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Projeto - Memorial do Afeto

Partindo da pesquisa de formas de representação da morte através da fotografia, com o intuito tautológico, em que a foto, sendo ela própria a prova de algo passado, morto (1), represente, mostre explicitamente esse passado, essa qualidade do que não é mais, cheguei até os retratos tumulares, peças de porcelana que são afixadas em túmulos, com o retrato da pessoa falecida impresso à queima. São ao mesmo tempo uma homenagem e uma forma de eternizar a imagem desta pessoa.
 
A escolha pelas dedicatórias em livros de sebos se deu por estas representarem o fim de algum tipo de relação - sendo a dedicatória o oferecimento a alguém de uma produção artística. A partir do momento que este livro vai para o sebo, significa que algo se perdeu entre a relação dedicador (quem dedica) / dedicado (quem recebe a dedicatória). Por isso a escolha do nome “memorial do afeto”, onde memorial é um sinal de coisas ou fatos que conservam uma lembrança.
 
O desenho, a disposição das peças instaladas é uma referência às “joias de afeto”, peças de adorno produzidas com escumilha, que era trabalho de encordoamento de cabelos, trançados e amarrados, que se transformavam em resistentes e maleáveis fios grossos, arte fúnebre do séc. XIX (2).
 
Fritz Kempe se refere à fotogra a como “signo da presença imaginária de uma ausência definitiva” (3). ao mesmo tempo em que confiamos nossa memória à digitalização, vivemos a era do esquecimento. O excesso de informação e a rapidez da transmissão desta informação produzem um “desbotamento” do passado.
 
Morremos a cada imagem midiática. Sentimos falta do que não vivemos. E sendo órfãos de realidade, o realismo partilhado no espetáculo midiático é nossa única possibilidade de apreensão (4).
 
 
“Porque, numa sociedade, a morte tem de estar em qualquer lugar; se ela já não está (ou está menos no religioso), deve estar em qualquer outra parte. Talvez nessa imagem que produz a morte, pretendendo conservar a vida. ...uma espécie de mergulho brusco na morte literal” (Barthes:1980:130)
 

1 - BARTHES, Roland. A câmara clara. lisboa: edições 70, 1980
2 - http://www.dezenovevinte.net/obras/marijara.htm#_edn4, acesso em 10 de maio de 2012
3 - KEMPE, Fritz. in Kossoy, Realidades e ficções na trama fotográfica. Cotia: ateliê editorial, 2002. p.43
4 - TACCA, Fernando de. A morte fotográfica – ilusão, Violência e aporia autoral. Fotografia: Cultura e Comunicação, do iV encontro dos Núcleos de Pesquisa da Intercom (www.scielo. br/pdf/psoc/v17n3/a02v17n3.pdf, acesso em 28 de janeiro de 2012) 
Projeto - Memorial do Afeto
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Projeto - Memorial do Afeto

Projeto Memorial do Afeto 2012 impressão fotográfica à queima sobre porcelana 22,5 x 17 cm cada

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