Desde a era em que os primeiros homens caminharam sobre a Terra, a história foi marcada pela crueldade, pelo vício e pela tara de animais que sonharam conquistar o mundo. Nas hordas primitivas, os bandos e as tribos louvaram sua loucura pela dominação subjugando seus congêneres e os seres denominados inferiores. Em guerras há muito esquecidas, mostraram jamais deixar para trás os germes que os vinculavam pelo sangue à espécie mais bestial das criaturas.
No entanto, o que a princípio parecia uma doença mostrou-se pertinaz e sublime até na beleza. Orgulho, coragem, demência, desprezo, amor, ódio, vitórias e tragédias inundaram o mar da história pretensamente humana.
O horror da morte e o combate com a selvageria do mundo fizeram da imaginação e do desejo realidades capazes de mover montanhas e estrelas. Investindo todas as suas forças no submundo da cultura, criaturas dotadas de inteligência sublimaram a dor e a fome inventando religiões, mitos, artes, ciências e filosofias.
Mergulhando na existência, no mundo e no cosmos; cruzando desertos ou escalando píncaros; navegando mares além do horizonte os oceanos sem começos ou fins; a cada vez de uma forma diferente o homem impôs ordem à vida e à natureza com a prepotência de civilizado.
Só que o ordenamento do mundo forjado pela civilização se deu ao custo de sacrifícios vividos nos corpos e nas mentes. Reinos e impérios se erigiram sobre hecatombes, ídolos foram impostos com sangue, perversão e miséria foram cravadas na terra e nos céus com o poder de raças enlouquecidas – e assim, os homens ganharam novos motivos para viver... e matar!
Passado tanto tempo, o progresso tornou-se o bastião que estimulou a invenção de saberes e técnicas produzidas por uma colossal ânsia de domínio. Da pedra lascada à domesticação do fogo, passando pela ascensão e decadência de impérios, até à indústria capitalista e os atuais sistemas de informação – tudo isso somado revela apenas que a história da civilização sobrepujou a história do espírito.
Tão imponente como a explosão de uma bomba atômica, a tara pelo desenvolvimento, expressa nos processos civilizatórios, desencadeou acontecimentos e maquinismos em toda a superfície do planeta. Com o passar do tempo, porém, o motivo do orgulho humano se revelou como o grande perigo que assombrará milênios.
Agora que a ciência acredita conhecer a natureza, a sociedade e o universo, resta saber quantos futuros permanecerão aprisionados no mundo das máquinaspuras – depois de tudo, fica ainda uma questão fundamental, que cada um precisa responder: o que haverá nas profundezas do ser?
Visto com os olhos do hiperespírito poético, todo o inimaginável sofrimento e esforço pela conquista das eras terá sido em vão se o ser que somos não encontrar plenitude no sentimento de pertença à Terra, pois, ante a precária condição da vida nas atuais condições históricas, somente um mergulho, um precipitar-se antes do acidente integral, poderá despertar o espírito de seu sono letárgico – somente um salto para fora da consciência maquínica nos proporcionará um autêntico mergulho no interior de nós mesmos.

Texto: Lucas Fortunato.
 
 
 
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