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BRASIL EM CENA I (BRA/DE)

BRASIL EM CENA I
Futebol, alegria, samba e carnaval – são os tradicionais clichês relativos à cultura brasileira, dos quais
um alemão comum, grande apreciador de caipirinha, se lembra ao pensar no Brasil. Arte futebolística,
alegria de viver, escolas de samba e carnavalização são de fato conceitos básicos da cultura brasileira,
porém com uma dimensão e força muito maiores do que qualquer fantasia européia possa imaginar –
por unirem ou mesmo fundirem a ação social real ou seus reflexos, o processo artístico, elementos
populares e de elite, a massa e o indivíduo, o positivo e a crise – tudo com uma energia incrível.
Assim sendo, os brasileiros estão em alta na Europa e não apenas por causa do seu favoritismo na
copa iminente. O esporte mostra com uma clareza inédita quais mecanismos de defesa subversivos e
técnicas culturais as pessoas podem desenvolver no convívio diário com a pobreza, as diferenças
sociais e a violência. O Brasil é pioneiro na distribuição de riqueza real de baixo para cima e o
resultado desse desequilíbrio econômico é dinamite. Pioneiro também por indicar já hoje quais
alternativas, contra-estratégias e mundos paralelos podem existir, dentro em breve até mesmo para
nós, nessa Europa ameaçada pela globalização e tomada pelo medo.
Aproveitando a ocasião, Gilberto Gil, ministro da cultura, grande estrela da MPB e exponente maior do
tropicalismo, lançou uma “Copa da Cultura“ teuto-brasileira. Berlim será a principal cidade em que
acontecerá este encontro bilateral. Enquanto na “Casa das Culturas do Mundo” (Haus der Kulturen
der Welt) estiver sendo realizado um programa de dança e música no âmbito do festival ”In Transit“,
será promovido simultaneamente um festival com produções e performances teatrais contemporâneas
na casa de espetáculo Hebbel-Theater-am-Ufer ou simplesmente HAU (que já realizou dois eventos
dedicados à dança brasileira no âmbito do Move Berlim): é o BRASIL EM CENA - de 30.5.2006 a
7.6.2006. O programa, organizado por Ricardo Muniz Fernandes, Kirsten Hehmeyer e Matthias Pees, é
composto de oito encenações, nas quais os artistas e espectadores são confrontados com as
contradições e os encontros gerados pelas combinações entre mega metrópole e cidades do interior
bem como litoral e sertão.

Infelizmente não conseguimos, não temos uma forma acabada para a “peça das peças”, o conjunto
da obra, a tradição européia. O elenco admite, em pleno palco, o fracasso: virou uma mera colcha de
retalhos e, por isso, apenas mostraremos fragmentos de ensaios e tentativas da obra completa – eis o
que se explica logo após o início da peça de Enrique Diaz e sua trupe de sete atores da Companhia
dos Atores do Rio de Janeiro. Porém, desta forma eles talvez até conseguiram penetrar mais profundamente
no cosmos dessa obra e da sua figura-título do que se apresentassem ”Hamlet“ da maneira
tradicional. Nesse ensaio os atores se revezam pelos diversos papéis e posições, intervêm no desenrolar
da peça e expressam a sua própria opinião. Rainha e irmão da rainha, príncipe da Dinamarca e
espírito do pai, os cortesãos, Rosencrantz e Guildenstern, a enlouquecida Ofélia e Polônio liquidado:
apesar de ser praticamente impossível acompanhar todas as figuras pelos seus papéis durante toda
a apresentação, os atores da brilhante Cia. dos Atores do Rio os mantém vivos e “flutuantes” em uma
rede bem entrelaçada de desenvolvimentos e relações. E a alegação de ser um mero “ensaio de Hamlet“
se revela um understatement ou até um cavalo de Tróia.
Hamlet à brasileira não dança nem samba nem desfila num carro alegórico, mas é incorporado por
pessoas provenientes de uma cultura totalmente desencanada e aberta que sabem lidar com ela sem ter
de prescindir de melancolia ou pensamentos mais profundos. Teatro de nível mundial que simplesmente
contorna a exigência tão grandiosa quanto oca: realmente excelente. Após apresentações em Moscou,
Nova Iorque, Paris, Bogotá e Barcelona, agora, pela primeira vez poderá ser visto também na Alemanha.
Bel Garcia, César Augusto, Emílio de Mello, Enrique Diaz , Malu Galli e Marcelo Olinto – atores/Schauspieler;
César Augusto e Marcos Chaves – cenário/Bühne; Marcelo Olinto – figurinos/Kostüme; Lucas Marcier, Rodrigo Marçal, Felipe Rocha – Soundtrack; Maneco Quinderé – iluminação/ Licht; Made in productions/Morgane Bourhis – Produzentin für Europa; Cia dos Atores/Cucaracha Produções Artisticas – produção/ Produktion; Janaina Pessoa – Produktionsass. Berlin
Sponsors: Brasil Telecom, Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro (FATE), SESC Rio, La Ferme du Buisson - Scène Nationale de Marne la Vallée
and La Filature – Scène Nationale de Mulhouse. Enrique Diaz is an associate artist to Ferme du Buisson, Scène Nationale de Marne la Vallèe.
Cia dos Atores, in 2006, is sponsored by PETROBRAS.

