Eduardo da Matta's profile

Victor Xamã (2022)

O primeiro contato que tive com o Victor Xamã foi por meio do Matheus Coringa, para quem eu havia desenvolvido diversos videoclipes e projetos visuais, sendo que em três deles já tinha tido a oportunidade de trabalhar com o próprio Victor: "Com Título", uma vídeo montagem que realizei para uma música em que ele fazia uma participação; "Quem", música dele com o Coringa para a gravadora paulista Sheila Records, e em uma das faixas do álbum visual "El Torto", que eu havia roteirizado só que, devido ao início da pandemia, acabou sendo lançado com outro suporte visual.
Com o lançamento de seu próximo disco se aproximando, o Xamã me abordou para desenvolvermos um clipe duplo para duas faixas de seu álbum. Prontamente convidei o Mateus Cony e a Dara Meana, com quem já havia trabalho em projetos mencionados anteriormente, para participarem dessa criação. Passamos, então, a nos reunir diariamente para ouvir e debater a música, até chegarmos a um lugar que agradava a todos.

"Não quero ser um retirante pintado por Portinari"
"Jovem retirante, sonhos grandes e dinheiro vivo"
"Eu levei Manaus a força, ela não quis vir comigo"
"A cidade é grande, mas não é maior que eu”
 "O improvável virou o combustível"
 "Na cabeça coisas que não prestam Deus, eu caí do céu"
"Embriagado eu caí do céu, agora vivo aqui"

A proposta era explorar o sentimento de deslocamento e de não pertencimento, fazendo paralelos com a história de Lúcifer, principalmente como retratada nas ilustrações de Gustave Doré para "O Paraíso Perdido" e "A Divina Comédia", assim como outras obras de arte que abordavam esse tema. O clipe seria dividido em esquetes visuais fazendo referência a tais obras. Também utilizamos o ritmo que o uso de várias esquetes nos proporciona para criarmos cenas autorais para representar os sentimentos presentes na letra.
No vídeo acima pode conferir o clipe completo lançado pelo canal do Victor Xamã e no abaixo compilei as referências usadas e as cenas finais desenvolvidas.
Na pós produção pude atuar em diferentes funções. O processo foi árduo e o resultado alcançado foi muito gratificante. Além da montagem das imagens, colorização dos vídeos e tratamento das fotos, também realizei VFX em seis cenas: na recriação da obra "Portrait of an artist", onde o personagem assiste a si mesmo nadar em uma piscina vazia; na recriação de uma das gravura de Gustave Doré, presente no livro "Paraíso Perdido", onde em primeiro plano vemos Lúcifer e no fundo Adão e Eva, sendo Victor tanto Lúcifer quanto Adão; na cena onde ele canta em primeiro plano e um prédio pega fogo ao fundo; no fragmento em que apresentamos uma cobra rastejando na direção dele; na esquete dos facões voando em direção ao artista; no quadro com um céu repleto de nuvens na qual ele despeja gasolina de um galão e acende um fósforo. Abaixo um vídeo curto compilado para melhor visualização dos efeitos executados:
Durante as gravações também fiquei responsável por realizar as fotografias que posteriormente aplicamos ao videoclipe, fotos das cenas montadas foram tiradas em preto e branco, médio formato, com a Pentax 67, câmera lendária para fotografia 120, com filme Kodak Tri-X 400. Todo o processo de pós-produção das fotos foi realizado de forma autoral. Desde o preparo dos químicos até a revelação, digitalização e tratamento das fotos, possibilitando a intervenção e otimização de cada um desses processos. A colorização das imagens foi feita utilizando paleta de cores reduzida, o processo foi pensado para referenciar as gravuras pintadas após prensadas pelo Gustave Doré e para criar uma unidade maior entre as fotografias, resultando em imagens com uma atmosfera psicodélica com cores que não necessariamente refletem a realidade das fotos captadas, mas sim os sentimentos intentados por aquelas imagens.
“Eduardo da Matta é aquele tipo de profissional raro de encontrar. A primeira impressão que tive quando trabalhamos em “Oito Correntes”, foi de um cientista maluco, sempre com soluções inusitadas e criativas para os mais variados tipos de problemas. Para além de um colega de trabalho, firmamos uma amizade, uma parceria sincera e duradoura. Depois que terminamos o trabalho de “Oito Correntes” e os preparativos de “Garcia”, fiquei mal acostumado e bem mais exigente, asseguro com muita convicção que o meu melhor trabalho até aqui foi feito por ele.”
- Victor Xamã
17/09/23
Após o lançamento de “Garcia/Oito Correntes”, o Victor convidou o Eberth Santana, diretor conterrâneo, para dirigir e captar sete visualizers para as demais faixas do álbum utilizando o clipe que havíamos concebido como inspiração estética e narrativa. Participei finalizando o material de forma a ficar coerente com o trabalho previamente lançado por nós. Configurei a linguagem dos visualizers para que conversassem não apenas entre si no quesito cor e montagem, mas, principalmente, para que parecessem, de fato, peças na mesma atmosfera estética de “Garcia/Oito Correntes”, evidenciando a intenção estética e narrativa e serem peças derivadas do clipe primogênito do álbum. Abaixo uma playlist com os sete visualizers do álbum “Garcia” que executei a pós produção:
Acima fotos realizadas durante as gravações do clipe e abaixo as fotos clicadas na primeira visita de locação, simulando o que viriam a se tornar as cenas.
Clipping:
Victor Xamã (2022)
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Victor Xamã (2022)

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