Saquarema recebeu do Congresso Nacional, em 2019, o título de capital do surfe no país, mas bem antes disso, desde a década de 1960, pelo menos, a cidade acolhe milhares de atletas da modalidade. Inspirado por essa vocação local, o psicólogo Marcelo Mourão notou um déficit no acesso ao esporte para as crianças com deficiência e fundou a ASAS, a Associação de Surfe Adaptado de Saquarema. Atualmente, o público é, em sua maioria, formado por crianças com autismo e com síndrome de Down. Além das aulas, eles participam de competições regionais e nacionais.
Marcelo conta que a ideia de fundar a organização veio de forma natural, já que é membro da Associação de Surfe de Saquarema, entidade que abriu as portas para viabilizar o projeto. Atualmente, a ASAS é mantida por doações e trabalho voluntário. Não são cobradas mensalidade ou ajuda de custo dos alunos. "Como a cidade que recebe o maior campeonato de surfe do mundo, a gente não podia deixar as crianças de fora. No início, eu fazia um trabalho meio de formiguinha e convidava as crianças especiais de Saquarema. Eu e um grupo de oito a dez pessoas nos juntamos e nos organizamos", explicou Marcelo.
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A associação começou em setembro de 2021, com apenas dez alunos, mas hoje, dois anos depois, já são cerca de 150 crianças participando das aulas semanais. O projeto era apenas um braço da Associação de Surf de Saquarema, mas, devido à alta demanda, Marcelo teve de fundar a própria organização. "Na época, pensei 'Vamos colocar crianças e pessoas com deficiência para surfar dentro das possibilidades delas', e aí e veio uma prancha daqui e cadeira adaptada dali. Mas deu tão certo que entendi a necessidade de uma associação só para isso", relembrou.
Segundo o psicólogo, a grande força da associação se firma nos amigos e parceiros que dedicam tempo para manter as aulas e levar as crianças para competições. São salva-vidas, bombeiros, pescadores e surfistas, todos com uma história ligada ao mar de Saquarema. No quadro de voluntários está ainda a mãe de Marcelo, que é professora do município com especialização em Deficiência Visual. O amor pelo mar é tanto que no Natal o Papai Noel chega de moto aquática e, na praia, mais de cem pessoas costumam aguardar pelo bom velhinho em versão tropical.
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A iniciativa chamou a atenção da Confederação Brasileira do esporte, que convidou dois alunos para competir no Campeonato Brasileiro de Parasurf. A equipe viajou para a Paraíba com as crianças, as mães, Marcelo e quatro instrutores. "A gente levou dois atletas autistas para participar do primeiro campeonato de parasurf e voltamos com o primeiro e segundo lugar na categoria autismo. Primeira vez que aconteceu. Marco principal da nossa equipe de surfe", comemorou Mourão.
Ele contou que esta foi a primeira vez que as categorias Down, Autistas e Surdos-mudos participaram do Campeonato Brasileiro de Parasurf. A ida das crianças só foi possível graças a uma vaquinha divulgada em Saquarema. Segundo o fundador, a associação conseguiu levantar R$ 9 mil para custear as passagens.
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Marcelo contou que os atletas foram convidados para participar de uma competição nos Estados Unidos, mas, infelizmente, terão de abdicar das vagas por falta de verba. "Tudo é na vontade, sem saber se vai dar certo. Mas a galera se empenha. Em novembro a gente tem vaga garantida na Califórnia, mas não temos capital, então vamos abrir mão dessas duas vagas que conseguimos", explicou.
A cidade do Rio também conta com uma associação, a Adaptsurf, que atua durante a temporada de verão, entre novembro e março. A fundação existe há 15 anos e recebe o apoio de mil e quinhentos voluntários mobilizados. A ASAS de Saquarema, por sua vez, mantém as atividades durante todo o ano.