O Agreste começa onde a costa fértil, porém estreita , do Nordeste brasileiro acaba para se transformar
lentamente na aridez do sertão. Uma paisagem de transição pedregosa, onde na medida em que
o solo vai secando as povoações, as riquezas, o nível de instrução e os vínculos sociais também vão
escasseando visivelmente, quilômetro após quilômetro, conforme vamos nos adentrando pela região.
Em português o adjetivo “agreste“ é relativo ao campo, sobretudo quando não cultivado, e significa
árido, selvagem e rústico.
O pernambucano Newton Moreno é um jovem autor cujo estilo poderíamos igualmente chamar de
“agreste“ – um estilo tão grandiloqüente quanto lacônico, usado para descrever de forma direta e
simples porém incisiva pessoas e paisagens aparentemente arcaicas, perdidas e ao mesmo tempo
protegidas na imensidão do nada, mas que mesmo assim não estão completamente fora da civilização e
das obrigações sociais como poderíamos julgar num primeiro olhar.
A peça ”Agreste“, baseada numa reportagem verídica, conta a história de uma mulher que após a
morte do marido descobriu que ele também era uma mulher. Márcio Aurélio, diretor de destaque
desde os anos 70 e professor de teatro na Unicamp de Campinas, encenou a montagem original do
texto com dois atores do sexo masculino.
Paulo Marcello, João Carlos Andreazza – atores / Schauspieler; Leopoldo De Léo jr. – direção de produção / Produzent

O Brasil é uma nação ligada à televisão. É o país onde nasceu a famosa telenovela, onde as redes de
televisão são mais poderosas que a maioria das suas congêneres ao redor do mundo.. Ali a TV fica
ligada 24 horas, despejando informações, sendo parte integrante da poluição sonora geral. Em todas
as suas performances o artista plástico mineiro, Marco Paulo Rolla, insere fenômenos do cotidiano,
levando-os ao extremo ou mesmo ao absurdo. Junto com a coreógrafa Dudude Herrmann ele apresenta
“Tanque“, uma novela curta que se desenrola literalmente no tanque de uma área de serviço. Vendo
televisão, lavando e torcendo roupa, cantando – assim o grande, vasto e dramático mundo chega a cozinha.
Dia 1º de junho ainda será apresentada outra performance de Marco Paulo Rolla chamada CANIBAL
na cafeteria de espetáculo WAU.
Brasil é uma nação de canibais. O canibalismo descrito por Montaigne no séc XVI, transforma-se em
antropofagia no séc XX, movimento artístico devorador de todas as fronteiras estabelecidas da arte. A
performance de Marco Paulo Rolla não fala destas leituras intelectuais e eruditas do ato de comer um
outro, mas da fantasia que percorre todas as cozinhas e imaginação brasileira, colocando o desejo
canibal, antropófago, no contexto banal de uma cozinha. Canibalismo em uma receita simples e
possível de ser realizada em forno doméstico, com poucos ingredientes: as fantasias dos brasileiros
sobre estes comedores de gente e a estética antropofágica, as imagens ainda presentes no europeus
destes Trópicos exóticos, perigosos e longiquos e os rituais cotidianos, monótonos e contemporâneos.
Canibal: Marco Paulo Rolla, Thelma Bonavita, Anderson Gouvea – corpos / Körper

Dois debates sobre o desenvolvimento político, social e cultural atual do país. Quais são as respostas dos intelectuais e artistas face à crise e à violência?

Os 20 anos de democracia só acirraram as diferenças sociais. Este dilema brasileiro constitui um elemento importante do diagnóstico do presente de Laymert Garcia, professor na faculdade de sociologia e filosofia da universidade de Campinas e um dos intelectuais de maior destaque do país, que analisa a crise brasileira como parte de um desenvolvimento mundial, no qual a economia e a tecnologia ficam desacopladas da política e da ética. Apesar da sua análise ser tudo menos otimista e ele também compartilhar a decepção dos intelectuais com o governo Lula, Laymert Garcia luta contra o conto da apocalipse, que nega a importância do fator político. “É possível pensar outros cenários.”


Em um segundo debate Anderson Sá esboça uma perspectiva a partir de um dos locais mais violentos do país, a favela Vigário Geral. Anderson é o protagonista do documentário “Favela Rising” que relata a sua vida: da perda do tio durante um massacre policial à ingressão na banda AfroReggae. O filme e a história de Anderson mostram como é possível trazer mudanças e encontrar alternativas num submundo dominado pela lógica perversa do conflito entre a polícia e o narcotráfico. A seguir, Anderson fala com Heloisa Buarque de Holanda, professora de crítica cultural na UFRJ, que estabelece uma ponte entre a universidade e as novas formas de resistência, manifestadas principalmente no rap e no hiphop. “Nos últimos 15 anos muitas coisas aconteceram. Na periferia surgiu uma nova dignidade. Estamos presenciando um momento incrível, repleto de novidades.” Anderson Sá e Heloisa Buarque de Holanda discutem novas formas de movimentos culturais e sociais no Brasil. Mostram a favela como um espaço de violência, mas também de criatividade, transformação e resistência.
Um espetáculo sobre o universo do Cavalo Marinho, um ritual tradicional do interior do estado de Pernambuco que envolve música, dança e transe composto por uma miríade de personagens e movimentos, acontecendo de uma forma sempre atualizada desde o século passado. Um Cavalo Marinho é um teatro de rua tradicional, uma brincadeira (como ele é chamado pelos que dele participam) onde toda a comunidade tem seu papel e função. Não se trata de uma apresentação para ser assistida como algo cristalizado e preservado no tempo e espaço, mas um jogo ritualístico sempre atualizado e completamente mixado com o dia a dia das comunidades onde ele ainda acontece.
Um Cavalo Marinho é um embate entre a dura realidade dos cortadores de cana da Zona da Mata norte de Pernambuco, sua difícil condição de trabalhadores rurais e a capacidade imensurável deles mesmos, como brincantes de cavalo marinho, reinventarem aquela realidade e amplificarem suas vidas. Uma festa desmedida contaminando tudo, onde setenta e tantos personagens surgem em uma performance sem um roteiro pré-estabelecido, mas como um diagrama composto pela fantasia e inventividade de seus participantes. Folia e trabalho misturados e varando as noites e os dias no meio dos canaviais. Juízo e fantasia girando no mundo.
Este Coletivo Pernambuco, é uma constelação de criadores intérpretes, provindos do cavalo marinho tradicional e artistas cujos trabalhos tem como suporte esta manifestação aberta e desmedida e nesta performance todos colocam em cena não o Cavalo Marinho possível somente naquele tempo e lugar, mas as suas várias aberturas para o mundo colocando em cena um pouco daquilo de que ele trata: é teatro, ritual, e documentário, pode ser um filme, uma coreografia, ou uma brincadeira.
“Cavalo Marinho Revisitado” é uma criação coletiva a partir do folguedo popular “Cavalo Marinho” realizado pelo grupo “Estrela de Ouro“ da cidade de Condado, no estado de Pernambuco e da obra “Brincadeira de Mulato” do Grupo Grial de Dança.

