A terra e as relações dos Guarani com ela são o tema central deste trabalho. Esta escolha consiste no fato de que tal relação, para os Guarani, não é uma relação de propriedade, mas de conexão com seus ancestrais e divindades, além de possuir caráter de subsistência – e sobrevivência. A escolha de tais terras é, ainda, revelada pelas divindades nas quais acreditam, eles devem, portanto, permanecer nelas até que lhes seja revelado outro lugar onde habitar, caminhando, assim, em direção a outra terra, a Terra sem Males. 

Hoje, em virtude de uma busca desenfreada por um suposto desenvolvimento por parte dos governantes brasileiros e da maioria da população, não somente os Guarani, mas diversas etnias no Brasil presenciam a retirada de suas terras, ou mesmo a diminuição de seu espaço, o que significa retirar espaço onde possam viver da maneira como acreditam, dificultando o exercício de sua própria cultura, de sua história e, consequentemente, de sua identidade. 

A ideia neste trabalho é registrar e expor a identidade e cultura Guarani Mbya (a qual parecem despercebidas entre a maior parte dos brasileiros), de modo a contribuir para a afirmação deste grupo através de imagens que retratam quem são, quais são seus costumes e brincadeiras, quem são as pessoas que os cercam. O registro reflete minha visão, a de um observador externo cheio de dúvidas e curiosidades a respeito desse povo.

Já o anexo apresenta a visão do grupo pesquisado a partir de registros fotográficos feitos pelas crianças da aldeia e que representam suas expressões e impressões, porque contemplam a visão do externo e do próprio Guarani, justapondo suas visões às minhas, ou seja, invertendo a prática comum do observador externo pela observação e expressão do próprio eu.

Essa troca cultural, afetiva, emocional e de experiências resultou para mim num aprendizado o qual não é possível medir nem pontuar. Disso, posso somente afirmar que percebo que não sou mais a mesma pessoa depois de conhecê-los. Sinto muito prazer por tê-los conhecido de perto e por ter vivenciado alguns momentos com eles, pois este contato foi capaz de romper com preconceitos e me permitiu compreender um pouco de nossas origens.