BICICLETÁRIO PARA RECIFE | Concurso Projetar.org
Investir no planejamento e na transformação urbana tem se tornado uma necessidade cada vez mais urgente na realidade das grandes cidades. Dentro desse momento de transição, a mudança de prioridades deve se refletir nos modais de transporte, de modo a dar mais espaço para meios de locomoção sustentáveis. Também, com a ação conjunta de mudar a relação das pessoas com o espaço urbano, o usuário deixa de atuar como expectador, mas como componente integrante do espaço. A bicicleta concretiza a ideia da vivência do espaço na escala humana. O projeto proposto tem na implantação de um bicicletário na Praça Visconde de Mauá, em Recife, um instrumento para requalificação da praça como um todo e da região central da cidade.
Observou-se que atualmente a praça em questão apresenta um caráter majoritariamente de passagem, apesar de ser provida de um espelho d’água, árvores bem desenvolvidas e áreas gramadas, tais espaços estão isolados do usuário por uma grade, como um jardim particular que não pode ser inteiramente vivenciado pelos pedestres. Tendo isso em mente, foi tido como objetivo transformar o caráter da praça tornando-a apta à permanência e ao mesmo tempo explorando e respeitando o potencial do preexistente. O bicicletário não foi visualizado como uma estrutura isolada ou como o ponto central da praça, mas sim como um meio de trazer a conscientização do uso do espaço urbano, sendo um projeto totalmente integrado com a revitalização da praça.
Analisando o entorno da quadra foram considerados como determinantes a presença da Casa da Cultura, na face norte, e da antiga Estação Central Capiba, na face oeste, que atualmente é o Museu do Trem, e respeitando a ligação visual entre essas duas edificações o bicicletário foi posicionado no vértice a leste da praça. Também se notou como a praça é uma continuação natural do terreno da Casa da Cultura cortada pela Rua Tobias Barreto, e unindo as duas quadras como mostrado na proposta, transformando a rua em um calçadão para pedestres, se ganha uma ampliação do espaço aberto, tornando-o mais seguro para os transeuntes e mais acessível para os ciclistas, além de valorizar a própria Casa da Cultura, e sem prejudicar significativamente o fluxo dos carros, já que é apenas em uma quadra e a fluência dos veículos pode ser facilmente adaptada.
A partir da análise dos principais fluxos providos da intersecção das vias que compõe o perímetro da praça e de pontos de interesse do entorno foram traçados novos eixos de permeabilidade. Caminhos foram abertos por entre o espelho d’água existente criando fluxos que seguem também por entre a estrutura do bicicletário.
A estruturação formal do bicicletário permite flexibilidade com possibilidades de variação na sua implantação e já que seus blocos são retângulos simplificados e podem ser isolados, são de fácil replicabilidade para outros locais da cidade. No projeto em questão, a linguagem visual adotada no bicicletário extravasa da estrutura para a praça, se manifestando no desenho de piso e nos contornos dos canteiros. Juntamente com as funções do programa foi proposto em união com o equipamento um ponto comercial que funciona como um quiosque onde pode ser implementada uma floricultura, uma lanchonete, café, sebo de livros e periódicos, etc. Sendo assim um atrativo a mais para a praça e incentivando a permanência.
Atraindo mais pessoas para esse ponto focal na cidade também se potencializa seu entorno cultural. São pequenos projetos de urbanismo como esse que presenteiam os cidadãos com experiências urbanas mais completas e imersivas, os afastando da condição de meros expectadores e os aproximando da condição de experimentadores e vivenciadores da cidade.
Estudos de Fluxos e Usos: PREEXISTENTE / PROJETO
ZONEAMENTO FUNCIONAL
A recepção e atendimento acontece como um ponto central entre os demais blocos, de modo a permitir um controle eficiente por parte do funcionário responsável, tanto da sala de guarda de bicicletas quanto do uso dos vestiários e do módulo de reparos. Esse espaço é aberto dos dois lados, sendo fechado por folhas de grades de correr quando fora de funcionamento.
O bicicletário se dá em um volume de vidro na face leste, ao longo da calçada para a Rua Floriano Peixoto e serve como uma vitrine mostrando as bicicletas estacionadas aos pedestres que ali passam e revelando sua função.
O bloco sanitário que abriga os vestiários e os banheiros PNE foi resolvido de maneira simplificada - ao longo de uma única parede hidráulica se distribuem todos os equipamentos, inclusive os chuveiros e um bebedouro do lado de fora. Enquanto os vestiários estão direcionados para o bicicletário por serem destinados aos ciclistas, os banheiros se direcionam ao ponto comercial atendendo, a seus usuários e da praça como um todo.
O ponto comercial foi locado na extremidade do bloco por ser mais independente da administração do bicicletário e podendo assim atender à praça mais centralmente, atraindo mais usuários e incentivando a permanência.
Já a oficina aberta consiste na presença de um módulo para reparos de bicicletas, nele é possível apoiar a bicicleta para revisão, utilizar ferramentas e usar a bomba de ar para encher pneus. Tal módulo foi locado externamente, ao lado do espaço da recepção onde pode atender melhor a qualquer ciclista que passe pela praça, mesmo os que não queiram guardar sua bicicleta, sem atrapalhar a zona de atendimento.
IMPLANTAÇÃO
Implantar o bicicletário no canto da praça foi a maneira encontrada de facilitar o acesso dos ciclistas, sem colocar em risco os transeuntes e prejudicar a utilização e permanência no centro da praça, com o cuidado de separar o programa em blocos para não fechar o canto, garantindo um fluxo fluido e permeabilidade. Apesar de separado em blocos, o equipamento urbano funciona como um só elemento, sendo envolvido por uma estrutura de cobertura e podendo ser inteiramente fechado.