Intérpretes/Darsteller: Aguinaldo Roberto da Silva - integrante do Cavalo Marinho “Estrela do Ouro“; Sebastião Pereira de Lima (Mateus Martelo) – integrante do Cavalo Marinho “Estrela de Ouro“; Severino Alexandre da Silva (Mestre Biu) – integrante do Cavalo Marinho “Estrela de Ouro“; Fábio Soares - integrante do Cavalo Marinho „Estrela de Ouro“; Pedro Salustiano - bailarino e músico/Tänzer und Musiker; Helder Vasconcelos - bailarino e músico/Tänzer und Musiker; Cláudio Sérgio Ribeiro Corrêia - músico/Musiker; Maria Paula Costa Rêgo - bailarina/Tänzerin; Emerson Dias - bailarino e músico/Tänzer und Musiker; André Freitas – trilha sonora/Soundtrack - Agradecimento à / Dank an die Secretaria de Cultura do Governo do Estado - Fundarpe und an das Teatro Hermilo Borba Filho

Um arruma outro faz a limpeza. De manhã cedo no escritório, enquanto o faxineiro do serviço de limpeza noturno ainda não terminou seu expediente, um outro, do escalão intermediário, quer dar o jeitinho final para o grande golpe. Juntou maços de dinheiro na sua escrivaninha para viver bem pelo resto da vida. Uma boa parte da quantia poderia ser do varredor, se ele aceitar inverter os papéis. Ele assumiria a culpa do patrão, mas em compensação sua família ficaria bem financeiramente. O que de início parece um mero conto policial com troca de papéis em “O Assalto”, peça criada em 1969 pelo dramaturgo brasileiro José Vicente, vai evoluindo para um ensaio laboratorial de cunho sócio-emocional.
A questão - o que cada um de nós tem do outro em si – é levada ao extremo. O clima fica cada vez mais pesado, oprimente mesmo, onde tanto a sedução ao crime como a sedução sexual viram tema numa guerra psicológica bastante lúcida.
Quanta coação e sujeição requer a liberdade? Quão sem perspectiva é a saudade – se a polícia militar acaba por estar à espera na porta?
O próprio Zé Vicente travou experiências dolorosas com a PM. Nascido em 1943, o autor faz parte daqueles cuja vida e cujo trabalho foram destruídos pela ditadura. A montagem do “Teatro Oficina” é realmente um achado, pois essa história, contada apenas por homens, além de abordar as obrigações sociais de classe e poder ainda tematiza de forma ousada e inédita a sedução e o prazer. Com a ajuda dos protagonistas Haroldo Costa Ferrari e Fransergio Araujo, Marcelo Drummond, co-diretor do teatro em São Paulo, produziu uma farsa social tão crua quanto densa, tão contundente quanto estridente. Quem teve a oportunidade de conhecer os três na apresentação do teatro Oficina no outono passado no teatro “Volksbühne” vai certamente vibrar com o reencontro.

Haroldo Costa Ferrari, Fransérgio Araújo – atores/Schauspieler; Marcelo Comparini – cenógrafo/Bühnenbildner

O nome “3 de fevereiro” não provém de uma efeméride, ou da comemoração de alguma data oficial. “3 de fevereiro” é um dia qualquer para o brasileiro, uma data sem nenhum motivo para comemoração, um dia escolhido porque há três anos atrás, um homem, negro, foi morto pela policia nas ruas da cidade de São Paulo. A policia se defende afirmando ser ele um bandido, envolvido e morto em um assalto, todos os outros falam de inocência e preconceito. A partir desta polêmica, um coletivo de artistas de várias áreas, como vídeo, artes plasticas, dança, musica, teatro se auto denominou “3 de fevereiro”, e passou a criar e colocar na cena da cidade ações um tanto artísticas, um tanto políticaspoéticas que colocam em xeque os limites da violência cotidiana ,e a vigência de preconceitos raciais e sexistas em uma sociedade que se auto-denomina cordial e livre de preconceitos. Molecada cutucando com vara curta tocas de leão e vespeiros. Suas performances , conseguem revelar as regras e avessos do dia a dia e das muitas festas brasileiras. Ações misturando comício, baile, conferência, fazendo de aparentes nadas, campos de batalha. Um coletivo elástico, composto em seu núcleo por dez pessoas, mas capazes de envolver e tornar artistas cinco mil, nas suas performances de ruas e estádios. Mais do que ativistas, ou intervencionistas, são uma comitiva guerreira, um tanto liga da justiça, bloco de carnaval e senhores de terreiros. Fazem dos dias comuns, feriados. Transformam campos de futebol em tribunas e ágoras, desmontam a mídia e seus tantos truques e arapucas. Nesta performance Futebol eles discutem e revelam uma outra faceta desta arte e “monumento e orgulho brasileiro”. A partir dos jogadores e suas relações nos campos de jogo, eles trazem a tona uma imensidão de violência e preconceito. O campo é também um campo de guerra ideológico, econômico, e cultural. Um outro retrato histórico e poético do futebol, da condição do ser negro no Brasil, longe das sempre reiteradas perspectivas e interpretações lineares.

