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Artigo - Sally Bowles em “Cabaret” (1972)

Sally Bowles em “Cabaret” (1972): a diva burlesca e o problema da busca por representatividade queer em uma falsa liberdade feminina

Resumo: Nesse artigo nos propomos a estudar o problema da busca da representatividade queer na figura diva burlesca usando como objeto de estudo a personagem Sally Bowles (Liza Minnelli) em Cabaret (Bob Fosse, 1972). Discutiremos como o comportamento camp das flappers atrai a comunidade queer para um estereótipo perigoso em que a liberdade feminina é falsa.
Eu percebi há algum tempo atrás que eu sou uma showgirl. Quando eu me apresento é para exibir ‘a garota’, enquanto que alguns performers tomam a abordagem de caricaturar ou ‘tornar burlesca’ a garota. (Lola the Vamp)

O [novo] burlesco celebra mulheres de todas as formas, tamanhos e cores. Ele empodera mulheres que estão assistindo porque elas veem um público que aprecia a sensualidade de alguém que se identifica muito com elas. (Baldwin)

A liberdade da mulher americana em 1920 representou o momento em que ela ignora pela primeira vez o conceito de moralidade vitoriana do século XIX, ainda muito presente naquela sociedade. Esse acontecimento se dá pelo fato de que durante a guerra, as mulheres ocuparam os trabalhos que antes eram dos homens e ao seu término, elas são perseguidas no mercado de trabalho e pressionadas a aderirem à vida doméstica. Especialmente na televisão e filmes da era, a maioria das personagens femininas eram mulheres ou mães em uma família, ou se não, elas eram pin-ups, ou uma jovem adolescente (WOLF, 2011).

Desde então, com o surgimento dessa new woman, a identidade da flapper, a melindrosa (mulher jovem, que usava cabelos bob e saias curtas) passa a ser popularizada no teatro e depois no cinema. Até antes, com a censura, o único lugar que permitia a nudez nos Estados Unidos era o teatro e é nele em que o estilo de arte burlesca, já existente desde a era vitoriana nos vaudevilles, vai trazer a identidade da flapper junto às comédias eróticas e o striptease. Assim, o burlesco passa a ser relacionado a flapper de 1920, e essa a relação entre os dois se mantém até hoje.

Com a Depressão, muitas mulheres se tornam artistas burlescas e strippers por necessidade, e até a imagem da própria prostituta, antes repudiada, recebe a partir de então, uma dupla classificação por aquela sociedade: a “vítima inocente” (representada por jovens brancas, pobres, rurais, de famílias abusivas) e a “poluidora” (estrangeiras, que disseminam doenças e corrompem a moral). Apesar do declínio, a produção dos grandes estúdios de cinema não perde audiência e as showgirls serão retratadas dentro dos musicais como mulheres que ganham a vida como performers em palcos para o benefício do homem. Nas décadas de 30 e 40, isso já possui uma relação muito próxima ao estereótipo da gold digger, a mulher que se aproxima de um homem simplesmente por ganho, que já é aliado também a essa ideia nova da prostituta “vítima inocente” (ROBERTSON, 2002).

Dessa forma, quando o diretor dos números musicais Busby Berkeley lança The Gold Diggers of 1933, um musical de sucesso em Hollywood, em que ele entrega uma imagem da mulher jovem, bela e desempregada que acaba se tornando showgirl para pagar as contas, ela já é instantaneamente relacionada ao gold digging e a prostituição. É dentro desse contexto que se busca analisar a personagem de Sally Bowles (Liza Minnelli) no filme Cabaret (Bob Fosse, 1972), dentre outras representações cinematográficas da diva burlesca.

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