Quarto álbum solo de Lacerda, Nações, homens ou leões apresenta onze músicas em repertório autoral no qual o compositor firma parceria com Ronaldo Bastos, letrista de duas canções, Mudar a vida e O sol que tudo sente. Selo Circus, 2021
Julho de 2020, o meio de um ano que parecia que não terminaria em 31 de dezembro. Uma cortina esgarçada revelava em gritos um mundo desencantado. Os que foram agraciados na loteria biológica conjecturavam a vida e o mundo na solidez de seus bunkers. Aos demais 80% a falta da escolha ou informação. Como chegamos até aqui e para onde vamos? César me liga e fala: "estou com um disco pronto, queria muito que você fizesse o desenho dele." Ele dizia que o disco estava para além do desencanto, eram camadas que falavam do nosso tempo e da nebulosidade que vinha do futuro.
"Entre sombras e caos, a esperança não deve nos faltar", falávamos. Frei Betto sempre me alerta a deixar o pessimismo para tempos melhores. A ideia do desenho para Nações, homens ou Leões ia se configurando. César e eu confabulávamos filosofias e referências para um painel de sensações que transitava por Jodorowsky, Gilberto Gil, minimalismo, Paul Hoi, Greta Thunberg, homens /opressão, Prince Gyasi e esperanças. A tônica das nossas conversas, o Antropoceno, título também de uma das faixas do disco. Caía só, de frente para um espelho, imobilizado sem saber que seria tomado por uma avalanche do fim e do início. Muitas cores, muitas coisas. Renovei meus votos com a arte. Ainda que pareça um terreno árido, nós, os artistas, ainda respiramos. A contragosto dos fascistas, ainda respiramos. A contragosto das censuras, ainda respiramos. Definitivamente, mais do que convidado, fui provocado a catalisar tudo essa história e transportá-la pra essa capa. E eu gosto muito no que ela se transformou!
