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A insegurança como autoconhecimento

A insegurança como autoconhecimento

            Definir o que escrever para explicar quem sou eu não foi uma tarefa fácil. Perguntei para amigos, monitores da faculdade e até para minha psicóloga o que eu poderia escrever, já que tudo que eu pensava eu não achava que fosse digno o suficiente para merecer um texto. Foi quando, após eu ter percorrido todo esse caminho, consegui identificar que o problema não era eu não ter temas dignos, e sim, que eu estava insegura para colocar meus pensamentos em palavras nessa folha de papel, já que eu não me achava apta para escrever um texto, ainda mais tão pessoal.  
            Por eu ter nascido de sete meses, fui considerada uma criança frágil, fraca e que teria que ser constantemente protegida para que nada impedisse minha sobrevivência. Por causa disso, meus pais construiram um amor por mim com base em proteção excessiva, em que eles me levavam e buscavam na escola todos os dias mesmo eu morando há uma quadra de distância, não me deixavam ir fazer trabalho na casa de colegas e, toda vez que algo de ruim acontecia comigo não me deixavam resolver sozinha. Não adquiri uma autonomia e agora, em cada atitude que eu tomo eu não me sinto segura em como estou agindo. Na maioria das vezes falo com alguém antes de tomar uma decisão, seja pra perguntar se estou bem com a roupa que eu estou vestindo, o que eu posso pedir no delivery, que livro eu posso ler em seguida e até já cheguei a questionar amigos sobre a opinião deles em meus relacionamentos.
             Nas sessões de terapia compreendi que minha infância como uma filha constantemente controlada pelos pais fizeram com que eu tivesse medo de agir do jeito que eu quisesse, tendo medo de fazer a escolha errada o tempo todo, não conseguindo fazer nada sem pedir a opinião de outros e acabasse crescendo em volta de uma bolha. Às vezes, se não fossem os acontecimentos que geraram minha insegurança, minha vida poderia ter se moldado totalmente diferente, eu talvez seria uma pessoa mais independente, que conseguiria tomar atitudes sem perguntar para pelo menos cinco pessoas antes; ou talvez seria mais confiante e conseguiria fazer algo por mim sem esperar um reconhecimento.
               Às vezes temos traumas desde quando nascemos, causados por nossos pais, amigos ou escola, que podem influenciar nossa vida. Uma pessoa não ter o colo da mãe assim que nasce pode se tornar alguém muito sensível; um pai ao ensinar o filho que ele não pode chorar pode estar criando um futuro namorado abusivo; um impedimento em formar amizades na faculdade pode acontecer porque a pessoa era humilhada pelos colegas na escolinha. Nem todos que passaram por esses acontecimentos terão traumas gerados por eles, talvez outras eventualidades ocasionarão traumas e medos diferentes. Pode ser também que alguém foi criado em uma bolha como eu e não tenha se tornado alguém inseguro. Assim como, devem existir muitas pessoas inseguras por outros motivos que não tem nada a ver com sua criação paternal.
             Talvez existam pessoas inseguras e pessoas seguras, ou talvez as pessoas apenas tenham momentos de insegurança e segurança, o que pode dizer sobre como o ser humano age. Acredito que pessoas inseguras tendem a analisar muito sobre as atitudes que irão tomar, mas talvez isso ocasione a tomada de decisão errada ou aquilo que não era tão desejado assim, ou também a decisão certa por analisar muito. Ao mesmo tempo, que pessoas seguras tendem a confiar mais na sua intuição e talvez escolher algo que queira, ou por fazer algo quase no impulso podem fazer a escolha errada.  E às vezes, a segurança pode ser um jeito de descobrir que está se fechando em apenas um modo de ver a vida e a insegurança pode ser só um aviso de que é preciso se conhecer mais, um modo de autoconhecimento. 
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