Pão na chapa é um projeto de cunho social. Vivemos numa cidade demarcada e dividida geograficamente, separada por barreiras sociais e físicas, onde centralizamos a qualidade de vida e o acesso à cultura e lazer. Enquanto a zona sul e o centro da cidade desfrutam do acesso garantido à educação, lazer e qualidade de vida, zonas periféricas e marginalizadas se distanciam cada vez mais da realidade e passam a ter o alcance à linguagem acadêmica e o aperfeiçoamento e lapidação estética e teórica como um artigo de luxo. Todo esse distanciamento causa desnivelamentos e hierarquias que privam as pessoas prejudicadas por esse sistema e ˜empobrecem˜ culturalmente essa parte da população. Porém, acompanhando o crescimento das desigualdades geradas, está a busca e compreensão da identidade marginal e a criação de uma linguagem horizontal nas margens, possibilitando a teorização e o exercício do olhar crítico e estético às diversas formas de expressão dos subúrbios. A Autocompreensão das dificuldades e barreiras de afastamento fez com que o subúrbio criasse uma cultura baseado em vivências, rica em essência e transmitida de maneira única entre os moradores dessas regiões. O projeto tem como foco principal o mapeamento da cultura de resistência que há nas zonas norte e baixada, onde há desordem e carência de infraestrutura do Estado que, historicamente, não oferece os mesmos direitos igualitários a sua população. Em contrapartida, a desordem do sistema sempre veio como enfrentamento e apresentação desses corpos carregados de memória à cidade que exclui e faz estar incomunicável. Pão na Chapa será um provocador para que os artistas, críticos e teóricos de arte da região gerem projetos que conversem com suas vivências inseridas na cidade. O intuito de cada edição será produzir materiais ricos e lapidados em teoria e prática artística, feito por/para pessoas que vivenciam o subúrbio, mostrando o potencial crítico das áreas subjulgadas e desfavorecidas, independendo dos conceitos de construção teórica das grandes massas, centros e recortes que comandam e segregam o acesso a esse tipo de informação, centralizando um conhecimento regional necessário pra a construção social de cada indivíduo pertencente às margens sociais.