Juarez Parolin's profile

DASHCAM, ou um dos Piores Filmes de Terror da História


Olha, fazia tempo que eu não via tamanha porcaria; um filme de terror tão raso e tão vazio igual a esse horroroso DASHCAM, do diretor Rob Savage, que nos apresentou na pandemia o ótimo Host. Host é um filme que justifica o uso do estilo Screenlife - estilo onde observamos todos os acontecimentos do filme pela tela de um dispositivo eletrônico, seja ele um celular, ou um notebook -  ao nos mostrar amigos em uma reunião via Zoom por causa do isolamento social consequente da pandemia de COVID-19. Em DASHCAM, o diretor tentou repetir a fórmula do sucesso, mas aqui o uso do estilo é extremamente gratuito e apenas um mero exercício estilístico - que na minha visão, deu muito errado.

No filme acompanhamos Annie, uma personalidade de extrema-direita que fica fazendo lives no seu carro improvisando raps horríveis. No auge da pandemia, a negacionista se cansa do isolamento e viaja até a Inglaterra para encontrar um amigo e antigo parceiro de banda, Stretch, que agora trabalha como entregador de aplicativo. Depois de encher o saco - eleve essa expressão a trigésima potência -  do amigo e da namorada dele, ela rouba o carro dele para pegar uma entrega, se deparando com um lugar abandonado. No lugar, uma mulher pede para Annie transportar uma idosa chamada Angela para um lugar desconhecido. Depois de hesitar, Annie aceita transportar a pobre senhora e aí as coisas descambam de vez.

Nesse filme temos dois problemas claríssimos: a ausência de um enredo e uma protagonista insuportável; possivelmente uma das piores protagonistas da história dos filmes de terror. Em relação ao enredo, é praticamente nulo. Depois que Annie aceita transportar Angela, vamos descobrindo que a idosa é um ser demoníaco com poderes sobrenaturais que tenta matar Annie e Stretch a todo custo ao longo do filme. O problema é que nada disso é desenvolvido e nada é devidamente explicado para fazer o espectador se sentir imerso na “trama”. As coisas simplesmente acontecem de maneira aleatória para forçar acontecimentos aterrorizantes e bizarros. Em Host, temos ali um ponto chave que justifica os acontecimentos sobrenaturais do filme, tornando a experiência muito mais imersiva. Em DASHCAM, tudo é jogado. As coisas acontecem porque sim. Temos alguns momentos assustadores e tensos? Sim, claro. O filme tem seus méritos de se utilizar do screenlife para construir algumas situações assustadoras, mas, como mencionado antes, a ausência de sentido tira toda a experiência. E a imersão se torna praticamente inexistente graças a nossa querida Annie.

Ah, Annie! Vamos falar sobre a Annie. Como dito antes, ela é uma personagem de extrema-direita. Uma negacionista da pandemia; uma personagem extremamente insuportável. Ela desrespeita o amigo e sua namorada; invade propriedade alheia; agride desconhecidos; e insulta tudo e todos, tudo em nome de sua tal “liberdade”. É uma personagem nojenta e repulsiva, que merece o pior. Temos inúmeros filmes onde gostamos e torcemos por personagens de moral duvidosa. É muito normal o ser humano se sentir atraído por anti-heróis justamente por esses apresentarem atitudes e pensamentos que normalmente nós reprimimos e gostamos de ver refletidos nesses personagens na tela. Mas o diferencial é que o anti-herói não se limita apenas a atitudes moralmente questionáveis. Esses personagens, por trás dessas atitudes, demonstram um enorme desejo de mudança; o desejo de alcançar o ato heróico para se sentirem valorizados. Nos aproximamos dos anti-heróis justamente por eles serem humanos acima de tudo. Não é o caso de Annie. Ela é simplesmente uma pessoa ruim e não muda ao longo do filme. Fiquei esperando o filme inteiro para que os acontecimentos grotescos do filme mudassem a personagem para que eu pudesse desenvolver alguma empatia por ela, mas ela simplesmente se mantém a mesma escrota até o final. Fiquei torcendo para que as piores coisas acontecessem com ela no filme, mas infelizmente - SPOILER! - ela se dá bem e tudo acaba feliz. E isso é frustrante demais porque ela, no mínimo, tinha que ter morrido como forma de punição por ser uma pessoa horrível. 

Um outro ponto a ser notado a respeito da personagem é que ela sabota a própria narrativa. Quando estamos perto de sentir alguma coisa com o que acontece na tela, prestes a sentir o que o filme nos propõe desde o início, a personagem age de maneira extremamente babaca e estúpida em uma tentativa fracassada de humor em momentos tensos. Isso tira completamente a credibilidade do que está acontecendo e faz com que torçamos para que a personagem morra de uma vez por todas. A tentativa do diretor aqui claramente foi fazer uma comédia de horror. Esse tipo de filme, quando bem feito, nos entrega a mistura perfeita de riso e medo, subvertendo o gênero e nos entregando um filme original e divertido. Se o diretor tentou subverter alguma coisa aqui, ele falhou miseravelmente.  

Em meio a febre dos Screenlife films, esse filme tinha tudo para dar certo. Host, Buscando…, Amizade Desfeita e Spree são alguns exemplos de como o estilo pode funcionar de maneira extremamente eficiente, apresentando diferentes tramas e situações para deixar o público imerso e aterrorizado. Se DASHCAM tivesse trabalhado em um bom enredo para justificar os acontecimentos aterrorizantes e investido em uma personagem mais bem desenvolvida, acredito que teríamos um filme bem mais divertido e, quem sabe, subversivo. Infelizmente não foi o caso e o filme só é pobre mesmo. Se quiser se divertir com um terror do mesmo estilo, assista aos filmes mencionados no começo desse parágrafo. Quanto a DASHCAM, finja que nunca existiu e que foi um delírio coletivo.

Fonte: MUBI

Olha que imagem bonita pra enganar gente desavisada. Quem ver isso vai se interessar na hora achando que vai assistir um filmão de terror. 
DASHCAM, ou um dos Piores Filmes de Terror da História
Published:

Owner

DASHCAM, ou um dos Piores Filmes de Terror da História

Published: