Regina Colon's profile

Jornal do Ferradura | "Novo prefeito" [reportagem]

Durante o curso de graduação, participei do Jornal do Ferradura como repórter, editora e diagramadora. Este jornal era impresso e voltado diretamente para a comunidade do Ferradura, uma favela da cidade de Bauru/SP.
 
A experiência durou um ano e me fez enxergar várias realidades de perto, além de ter contato com um público diferente e extremamente desafiador, mas que me trouxe muito conhecimento.
 
Esta matéria foi publicada após a eleição do então novo prefeito da cidade, na qual realizei uma entrevista com ele em seu gabinete.
 
Agostinho garante: “Vou trabalhar muito para o Ferradura”
 
No dia 05 de outubro deste ano aconteceu o primeiro turno das eleições no Brasil. Aqui em Bauru concorriam ao cargo de prefeito da cidade os candidatos: Caio Coube (PSDB), Rodrigo Agostinho (PMDB), Rosa Izzo (PDT), Gazzetta (PV), Márcia Camargo (PSTU) e José Leme (PHS). 
 
Ficaram para concorrer ao segundo turno das eleições municipais os candidatos do PSDB e do PMDB, Caio e Rodrigo, respectivamente. E foi somente no final do dia 26 de outubro que a cidade de Bauru conheceu seu novo prefeito: Rodrigo Agostinho, com 54,30% dos votos.
 
O Jornal do Ferradura conversou com Agostinho, para saber sobre suas futuras ações dentro do bairro, de forma a melhorar a situação dos moradores do Ferradura.
 
Confira a seguir a entrevista com o novo prefeito de Bauru.
 
Jornal do Ferradura – Sabemos que o Ferradura possui inúmeros problemas que o governo atual não resolveu. Quais são os seus planos para que finalmente, esses problemas se resolvam?
 
Rodrigo Agostinho - Eu acompanho há muito tempo [o bairro]. O nosso primeiro desafio será a regularização fundiária, que está no nosso plano de governo. A proposta é regularizar a situação dos lotes, que uma parte já é da prefeitura, mas a maior parte ainda é particular. O segundo objetivo é trabalhar na questão da infra-estrutura. Há um programa de financiamento do Ministério das Cidades (governo federal) para habitação de baixíssima renda e vamos apresentar projetos para aprovação.
 
Além dessas duas há outros problemas. Mas esses são os mais importantes. Há extrema necessidade de regularizar o local, por que tudo está ligado a isso. Entregando os documentos dos lotes para os moradores, eles mesmos vão transformando sua realidade. As pessoas não querem mudar de bairro, elas querem sair da irregularidade. Tem morador que não constrói um barraco de alvenaria por que tem medo de que removam seu barraco, pois o terreno não é dele. A partir do momento que você dá um documento para a pessoa, assegurando-a de que ela é dona do seu lote, ela vai melhorar sua condição.  Tem algumas áreas que vamos ter que remover os barracos e construir casa, mas a maioria é problema de irregularidade mesmo.
Outro ponto importante é na questão dos programas sociais. Eu quero inserir no bairro um programa de saúde da família, saúde preventiva, agente comunitário, de planejamento familiar para as adolescentes, 
 
J.F. - Tem alguma data para regularizar o bairro? Ouvimos já faz um tempo essa promessa e nada foi feito até então…
 
R.A. - A maior parte do procedimento para a regularização fundiária já foi feito. No Plano Diretor consta a transformação de toda aquela área em ZEI (Zona Especial de Interesse Social), que é um requisito básico para a regularização, segundo o estatuto da cidade. Agora, falta fazer o trabalho de cartório, que é a subdivisão dos lotes, a individualização das matrículas. Cada morador tem que receber a sua matrícula referente ao seu lote. Há uma parte da área que ainda é particular e aí vamos ter que desapropriar ou negociar com a família proprietária. É nisso que vamos ter que trabalhar. Fácil não é, mas nós temos que fazer para poder garantir uma dignidade um pouco maior para aquela população.
 
J.F. - Quanto ao problema de emprego? Muitos moradores sofrem preconceitos por morar no Ferradura e assim não conseguem empregos dignos.
 
R.A. - Temos que criar alternativas de geração de emprego e renda e isso tem que ser feito paralelamente a um projeto social. Tem muita família ali que podia estar recebendo o Bolsa Família e não recebe por conta de defeitos no cadastro da prefeitura. Hoje são 8.504 famílias que recebem o Bolsa Família em Bauru, mas nós temos que 13 mil famílias que estariam aptas mas não entraram no programa. Muitos moradores dali estão nessa situação. Só que não adianta propor apenas o assistencialismo. A gente tem que entrar com alguma ação de geração de emprego e renda.
 
Uma das idéias é ampliar as ações de incentivo para a instalação de empresas ali no Parque Paulista que é vizinho. Tenho certeza que se a gente fizer asfalto, garantir infra-estrutura ali no Parque Paulista, outras empresas vão se instalar no bairro. E o Parque Paulista é vizinho do Ferradura. 
 
A ampliação da coleta seletiva também ajudaria em parte por que grande parte das famílias que atuam na triagem de material na central do Jardim Redentor são famílias oriundas do Ferradura. 
 
