Minhas três avós. 2021. Exposição Sacudimentos (virtual).
A compreensão das trajetórias de mulheres artistas acadêmicas no Brasil esbarra, no problema das lacunas historiográficas. Genericamente falando, elas não foram objeto de estudos monográficos, não figuram em mostras de caráter individual ou coletivo, e seus trabalhos raramente pertencem às galerias e museus públicos nacionais. É como se em comum compartilhassem a negação: não possuem biografias, não deixaram registros memoráveis, logo, não pertencem à história. (SIMIONI, 2019, p. 37)
Além dos preconceitos de raça e gênero, o preconceito de classe é o mais avassalador, resultando em um fosso instransponível entre elite e o povo. Por isso, minhas pesquisas agora se concentram na produção das mulheres artesãs, aquelas que vivem de seu trabalho, são pobres e vivem em regiões longínquas do país.
(BARBOSA, 2019, p. 83)
Além dos preconceitos de raça e gênero, o preconceito de classe é o mais avassalador, resultando em um fosso instransponível entre elite e o povo. Por isso, minhas pesquisas agora se concentram na produção das mulheres artesãs, aquelas que vivem de seu trabalho, são pobres e vivem em regiões longínquas do país.
(BARBOSA, 2019, p. 83)
As mulheres foram apagadas da história da arte, como destaca Ana Paula Simioni “não possuem biografias, não deixaram registros memoráveis, logo, não pertencem à história”, somando a isso temos o preconceito de classe, que de acordo com Ana Mae Barbosa é ainda mais avassalador e impôs um segundo apagamento as mulheres artesãs, que são pobres e vivem do seu trabalho.
Procurando enaltecer as histórias dessas mulheres, resgatei as vivências das minhas avós que, nas condições de mães solo nos anos 50/60, encontraram no trabalho com crochê, ponto cruz, costura e renda de bilro o caminho para sustentar suas famílias.
No trabalho Minhas Três Avós cada fita faz referência a uma mulher e sua história de vida. Maria de Fátima do Carmo Araújo (na cor rosa) que, depois de separada trabalhou com costura e ponto cruz para sustentar, sozinha, as duas filhas (uma delas minha mãe), Maria Necy de Castro (na cor laranja) que também separada trabalhou com crochê e costura, mas mesmo assim, vendo a impossibilidade de cuidar sozinha de quatro crianças, enviou os dois filhos(um deles meu pai)mais velhos para os cuidados de sua irmã, na cidade de Cascavel no interior do Ceará, e Elita de Castro Pereira (na cor azul) que recebeu os dois meninos e, mesmo viúva, manteve os sobrinhos por meio do trabalho com renda de bilro.
Assim, reforçando os nomes dessas mulheres e trançando suas vivências, tão parecidas, junto de mim (na cor verde), procuro evitar seus apagamentos e consequentemente o meu.

REFERÊNCIAS
BABORSA, Ana Mae. Mulheres: arte, artesanato, design. In: BARBOSA, Ana Mae; AMARAL, Vitória. (Orgs.). Mulheres não devem ficar em silêncio –arte, design, educação. São Paulo: Cortez, 2019.
SIMIONI, Ana Paula Cavalcanti. Profissão Artista:Pintoras e Escultoras Acadêmicas Brasileiras. 1. ed., 1. reimpr. São Paulo: Editoria da Universidade de São Paulo/ Fapesp, 2019.
FONTELES, Bené. Nem é erudito Nem é popular: Arte e diversidade cultural no Brasil. Brasília: 2010.
Minhas três avós
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