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{Pornô Gráfico}

{Pornô Gráfico}
Introdução

Ao longo da história, a produção artística foi majoritariamente gerada por homens. Sob a égide do modelo ocidental de sociedade patriarcal, as mulheres tiveram pouco espaço para se tornar artistas, e as que conseguiram seguir essa profissão foram pouco valorizadas, obtiveram pouco reconhecimento.

Essa preponderância masculina impactou a representação da figura feminina na Arte, sujeitando a mulher a uma dicotomia: ora casta, pura e submissa, ora sexualizada e diminuída para satisfazer o olhar masculino através da sua nudez.

A partir do século XIX, algumas mulheres começaram a conseguir expor suas obras, recebendo algum reconhecimento. Na Semana de Arte Moderna de 1922, em São Paulo, as pintoras Anita Malfatti e Tarsila do Amaral exibiram suas obras e demarcaram sua relevância no meio artístico.

A luta feminina por igualdade de direitos civis, travada em momentos diversos em cada país, ganhou potência com a Revolução Sexual que, além de direitos iguais, reivindicou a independência para a mulher e o direito de livre expressão de sua sexualidade. Ao ganhar dimensão global, o movimento repercutiu no meio artístico, gerando investidas para que as mulheres ganhassem espaço dentro de museus e galerias, uma maior valorização da sua obra, e voz para reivindicar a ocupação de postos decisórios na alta hierarquia das instituições de arte.

Hoje o cenário demonstra ter evoluído com o reconhecimento de nomes como Yayoi Kusama, Yoko Ono, Marina Abramovic, Louise Bourgeois, Rita Ackerman, entre outras. No entanto, há muito ainda por ser conquistado. As Guerrilla Girls apontaram que, no Metropolitan Museum, em Nova Iorque, 3% dos quadros são de artistas mulheres, mas 83% dos quadros que retratam nus, têm como figura a mulher.
No Brasil, em 2017, irrompeu um movimento conservador que teve poder suficiente para censurar exposições como a Queermuseum, no Rio Grande do Sul. No Rio de Janeiro, a exposição que seria exibida no Museu de Arte do Rio foi censura pelo Prefeito Marcelo Crivella. Houve também o caso de uma mostra que fazia parte da programação “Outubro da Diversidade”, que ocorreria no Castelinho do Flamengo, cuja censura não foi explícita mas se efetivou pela desculpa dada pela Prefeitura de que haveria ocorrido uma pane elétrica no local às vésperas da inauguração da mostra, fato que se revelou mentiroso por óbvias evidências.

Movida pela questão e pelos fatos perturbadores que presentemente a evidenciam, me decidi por desenvolver uma peça gráfico-editorial sobre o tema. 

Optei por reproduzir obras de ilustradoras como modo de reconhecimento de um oportuno posto para a expressão de seu poder de decidir sobre como quer representar a sua própria sexualidade e nudez, o que se revela muito distante do modo como os homens representam o feminino. Posto este em que o erotismo e a pornografia são assumidos por outro protagonismo: o das protagonistas. Em adição, realizo interferências nas mesmas obras com o intuito de refletir sobre as prováveis motivações, princípios e finalidades do ato de censurar. Procuro questionar e transgredir a noção de proibição, potencializando efeitos que demonstram o seu autoritarismo e sua obviedade. 

(texto escrito com a colaboração da professora Cristine Nogueira)
Resumo do processo de pesquisa para o desenvolvimento e embasamento do projeto
Linguagem para o título, brincando com o jogo de palavras pornôgráfico, separando-a em Pornô e Gráfico, sintetizando o projeto gráfico desenvolvido no livro sobre ilustrações eróticas e pornográficas e as tarjas de censura.

A tipografia utilizada foi a Javanese Text
Layout da página de introdução, que se repete nas primeiras páginas das diferentes partes do livro.

A tarja preta cobrindo parcialmente a palavra (que se revela com o negativo) e se estendendo por toda altura da página faz alusão ao uso das tarjas de censura desenvolvidas exclusivamente para cada ilustração.
Curadoria das imagens com a tarja de censura aplicada e os nomes das suas respectivas ilustradoras.
{Pornô Gráfico}
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