Meu próprio lar
ilustração feita a partir do sentir. Te convido a me ver através dessa ilustração e me ler se assim desejar (texto ao final).
Eu que já fui casa para a menininha mais incrível que já conheci, a Abigail, e sigo sendo sua casa de várias maneiras, ainda estou aprender a ser meu próprio lar.

Eu sempre tive um lar. Sempre tive para onde voltar depois das minhas aventuras, se minhas tentativas terminavam frustradas, se chovia forte ou se o sol queimava. Enquanto vivia acolhida nesse lar, tinha a ilusão que quando essa casa me faltasse, existiam outras que me abririam portas e janelas. Elas tinham nome, forma, proximidade, meu afeto.

Mas, quando minha casa se foi, essas outras casas não abriram suas portas. Elas fizeram o oposto. Trancaram suas portas. Passaram correntes com pesados cadeados nos seus portões. O aviso de mantenha distância na sua fachada tinha o adendo de que a distância era necessária pelo simples fato de eu ser quem era.

Foi a primeira vez que a casa me foi negada pela minha forma. Eu não era bem vinda. As vezes, acho que sigo não sendo. O motivo segue o mesmo: não posso entrar por ser quem sou.

Ainda que eu saiba (hoje) que não entro porque não caibo nessas casas, eu (hoje) ainda choro por ver as portas se fechando, as correntes sendo colocadas. Ainda dói a lembrança do barulho das chaves trancando a fechadura. Algumas vezes, diante de mim, da minha filha.

Casas com as quais sonhei abrigo no sofá numa tarde de domingo. Um café quentinho, uma mesa posta. Eu não precisava habitar ali, mas amaria entrar por aquelas portas e ser recebida por alguns momentos.

Casas com as quais sonhei abrigo quando mais precisei de abrigo.

Hoje, mesmo quando as lágrimas ainda saem como rios descontrolados quando penso nessas casas que me pediram distância, me esforço pra que eu mesma seja meu próprio lar.

Várias outras casinhas também fecham suas portas em alguns momentos. As vezes são segundo de porta fechada, mas segundos dolorosos. Algumas fecham suas portas dizendo que meus quilos a mais pós maternidade não são aceitos ali. Outras, rejeitam tudo que sou, ainda que louvem meus tantos talentos, e fazem que eu não me sinta capaz.

Mas, como disse uma dos poetas que tanto amo e que pude conhecer algumas de suas casas (de portas abertas pra mim, que causaram uma identificação rara em "cada rinconcito" que me permitiam explorar) "QUEDA PROHIBIDO LLORAR SIN APRENDER "!

Eu tenho aprendido, querido Neruda! Tenho aprendido a ser o meu próprio lar! A cuidar do meu jardim, a deixar minha cozinha sempre com mesa farta, com cheirinho de bolo no final da tarde! Manter a luz baixa na sala pra me aninhar no sofá sempre que precisar de descanso!

Fui, sou e serei meu próprio lar. E cuidarei com todas as minhas forças para que minhas portas e janelas estejam sempre abertas para que aquele que precisar ser cuidado, alimentado, rir até perder o fôlego, se perder num aconchego... entrar! Sempre terei portas escancaradas para quem quiser fazer de mim família!

Terei cuidado com o que for perigoso, com quem possa danar minhas paredes e interiores, mas jamais serei uma casa fechada para quem precisa de amor.

Choro e aprendo a ser meu próprio lar. E, que a vida me permita ser lar de muitos, que se tornem lar de outros.

Quem sabe assim todos terão casa! Todos terão sempre pra onde voltar.
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