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- LIVRO DE ARTISTA - PRIMEIRAS REFRÊNCIAS

LIVRO DE ARTISTA
A fim de compreender e apreciar um livro da velha arte é necessário lê-lo completamente. Na nova arte, frequentemente não é preciso ler o livro todo. A leitura pode parar no exato momento em que se entendeu a estrutura total do livro. (Ulisses Carrión)

Esta citação pode consegue alcançar uma amplitude de significados. Podemos considerar um livro de artista um caderno de anotações (como os cadernos de Leonardo da Vinci, do século XV), ou os cadernos de esboços (como os cadernos de viagem ao Marrocos, de Eugène Delacroix, do século XIX). Mas, a partir da segunda metade do século XX, o livro de artista entrou para as Artes Visuais como um objeto ainda mais específico.

Segundo Stephen Bury (1995), “livros de artista são livros ou objetos em forma de livro; sobre os quais, na aparência final, o artista tem um grande controlo. O livro é entendido nele mesmo como uma obra de arte. Estes, não são livros com reproduções de obras de artistas, ou apenas um texto ilustrado por um artista. Na prática, esta definição quebra-se quando o artista a desafia, puxando o formato livro em direções inesperadas”. Büchler (1986) dá-nos ainda outra definição: “…Book art pode ser vista como uma arte de ação, uma espécie de happening ou teatro, considerando a situação em que o trabalho é experienciado, e que exige a participação do leitor. O livro fica no centro da tal situação, mas a experiência da situação é controlada pelo leitor.”

Em suma, o livro de artista é um objeto de arte que fala por si mesmo, podendo extrapolar , inclusive, o próprio conceito de “livro”, não necessitando de serem lidos para serem compreendidos — na verdade, a leitura deve ocorrer na estrutura geral do livro, e não pelo seu texto. Em sua grande maioria, os livros de artistas são objetos de experimentação, podendo conter múltiplos discursos e poéticas. Censored book, de Barton Lidicé Barnes, por exemplo, é um livro amarrado com corda, pregado, engessado e pintado, impossível de ser aberto. Outro exemplo é o The book of hair, de Joni Mabe, que consiste numa caixa e um livreto contendo mechas e tufos de cabelo da artista, transportando à obra um elemento pessoal e por ora íntimo.
Muitas vezes, essa “arte ao alcance das mãos” visa despertar uma estranheza ao leitor-espectador, despertando-lhe outros sentidos, muitas vezes diferentes das dos livros comuns. Nas palavras de Ludmila Britto,
O livro de artista seguiu o desejo das atitudes artísticas dos anos 1960 e 1970 de ampliar e buscar novos caminhos para a arte, questionando os espaços expositivos convencionais e propondo aos espectadores experiências estéticas sinestésicas que rompiam com uma contemplação restrita à visualidade vinculada aos espaços consagrados das galerias e museus. Além disso, os suportes tradicionais foram renovados (ou desmaterializados […]), seguindo o legado dumchampiano de questionamento do objeto-arte e dos espaços institucionais, este último como agente legitimador da arte.
(BRITTO, 2009)

Neste período de vanguarda artística, o livro de artista muitas vezes entra como um objeto de contestação política, como é o caso da obra Livro carne, de Artur Barrio, que consiste num livro com páginas de carne cortada — numa metáfora evidente à violência da ditadura militar brasileira.
O livro de artista também desafia as leis da era da reprodução técnica (mencionada por Walter Benjamin — 1955). Um livro convencional possui um certo número de tiragens, enquanto o livro de artista possui pouca tiragem ou, como é mais comum, ser representado apenas por um único exemplar, preservando uma certa autenticidade (embora não signifique que um artista não possa desejar uma maior tiragem de seu livro; isso irá depender das suas intenções sobre aquela obra, que pode muito bem possuir uma poética baseada na questão da reprodução, já citada aqui anteriormente, entre outras possibilidades de discursos que envolva a necessidade de uma distribuição ampla da obra).

No campo do design, um livro de artista é na maioria dos casos um objeto puramente experimental do designer, onde este busca testar seus conhecimentos de composições editoriais e habilidades de narrativa. Neste ponto entra novamente o já defasado embate entre design vs. arte, onde há um questionamento acerca da credibilidade de um livro de artista feito por um designer.
Mas até que ponto existe essa fronteira?
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BENJAMIN, Walter. A obra de arte na era de sua reprodutibilidade técnica.In: BENJAMIN, Walter (org.) Magia e técnica, arte e política. Vol. 1–8ª ed. Brasiliense. São Paulo, 2012.
BRITTO, Ludmila da Silva Ribeiro de. A poética multimídia de Paulo Bruscky. 2009. 220 f. Dissertação (Mestrado em Artes Visuais). Escola de Belas Artes da Universidade Federal da Bahia. Salvador, 2009. p. 134.
BÜCHLER, Pavel. Turning Over The Pages : Some Books In Contemporary Art. Kettle’s Yard Gallery, 1ª edição. Cambridge, England; 1986.
BURY, Stephen. Artists’ Books: The Book As a Work of Art, 1963–1995.Scolar Press, 1ª edição. Leicester, England; 1995.
NOTA: Este artigo não é original, serve como referência, sendo apenas alterado na sua composição gramatical para portugês de portugal (originalmente em português do brasil). O original pode ser lido em:
 https://medium.com/@mnvulpin/o-que-%C3%A9-um-livro-de-artista-54c256cd38a9
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