Jair Bach's profile

Reportagem para jornal impresso

Dia da Mentira  

Mentir é uma necessidade para você? 

A mentira para evitar quaisquer frustações e obter somente prazer é um sintoma da mitomania. 

O dia 01 de abril é mundialmente conhecido como o Dia da Mentira, a versão mais aceita sobre a história de seu surgimento remonta ao século 16, na França. Isso por que naquela época a chegada do ano novo era comemorada durante uma semana – 25 de março a 01 de abril – e em 1564, o rei Carlos 9º, adotando o calendário gregoriano, instituiu que o ano novo seria celebrado no dia 1º de janeiro.  

Muitas pessoas demoraram para saber da alteração e se adaptar a ela, outras resistiam veementemente à troca de data. Por isso, elas se tornaram-se alvo de diversas formas de ridicularização. Eram chamadas de "bobos de abril", recebiam convites para festas que não existiam e ganhavam cartões e presentes esquisitos. Surgindo assim a tradição do dia da mentira.  

Mas apesar de toda brincadeira e diversão o ato de mentir pode ser uma doença. A mitomania, também conhecida como pseudologia fantástica, é um transtorno psicológico caracterizado por uma compulsão de querer mentir. 

O psicólogo clínico, Sandro Rodrigo Steffens, explica que é comum aprendermos a mentir na infância. “As crianças conseguem construir com isso um espaço de subjetividade que só elas sabem o que elas sentem”, explica.  

Mas o problema surge quando a mentira se torna uma necessidade constante para enfrentar a realidade e evitar frustrações. Em regra, as histórias contadas pelo mitomaníaco não são inteiramente improváveis, elas contêm referências à realidade numa tentativa de serem aceitas como verdade. As aventuras imaginárias se manifestam em várias circunstâncias e de uma maneira crônica, sobre os mais variados temas e sempre tendo o mentiroso como herói.  

Apesar de parecer inofensivo essa compulsividade está associado a outros transtornos. “O perigo é quando as mentiras ganham proporção e são introjetadas como parte da personalidade, o que vai prejudicar o sujeito em várias esferas.”, complementa o psicólogo. 

A mitomania é um sintoma associado ao transtorno factício, quando o paciente produz intencionalmente sintomas físicos ou mentais de alguma doença, também conhecida como Síndrome de Munchausen. Além de estar associado a quadros de ansiedade e a depressão.  

Em casos mais graves, a pessoa pode agir de má-fé, mentindo com intuito de atingir objetivos sórdidos. O que pode levar ao diagnóstico de transtornos de personalidade antissocial, psicopatia ou sociopatia.  

São as pessoas ao redor do mitomaníaco que identificam o transtorno, uma vez que as histórias são frequentes e excessivamente elaboradas. “Normalmente, são as pessoas ao redor do mitomaníaco que detectam a compulsão. Isso acontece porque o doente começa a mentir com mais frequência e mais intensidade do que seria o considerado normal”, observa Sandro. 

O tratamento para a mitomania é feito através da psicoterapia, onde o paciente é estimulado a identificar e modificar suas fantasias e crenças que o levam a mentir. Trabalha-se o fortalecimento da autoestima, além do tratamento de sintomas depressivos e ansiosos. Caso necessário, são recomendados o acompanhamento psiquiátrico e o tratamento com medicamentos. 

É importante destacar que nem todo mentiroso sofre deste transtorno. A diferença se encontra no exagero consciente da mentira, no sentimento de culpa e de medo por mentir. “Normalmente, ao contar uma mentira a pessoa se sente culpada e com medo de ser descoberta. O mitômano não.”, finaliza o psicólogo. 

Caso seja identificado um mitomaníaco no seu convívio, é importante buscar ajuda profissional. É fundamental entender que a mitomania é uma doença e que as mentiras não são ditas com intenção de ofender ou prejudicar alguém, mas sim como uma forma de lidar com um sofrimento interno. Com o tratamento adequado, é possível ajudar a pessoa a enfrentar seus medos e angústias, e a buscar uma vida mais plena e satisfatória. 
Reportagem para jornal impresso
Published:

Owner

Reportagem para jornal impresso

Published:

Creative Fields