Você tem o CRAS (Centro de Referência de Assistência Social), que é vizinho do Júlio Nóbrega, que não tem uma equipe mínima para atender aquela população de maneira adequada, então isso também precisa ser trabalhado. 
 
J.F. - Outro problema muito importante é a questão da educação. As mães tem que levar as crianças em creches longe do bairro, e assim muitas acabam ficando fora da escola.
 
R.A. - Está previsto no programa do orçamento da Secretaria de Educação a reforma de 22 escolas de educação infantil e a construção de 5 novas escolas, e é muito provável que uma delas seja no Ferradura, uma escola de educação infantil de 3 meses à 5 anos. É uma coisa que vamos avaliar e se realmente estiver previsto será feito.
 
J.F. - E o problema do asfalto da Avenida Cruzeiro do Sul, que entra no bairro. A Secretaria de Obras explicou que o asfalto não entrou no bairro por problema de verba da própria secretaria.
 
R.A - É o seguinte. Tem 1 quadra de terra depois da entrada do Ferradura que é pública e que a secretaria não fez por causa de dinheiro. Só que uma boa parte do Ferradura não é da prefeitura e aí não se pode asfaltar. Falta dinheiro sim, mas para comprar essas terras e não para asfaltar.
 
J.F. - Mas a iluminação pública e a água já chegaram no bairro, mesmo este não sendo regularizado, por que não o asfalto?
 
R.A. - A iluminação é da CPFL, que tem um programa hoje que dá dignidade para essas famílias, e permite oferecer iluminação pública para locais não regularizados. A mesma coisa o DAE, ele fornece água por que tem pessoas morando lá que precisam de água limpa. Tanto o DAE quanto a CPFL podem levar seus benefícios para áreas não regularizadas, outro tipo de benefício, o prefeito que responde. Então, se tiver dinheiro, faz o resto. Compra, desapropria, regulariza e faz o asfalto. A gente vai buscar recursos do Ministério da Cidades para fazer. Tudo isso está no nosso plano de governo.
 
J. F. - No caso do transporte, os moradores reclamam que o horário do ônibus é irregular e quando chove ele não entra no bairro, deixando muitos moradores na mão.
 
R.A. – Ônibus não vai ter em todas as ruas. A meta de transportes é que se tenha 1 ponto de ônibus a cada 4 metros. Estamos longe disso. E não é só no Ferradura que o carro não entra por causa do asfalto, nos outros bairros mais pobres também, mas não é justificativa. Só que isso depende de resolver os outros problemas de regularização do bairro e colocar asfalto nas ruas.
 
J.F. - Quanto a saúde? Há previsão para que se abra mais um posto de saúde?
 
R.A. - A quinta Conferência da Saúde priorizou a unidade de saúde no Tangarás, não no Ferradura, mas que atenderia toda essa região. Hoje uma parte do Tangarás vai no Geisel e a parte do Ferradura vai no Redentor. Mas a idéia é que a unidade do Geisel vire pronto-atendimento, para facilitar a vida das pessoas que vão até o pronto-socorro central, mas isso é um projeto. E eu quero inserir um programa de saúde da família, dentro do bairro. É urgente um programa de saúde, pois a maior demanda de saúde no Ferradura é de criança. Precisamos de projetos para diminuir essa demanda.
 
J.F. - Quais as suas estratégias para agir nos bairros periféricos? 
 
R.A. - São realidades muito diferentes, cada lugar é um lugar. Tem bairros que a solução é regularizar, como o caso do Jardim Vitória, Jardim Nicéia, Ferradura. Tem bairro que vamos ter que remover a população, reassentar o terreno. Tem morador do Jardim Ivone que está morando do lado da erosão. Se vier uma chuva ele cai em um buraco de 10 metros de altura e vai morrer. Então nós vamos ter que construir uma realidade para cada um. 
 
J.F. - Há o apoio do governo federal para resolver os problemas, não só do bairro, mas da cidade?
 
R.A. - Eu vou trabalhar muito para ter apoio federal. Hoje Bauru está impedido de receber recursos do governo federal por dois motivos. Falta a Prefeitura honrar com algumas dívidas, da divida federalizada e falta a certidão de regularidade previdenciária. A expectativa é grande para que o atual prefeito resolva isso ainda este ano, se não, vamos resolver isso no começo do ano.
 
J.F. - Logo no começo de 2009 vão começar as mudanças para os moradores do Ferradura?
 
R.A. - Nós vamos trabalhar muito para cumprir nosso plano de governo que prioriza as áreas mais pobres da cidade, como o Ferradura. Há uma realidade social muito triste naquela região e nós vamos tentar mudar esse quadro. Tive semana passada no Ministério das Cidades, discutindo um programa de habitação social, que vai abrir agora em janeiro o edital. Ano passado Bauru cadastrou um projeto que é do Parque Real, para 34 barracos. Pretendo aumentar esse número para atender o maior número de bairros.
Jornal do Ferradura | "Novo prefeito" [reportagem]
Published:

Jornal do Ferradura | "Novo prefeito" [reportagem]

Reportagem produzida para o Jornal do Ferradura, em 2008, um projeto extra curricular, no qual participei por 1 ano, como repórter, editora e dia Read More

Published: