A proposta deste trabalho consiste na valorização da música para a cidade de Salvador traduzida por meio de projeto arquitetônico que vise à melhor inserção do Museu da Música, no histórico Sobrado Azulejado. A edificação é um monumento tombado localizado na Cidade Baixa, em frente à Praça Cairu, no bairro do Comércio em Salvador.
A decisão deste equipamento em uma preexistência tombada ratifica a conexão música-história presente na cidade de Salvador, representando um local de vida e memória da música baiana e brasileira. A proximidade com o Pelourinho, torna o local excelente para o desenvolvimento musical e criativo, seja ele na rua ou dentro da edificação.
Os sobrados foram cotados para um hotel da rede Hilton, mas encontraram na música uma nova finalidade. A alteração do destino de hotel de luxo para museu de música representa uma questão importante enfrente o tema do patrimônio como política pública. Intervenções em centros antigos no mundo inteiro passam um grande risco de gentrificação quando os agentes hegemônicos apresentam dificuldade e/ou inabilidade de discernir entre os interesses da preservação/conservação e aquelas da reprodução do capital. Por isso o grande desafio do arquiteto é trabalhar um desenho onde existam efetivas preocupações com o patrimônio, sua preservação e seu uso tanto para a população local como para seus visitantes.
Nesta proposta foi substancial compreender e respeitar o histórico (ou o que sobrou dele) e saber remediar a liberdade artística e os anseios do mundo contemporâneo de forma que a nova proposta não atropele a antiga, descaracterizando o que restou dela. O interior do projeto apresenta maior liberdade criativa (visto que ambos os sobrados estavam descaracterizados internamente) buscando trazer uma experiência espacial ao museu capaz de surpreender seus visitantes e de ficar na memória das pessoas.
A concepção da proposta é inspirada em estudos e experiências de museus latino-americanos, principalmente o MASP em São Paulo (Av. Paulista, 1578 - Bela Vista, São Paulo - SP). A coleção do museu não é dividida em compartimentos estanques, isolando obras de um mesmo período ou gênero. Assim como a proposta de Lina Bo Bardi, buscou-se localizar em um único espaço obras de diversos períodos, sem divisões.
Museus se tornaram um símbolo contemporâneo de nossa cultura, aparecendo como solução em áreas e cidades diferentes e como um grande articulador de relações sociais. Cada vez mais os museus se distanciam do modelo tradicional europeu voltado para a conservação e buscam desenvolver o poder transformador da arte e uma interatividade com o público - de forma que este não seja um mero espectador, mas também participante.