Baseado em entrevista de / basierend auf Befragung von Noel Carvalho; frente 3 de fevereiro: Achiles Luciano, André Montenegro, Cibele Lucena, Daniel Lima, Eugênio Lima, Felipe Brait, Felipe Teixeira, Fernando Coster, Fernando Sato, João Nascimento, Julio Dojcsar, Iramaia Gongora, Maurinete Lima, Pedro Guimarães, Roberta Estrela D’alva; músicos/Musiker: Daniel Oliva, Cássio Martins, Hilis Moraes, João Nascimento, Will Robson

Projeto comissionado por / Projekt im Auftrag von ASSOCIAÇÃO CULTURAL VIDEOBRASIL E GOETHE-INSTITUT RIO DE JANEIRO, 2005

O conceitual duo TETINE, criado em 1995 por dois paulistas radicados em Londres, Eliete Mejorado e Bruno Verner, criou uma mistura soberana de arte performática com música eletrônica numa fusão original e irreverente de tecnologia, cultura pop, som e imagem – além de instalações de filme e vídeo em galerias e desfiles de moda. Na música eles fazem uma incursão no ritmo agressivo do baile funk, transportando-o para seu Dub ”Punk Carioca“. A palavra chave do título do novo álbum L.I.C.K. my favela (Slum Dunk 2005) faz referência entre outros a Peaches e tem o típico swing brasileiro que vai além da marca de estilo de ”80’s hip hop in lo-fi blend”, ”90’s rave”, ”wobbly bhangra2, ”bruta detroit techno” e “Miami bass”.
O Deus das pequenas coisas parece gostar de brincar com abacates: Em todo caso, de vez em quando um dos abacates cai do céu e para quem tem o azar de estar embaixo pode ser fatal. Assim é a vida: ela pode literalmente cair na nossa cabeça e nos esmagar.
Grace Passô desenvolveu a sua primeira peça “Por Elise“ a partir de algumas cenas curtas do dia a dia – e a Cia. Espanca!, composta por seis cabeças, nascida desse trabalho em Minas Gerais é tida como uma das novidades da temporada, depois de ter sido convidada e premiada em praticamente todos os festivais de teatro no Brasil.
Encontros e desencontros encenados, por vezes, com recursos quase minimalistas determinam os acontecimentos no palco com toda a calma. Em um quintal com um abacateiro se encontram personagens tão comuns, quanto sem destino, cujas histórias individuais, nada espetaculares, nem valeriam a pena serem contadas. Vizinhos solitários e empregados infelizes se esbarram, passando pela porta imaginária, e no meio dos desencontros um bombeiro morre, atingido por um singelo abacate. Eis o grande teatro, de forma tão pequena – menor é praticamente impossível – e mesmo assim, emocionante e comovente.

Gustavo Bones, Marcelo Castro, Paulo Azevedo, Samira Ávila e Grace Passô – intérpretes/Darsteller; Marco Paulo Rolla – figurinos/Kostüme; Leonardo Pavanello – iluminação/Licht; Daniel Soares Diazepam – Soundtrack; IRIS CAVALCANTI/ZÁFRICA PRODUÇÕES – produção para Berlim/Produktion für Berlin; Agentz-Fernanda Vidigal e espanca!, Parceiros: Benvinda Cia. de Dança e Estúdio Dudude Herrmann – produção/
Produktion.

