Começo - O começo real para qualquer ser humano, a vida intrauterina, que para a maioria não existe mistério, é um verdadeiro enigma para mim. Poucos sabem, mas durante a vida dentro do útero não só o que a mãe ingere é passado para o bebê, mas também o que ela sente. Todas as suas emoções o bebê sente e não sai ileso. O sentimento como a rejeição pode causar problemas psicológicos para a criança, por exemplo, a bipolaridade - e os filhos adotivos representam 10% desses casos.
Infância - Uma fase que tenho pouquíssimas lembranças, mas de um fato eu me lembro: as aulas de pintura com a vovó. No auge dos meus seus anos pintei um quadro de um cachorro, lembro dele com detalhes: fundo rosa, cachorro preto e branco com as orelhas grandes. Depois de pronto e vários elogios, tomei uma decisão: pintei o quadro inteiro de preto. Na época pouco se falava sobre transtornos psicológicos, então só acharam estranha a minha atitude. Nessa representação fiz em homenagem a minha companheira que faleceu, a Mel.
Descoberta - A minha dicotomia só foi crescendo, comecei a me descobrir na arte. Agora não vou me lembrar com tanta exatidão, porque minha memória ficou seletiva. Tenho minha primeira pintura corporal registrada em foto, em 2010, e isso começou a virar uma terapia, eu não me sentia bem ou me sentia bem demais, as tintas sempre estavam ali pra me ajudar a exteriorizar os sentimentos. Na faculdade de Artes Visuais conheci pessoas que me influenciaram a continuar nesse caminho, e no meu TCC me expus de carne e alma.
Lourdes, meu segredo. - Em 2016 completei 21 anos e a curiosidade sobre minha origem ficou grande, então fui procurar a única pessoa que conhece a minha história, Lourdes Belenda Pagano. Só tive contato com ela na minha infância, mas sua imagem era muito clara na minha mente. Talvez minha curiosidade nasceu tarde demais. Quando comecei minha busca, descobri que a vó Lourdes estava na UTI e duas semanas depois ela faleceu, levando consigo o começo da minha história. Tive o prazer de conversar com seus filhos e netos e descobri que eu e ela tinhas gostos parecidíssimos, como o amor incondicional pela arte. Então como forma de agradecimento quero viver o que a arte tem pra mim, assim como ela viveu.
Fragmentos - Não me resta muito mais a dizer, mas essa última imagem mostra quem eu me tornei, que sou a junção de fragmentos de outras pessoas, momentos, sentimentos, de várias Flávias. Eu não me encerro por aqui, para mim esse é meu quarto nascimento, e agora outros fragmentos serão adicionados e outras cores serão impressas na minha pele. 
Flávismo
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Flávismo

"Não nasci apenas uma vez, nasci três. A primeira foi quando saí de alguma barriga, a segunda foi quando cheguei para minha família, e a terceira Read More

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