ouro a partir da palha, dizem os contos de fadas. Na narrativa bíblica, é Deus quem faz as primeiras roupas para o primeiro homem e a primeira mulher. Essas e outras histórias, sempre me fizeram enxergar o tecer e o criar como algo transcendental. Desse lado da existência, pessoas e ferramentas parecem carregar a aura de encantamento que elas lhes legaram. Uma roupa nunca é só uma roupa.
Ela sempre tem história.
O livro-reportagem "Oito vidas de um vestido" nasceu em 2017, como trabalho de conclusão do curso de Jornalismo na Universidade Federal do Ceará. A produção acompanha a história de uma peça de roupa — desde o nascimento da matéria-prima até o consumo do vestido em que ela se torna — e, nesse processo de equilíbrio entre a literatura e o texto jornalístico, narra histórias de quem faz parte dessa cadeia.
As páginas desse livro falam sobre pessoas que conheço desde a infância, sobre amigas de amigas e, ainda, gratas surpresas que a apuração me trouxe. Convidei-os para se tornarem personagens e conversei, por algumas horas, à respeito do trabalho, dos hábitos e das memórias de cada um, no ambiente de cada um. Nas entrevistas, que duravam, aproximadamente, duas horas e 30 minutos, enfrentei o desafio de ser três em uma: entrevistadora, fotógrafa e cinegrafista quando o tempo ajudava. Isa, Eliane, Marcelo, Maurília, Gorete, Larissa e Ruth dão vida (a própria vida) a sete dos oito capítulos. São eles: A alma; O corpo; A trama; O molde; A costura; O adeus e O depois.
Além da narração das histórias, há um segundo tipo de texto, destinado a compartilhar com o leitor as pesquisas simultâneas à escrita do livro. No projeto gráfico, esses textos foram diferenciados: se assemelham à colunagem característica dos jornais, e tratam de temas como agrotóxicos, design, transparência na moda, trabalho infantil, poluição por tecidos sintéticos, entre outros temas, com entrevistas e opiniões de especialistas. A distinção visual dos dois tipos de texto permite que o leitor identifique o trecho que está lendo e escolha seu modo de leitura.
O projeto gráfico foi idealizado para ser o mais limpo possível, servindo às informações apresentadas, de maneira simples e singela, assim como era a minha visão sobre o projeto. O espaço em branco foi bastante aproveitado para dar fôlego à leitura, que é imersiva e profunda. As fotos, sem legendas, contam uma narrativa própria, apresentando ao espectador aquilo que o personagem principal vê ao conhecer cada um dos sete personagens.
O "Oito vidas de um vestido" é fruto da pausa para pensar. Sobre produção, consumo, moda, valor, trabalho e justiça. É fruto de perguntas para as quais, talvez, ainda não há respostas. Mas se propõe a ajudar a refletir e faz isso ao mostrar aqueles que raramente são vistos nas roupas que produziram. Se as pessoas conhecerem, elas se importarão.
