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Ser pequeno incomoda - Uma crônica

Ser pequeno incomoda


A população mundial é composta por três categorias de pessoas: as de tamanho convencional, de ser humano; os gigantes, e os que sofrem, os pequenos. Não posso falar pelos gigantes, pois não conheço muitos, mas os pequenos penam todos os dias.

Dizem que tamanho não é documento, mas isso não é verdade quando se tem menos de 1,60m. Além de enfrentar comentários que ninguém pediu, como ser chamado de “mergulhador de aquário” ou “jardineiro de bonsai”, pessoas de tamanho normal que se apoiam em você e depois se ofendem quando pedimos para tirarem seu cotovelo imundo de nossa cabeça, temos de achar jeitos novos de sobreviver.

Aqui estão alguns exemplos: quando alguém vai ao supermercado, no dia a dia, geralmente se preocupa com o que vai comprar, o que vai fazer no jantar ou até se vai conseguir comprar tudo que quer. Veja bem, nós, os chamados “baixinhos” temos que nos preocupar com tudo isso e, ainda por cima, se vamos conseguir alcançar os itens desejados que precisamos para comer.

Falando em comer, as cozinhas normais tem armário no alto. Que arquiteto, ou fazedor de cozinhas, pensa em pessoas pequenas? Ou pior, será que pensam e fazem armários altos para manter aquela panela vital permanentemente fora do nosso alcance? Se não tivéssemos banquinhos para nos apoiar, nós “carcereiros de gaiolas” certamente morreríamos de fome.

Mas quem pensa que sofremos só para comer está muito enganado. Na minha humilde opinião, não é a pior parte, nem de perto, nem de longe. A pior parte de ser pequeno é algo que se refere apenas à cidade grande e já não é muito agradável para o restante da população. Os tão temidos transportes públicos estão aí para provar mais uma vez que baixinhos são torturados pela sociedade.

O ônibus é um meio de transporte extremamente prático, a não ser que esteja cheio, ou seja, quase sempre. Quando está cheio, grande parte dos transportados têm de ficar em pé, com o braço levantado para conseguir agarrar alguma barra fixa e não se espatifar quando o motorista freia. Convenhamos que essa é uma necessidade para todos. 

Só há um problema. Um problema muito sério. Na condição de baixinho, seu rosto, e consequentemente seu nariz, fica posicionado estrategicamente pela natureza nas axilas dos outros passageiros. E deixe-me dizer que em uma cidade onde tem temperaturas superiores a 30ºC, é bem ruim. Até, às vezes, insuportável.

Com tudo isso, concluo que a vida não foi feita para “tampinhas”, e que essa questão deveria ser discutida com o mesmo nível de seriedade que problemas políticos mundiais e meio ambiente. Também queria dizer a todos que afirmam que baixinhos são mal humorados que não é porque “estamos mais perto do inferno” mas sim porque queríamos alcançar aquele maldito Doritos na prateleira de cima.
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