Sempre tive uma enorme facilidade de imaginar, de ver formas e criar histórias com sentimentos que não sabia bem explicar.
A parede do meu quarto era estrelada e nele eu via e pairava sobre o meu próprio universo e no mesmo movimento astral, o mar de cortinados camuflava-se na escuridão. A sua cor azul escura mas não totalmente opaca deixava penetrar a luz que por vezes se fazia notar a sair do tapete.
Construído a partir de memórias, era nele que eu parava para imaginar e criar histórias que só existiam na minha cabeça.
Não era quadrado, circular ou retangular. Não tinha uma forma como as que aprendemos na escola e era impossível de medir devido à sua constante mutação.
No meio de tantas transformações havia uma que era a minha preferida. Não me lembro o que lhe dizia, mas ele percebia. Sentava-me, pegava no rádio e lá íamos nós para algum sítio, talvez um universo distante, ou um planeta macaco, não sei ao certo.
Por vezes acabávamos a visitar o Freddie Mercury, um feiticeiro lá de um universo vizinho que não sei que poções fazia mas usava palavras como “its a kind of magic”, e acho que tinha algo a ver com magia.
Ele falava numa língua que eu não percebia mas soava bem e eu gostava.
Um dia visitamos um que se chamava “tribalistas” onde falavam a nossa língua e era engraçado. Durante as nossas conversas mencionavam bastante o AMOR então eu nem sempre entendia bem.
“—Sabes o que é o amor?” -perguntava
“—Ouvi dizer que é tramado”
“—Amor…? Sabes…?”
“É uma pergunta complicada” —respondiam muitas vezes
E ficava sem saber.
Cheguei a perguntar aos habitantes de outros universos se sabiam como funcionava mas todos acabavam por ficar atrapalhados ou a dar-me respostas muito diferentes.
Num dos meus universos mais visitados, e talvez o meu preferido, havia um senhor chamado “Phil Collins” que dizia perceber bastante desse tal sentimento. “You’ll be in my heart” dizia ele, e daquilo eu não retirava nada, mas gostava de o ouvir.
Nessas e outras viagens lembro-me de continuar em busca do que seria esse sentimento do amor, mas acho que acabei por não encontrar nada.
O amor era confuso e parecia grande demais para mim —“O meu tapete é grande, talvez tenha espaço para ele aqui” —pensava.
Era pequenina e só sabia o que era ser feliz com o meu tapete, no meu quarto e na casa de quem fazia tudo por mim. Era confortável, quentinho e dava vontade de sorrir. Talvez isso fosse tão simples e o bastante. E numa altura em que os planetas sobre mim brilhavam, era o tapete que junto aos meus pés, me fascinava.
Estou aqui agora, olho para cima um pouco mais distante do chão e sou grande o suficiente para guardar todo aquele amor que eu tinha sim, naquela altura, descoberto.