No Brasil, os teatrólogos chamam a adoção e atualização de textos dramáticos de releitura - e no caso de textos clássicos falam até em “antropofagia“. Tornou-se popular desde os anos cinqüenta no pequeníssimo Teatro de Arena no centro de São Paulo. Seu diretor de maior destaque, Augusto Boal, ficou famoso no mundo todo com o livro ”Teatro dos oprimidos” e já fez algumas produções aqui sob o título ”Arena conta…“. Depois de vários anos com as portas fechadas, a jovem Companhia Livre sob a direção de Cibele Forjaz , contando com o apoio do escritor e dramaturgo Fernando Bonassi, assumiu o Arena e produziu a versão brasileira de “Arena conta Danton“ de Büchner com enorme sucesso. A montagem joga com ficção e realidade, abordando não apenas a ânsia geral e perigosa por uma comissão de inquérito radical, que acabasse de vez com a corrupção na política e na sociedade, mas abrindo também perspectivas inéditas ou inesperadas para “A morte de Danton” de Büchner. Nesta mistura de xadrez com roleta russa (sistema coringa) os atores sorteiam seus papéis na roleta no centro do palco, sendo assim divididos em jogadores de preto e de branco. Um narrador-apresentador gira a roleta, determinando, ato por ato, quem pertence ao campo dos Jacobinos ou Dantonistas, isto é, perseguidores ou perseguidos. O destino pode mudar de uma hora para a outra, Robespierre vira Danton; o congresso vira um puteiro. Com essas relativizações, na verdade, de posições e personalidades radicalmente opostas, a encenação consegue criar momentos tão lúcidos, desconcertantes e desesperados que realmente achamos estar relendo e revendo a obra e seu pano de fundo histórico-social. Os diálogos com a platéia e as trocas de papel basicamente didáticas, fazem com que de fato nos sintamos envolvidos nas contradições sem solução. Assim, o contexto histórico e teatral do princípio “Arena conta“ é menos uma reminiscência do que uma evolução e releitura. Trata-se da adoção do antigo recurso estilístico do ataque, primeiro indireto e depois direto, à situação atual na América do Sul e, aliás, no mundo.

Fernando Bonassi – dramaturgia/Dramaturgie; Edgar Castro, Eucir de Souza, Flávio Rocha, Paula Cohen, Mauricio de Barros, Rani Guerra, Tatiana Thomé – atores-jogadores/Schauspieler-Spieler; Cleide Balby – atriz bilingue/zweisprachige Schauspielerin; Peterson Negreiros – trilha sonora/Soundtrack; Alessandra Domingues – luz/Licht; Simone Mina – cenografia e figurino/Bühne und Kostüm; Vanessa Poitena - assistente de cenografia/Mitarbeit Bühne; Attilio Possar - contra-regra/Inspizient; Henrique Mariano – produção executiva/Produzent

KURATOREN BRASIL EM CENA: Ricardo Muniz Fernandes, Matthias Pees, Kirsten Hehmeyer
Produktion : Elisabeth Knauf, Wagner Carvalho, Ass.: Maria Kusche
Texte: Matthias Pees, Ricardo Muniz Fernandes, Michael Laages
Übersetzungen: Martina Sayer, Ute Hermanns
Redaktion : Kirsten Hehmeyer
Herausgeber: Hebbel am Ufer 2006
Künstlerische Leitung: Matthias Lilienthal
Gestaltung : Double Standards

FOTOS: Isabella Matheus/Videobrasil (FUTEBOL/Titel), Luis Paulo Nenen (ENSAIO: HAMLET), Leopoldo De Léo jr._(AGRESTE), Guto Muniz (TANQUE), Ding Musa (CANIBAL), Marcelo Lyra / olhONu Fotografia (CAVALO MARINHO), Lenise Pinheiro (O ASSALTO), João Marcos Rosa
(Por Elise), Roberto Setton (ARENA CONTA DANTON).

BRASIL EM CENA findet im Rahmen der „Copa da Cultura“ in Zusammenarbeit mit dem brasilianischen Kulturministerium statt, gefördert aus Mitteln des Hauptstadtkulturfonds. Einen herzlichen Dank an das Goethe-Institut São Paulo.

BRASIL EM CENA I (BRA/DE)
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BRASIL EM CENA I (BRA/DE)

Teatro e Performance do Brasil

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