Sentei-me ao teu lado a escrever isto e tu nem notaste.
A vida tem sido dura contigo e já nem isso sentes.
Olha-se para os teus olhos e estás tão desligado.
Aconteceu tudo tão rápido, foste perdendo o que eras desde que tudo começou. Primeiro fisicamente, depois tudo.
Recordo-me de me levares à escola, de ires comigo à praia no Verão, de te aborreceres comigo e de me contares as tuas histórias de novo.
Eu sei que te lembras destas coisas, e que te lembras de mim quando olhas para mim. Não te lembras é das perguntas que me acabaste de fazer ou da ternura com que a avó te dá o almoço ou de abrir o jornal que a mãe te trouxe.
Sempre foste um dos homens mais cultos que conheci, sabias tudo. Na verdade, se hoje te perguntar alguma coisa, sabes responder.
Então porque te esqueceste dos 5 minutos passados?
A culpa não é tua…
Há dias que são de cansaço, dias em que te esqueces da rotina que levas há anos, não queres a insulina, deitas fora comprimidos, não pedes nada e nós temos de tentar conduzir-te. Estes dias são um peso que a tua ideia já não alcança, a avó bem te quer fazer ver mas tu nem a estás a ouvir, estás “na tua”, como às vezes dizemos. Há dias que não sabemos o que fazer.
Mas a culpa não é tua…
Mas hoje foi um dia bom, até sorriste quando peguei na câmara, depois passou. Ficou a calma, o normal dos teus dias, as etapas do costume.
Há muitas perguntas que faço sobre ti. Não sei como é um dia para ti. Passa rápido? Ou devagar? Onde andas quando te vejo a olhar para a televisão? Quando falo contigo, o que é que ouves? E a avó?
De repente lembrei-me de um dos teus internamentos há uns anos em que perguntaste à avó: “O nosso amor foi bonito, não foi?”
É disso que te lembras quando o teu olhar está tão vazio?
E o que pensas quando o dia começa a fechar?
“Sentir como uma perda irreparável o acabar de dia. Provavelmente é isto a velhice.” (do filme: José e Pilar, de Miguel Gonçalves Mendes)
A vida tem sido dura contigo e já nem isso sentes.
Olha-se para os teus olhos e estás tão desligado.
Aconteceu tudo tão rápido, foste perdendo o que eras desde que tudo começou. Primeiro fisicamente, depois tudo.
Recordo-me de me levares à escola, de ires comigo à praia no Verão, de te aborreceres comigo e de me contares as tuas histórias de novo.
Eu sei que te lembras destas coisas, e que te lembras de mim quando olhas para mim. Não te lembras é das perguntas que me acabaste de fazer ou da ternura com que a avó te dá o almoço ou de abrir o jornal que a mãe te trouxe.
Sempre foste um dos homens mais cultos que conheci, sabias tudo. Na verdade, se hoje te perguntar alguma coisa, sabes responder.
Então porque te esqueceste dos 5 minutos passados?
A culpa não é tua…
Há dias que são de cansaço, dias em que te esqueces da rotina que levas há anos, não queres a insulina, deitas fora comprimidos, não pedes nada e nós temos de tentar conduzir-te. Estes dias são um peso que a tua ideia já não alcança, a avó bem te quer fazer ver mas tu nem a estás a ouvir, estás “na tua”, como às vezes dizemos. Há dias que não sabemos o que fazer.
Mas a culpa não é tua…
Mas hoje foi um dia bom, até sorriste quando peguei na câmara, depois passou. Ficou a calma, o normal dos teus dias, as etapas do costume.
Há muitas perguntas que faço sobre ti. Não sei como é um dia para ti. Passa rápido? Ou devagar? Onde andas quando te vejo a olhar para a televisão? Quando falo contigo, o que é que ouves? E a avó?
De repente lembrei-me de um dos teus internamentos há uns anos em que perguntaste à avó: “O nosso amor foi bonito, não foi?”
É disso que te lembras quando o teu olhar está tão vazio?
E o que pensas quando o dia começa a fechar?
“Sentir como uma perda irreparável o acabar de dia. Provavelmente é isto a velhice.” (do filme: José e Pilar, de Miguel Gonçalves Mendes)
