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BOATE KISS: VIDAS E HISTÓRIAS PERDIDAS.

BOATE KISS: VIDAS E HISTÓRIAS PERDIDAS, 10 ANOS APÓS A TRAGÉDIA.  
Familiares, vitimas e amigos ainda pedem por justiça.  
Tragédia que matou 242 pessoas e deixou 636 outras feridas na cidade de Santa Maria, no Rio Grande do Sul, completa hoje (27) de janeiro, dez anos. 
A boate apresentava muitas irregularidades, e na noite do ocorrido houve muitos erros como:
- Superlotação;
- Falta de rota de fuga sinalizada para emergências e apenas uma porta de saída e entrada;
- Uso de um sinalizador que não era indicado, Luciano Bonilha teria sido avisado que o sinalizador que estava comprando seria para ambientes externos, mesmo com o aviso, ele preferiu comprar o mais barato;
- Falha nos extintores de incêndio acionados para conter o fogo;
- Falhas na fiscalização do local e na emissão de alvarás;
- Falha no treinamento dos seguranças da boate, que nos primeiros segundos (ou minutos, de acordo com testemunhas) impediram a evacuação do local.
E muitas outras irregularidades e condutas que poderiam ter sido evitadas.
A polícia civil do Rio Grande do Sul indiciou mais de 16 pessoas pelo incêndio, mas apenas 4 foram acusadas; Elissandro Callegaro, sócio que administrava a boate. Mauro Londero, sócio investidor da boate Kiss. Marcelo dos Santos, o vocalista que segurou o sinalizador. E o produtor da banda que comprou o sinalizador, Luciano Bonilha Leão.
Foram julgados e condenados em dezembro de 2021, as penas variando de 18 a 22 anos de prisão, Mas os condenados não saíram presos em razão de um habeas corpus preventivo concedido por desembargador da 1ª câmara Criminal do TJ/RS.
 
 Dia 03 de agosto de 2022, a 1ª câmara Criminal do TJ/RS reconhece nulidades processuais e anula as condenações dos quatro acusados, que foram colocados em liberdade. Eles devem ser submetidos a um novo julgamento, ainda sem data marcada.
 
 

      Passava um pouco mais das 2h30min da madrugada, do dia 27/01/2013 quando recebi uma ligação da minha filha, Fernanda, que estava no Mato Grosso, me perguntando se o Waltinho estava em casa. Eu disse que não. Que tinha saído lá pela 1h para ir na Boate Kiss. Perguntei porquê? Ela me disse: “Mãe liga pro Waltinho e vê se ele está bem. Minhas amigas estão me ligando dizendo que a Boates Kiss está pegando fogo. Desliguei o celular e comecei a ligar para o meu filho. Ele nada de atender. Minha filha me liga novamente, querendo saber se eu havia conseguido falar com ele. Eu disse não. Ela me falou, então acorda o pai pra ir ver, porque já tem 80 mortos. Eu paralisei. Chamei meu marido, mas não conseguia falar, tentava e não conseguia. Até que reagi e falei. Daquele momento em diante começamos uma correria atrás dele. Fomos até a boate e não nos deixaram passar, mas vimos a labareda de fogo, pessoas carregando, jovens desacordados. Fomos em todos os hospitais, e nada. Ficamos em frente ao Hospital de Caridade, ouvindo a leitura dos nomes e nada do nosso filho. Eu estava em estado de choque. Parecia que aquilo não era real. Não queria aceitar. Vi um grupo enorme de enfermeiros, indo em direção ao hospital. A noite e o dia todo ouvindo sirenes tocando, ambulâncias do SAMU e caminhões do quartel, transportando os corpos. Era um cenário de guerra. Amigos ligavam querendo saber do Waltinho. Meu marido desolado, cuidava os caminhões que chegavam trazendo os corpos. E nada. Eu fui para casa, para atender o telefone, caso alguém ligasse, nos dando alguma notícia. Alguém ligou, dizendo que tinham visto o Waltinho entrar caminhando no hospital. Meu marido deu entrada do nosso filho no hospital e juntamente com outros amigos começaram a procurar em todos os lugares do hospital, e nada. Assim foi até às 17h de domingo, no último anúncio da Polícia Civil, falaram o nome dele. Meu marido me liga, aos prantos e diz: “achei ele, Morena. Achei ele”. Até aquele momento eu só pensava que ele poderia estar com alguma queimadura e que estaria internado, no hospital. E meu marido disse: “ tá aqui jogado no chão, com a perninha dobrada”. “Nosso filho se foi”, dizia ele, chorando muito.
Meu filho não iria na boate, até receber uma ligação de um amigo, que conseguiu entradas para área Vip. De um grupo de cinco(5) amigos, nenhum sobreviveu. Meu filho não teve uma queimadura, nenhum machucado. No velório fiquei sabendo, que ele conseguiu sair da boate, mas voltou para ajudar os amigos.
Meu filho amado, eu estava contigo quando abriste teus olhinhos, pela primeira vez. Mas não pude estar ao teu lado quando fechaste pela última vez. Isso dói muito e nunca vai sarar.
 Relato de Denise Cabistani , mãe de Walter Souza Cabistani, uma das vitimas da tragédia.
 "Os homens eles puxavam pelo cinto e as mulheres pelos cabelos, porque se puxasse pelo braço arrancava a pele das pessoas"
Relato de Dalvani Russo, sobrevivente da Boate Kiss que teve 30% do corpo queimado.
Por: Anna Castro - 27/01/2023 - 17:33
BOATE KISS: VIDAS E HISTÓRIAS PERDIDAS.
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