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Um Lugar estranho na Av. Marechal Castelo Branco

Um Lugar estranho na Av. Marechal Castelo Branco
- Quer conhecer uma pessoa peculiar hoje?

Era 15:30 da tarde de uma quarta feira e eu bebia uma cerveja gelada na varanda da minha casa enquanto deixava o sol escaldante secar meu cabelo para cortar em algumas horas. Não que fosse necessária alguma ajuda, mas eu já estava procrastinando a ideia e começava a pensar se realmente iria me deparar uma história interessante. Além disso, no fim das contas, se tudo desse errado, nós ao menos acabaríamos em uma mesa de bar para dar fim a esse dia quente

Subindo a Av. Marechal Castelo Branco, um pouco depois do condomínio Oásis, e um pouco antes do cruzamento da Estação Juventude, existe um lugar bem estranho, onde as únicas luzes acesas na madrugada revelam bugigangas que ocupam a calçada e o interior do estabelecimento. Passei por ali muitas vezes de carro admirando o desconhecido e imaginando o que seria aquilo, então deixei minhas vontades e curiosidades inquietantes ganharem dessa vez. Por volta das 19:30 coloquei as câmeras na mochila, e de cabelo cortado, fui até casa do Daniel, de onde seguimos em direção as luzes

Léo, a pessoa peculiar, também conhecido como Leomart, tem 51 anos. Os mesmos 51 da cachaça enlatada que ele reforça vender em seu estabelecimento. Marido de aluguel e assistente em eventos, ele se mostrou um pouco desconfiado quando chegamos e o abordamos. Ao dizer que eu sou fotografo, Leo pediu para eu ver algumas das minhas fotos, e após averiguar, a suspeita deu lugar a empolgação. Imagino que ele tenha me achado um profissional decente e apto para fotografá-lo.
O lugar estranho na Marechal Castelo Branco se torna fascinantemente mais estranho a medida em que seu dono o introduz. Além de espaço expositivo para as restaurações e criações feitas com recicláveis, o estabelecimento também funciona como mercearia, farmácia, adega, bar, tabacaria, lanchonete, brechó, topa tudo e também como petshop, caso alguém tenha interesse em comprar uma calopsita – as gaiolas são vendidas separadamente por R$ 20,00.
Em seus 14 anos de existência, o lugar já sofreu 14 tentativas de assalto, o que levou Leo a reforçar a segurança. A tranquilidade da loja agora é mantida por uma câmera que capta imagem e áudio, uma lâmpada ativada por sensor e retrovisores de carros estrategicamente posicionados para vigiar ângulos específicos da avenida. Se tudo isso falhar, Leo ainda conta com um porrete, feito de madeira de eucalipto, e que se iguala a ele em tamanho, para manter a paz durante as 13 horas de trabalho. O expediente das 12:00 as 01:00 pode parecer solitário, mas felizmente Leo conta com a companhia de Caio de Amor Porvocê, Thais Petacular e Thamara Vilhosa
Além dos companheiros de trabalho, Leo tem outros favoritos, como a churrasqueira de rodinhas, que ele sempre sonhou em ter, e que foi recentemente encontrada na rua e restaurada por ele. Leo também mostra com orgulho o umidificador de ar que ele consertou e abastece de hora em hora. Não podemos esquecer é claro das plantinhas encontradas na sarjeta e carinhosamente acolhidas por ele.
A loja não fica parada no tempo. O estoque de produtos atende demandas contemporâneas e abrange todas as idades. No setor de tabacaria, além da maleta que acondiciona todas as marcas de palheiros existentes em Minas Gerais, Leo também vende cigarros eletrônicos das marcas mais requisitadas. Já no setor de farmácia, Leo faz questão de destacar que vende camisinhas modernas de textura ultra sensível que intensificam o prazer. O chopp de vinho não fica pra trás, e presumo ser o carro chefe da adega
Pergunto para Leo se assim como eu, outras pessoas tem curiosidade em conhecer o lugar. Ele diz que a loja tem bastante movimento, e frequentemente as pessoas param para assistir os jogos de futebol que ele transmite na televisão da calçada. Quando chegamos ele ainda estava reabrindo a loja porque tinha saído para fazer comprar. No decorrer da conversa, um vizinho passou para comprar cigarro e um entregador de aplicativo parou para comprar uma Coca-Cola. Acho que os preços do Leo são bem mais em conta.
Leo afirma morar na casa ao lado junto da sua família. Ele conta que tem um irmão policial e um irmão artista que consegue desenhar linhas perfeitamente retas. Leo só consegue desenhar linhas tortas e não se considera artista. Eu digo que a arte não é definida pela perfeição. Me despeço e prometo voltar com as fotos impressas para presenteá-lo. Foi um prazer conhecer Leo e ouvir um pouco sobre ele. Ao fim da noite, no bar a cerveja estava excepcionalmente gelada.
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