"Se essa rua ainda fosse minha...” é uma imersão fotográfica nos bairros do Pinheiro e Bebedouro situados na cidade de Maceió, em Alagoas, que são dois dos quatro bairros diretamente afetados pelo desastre ambiental urbano provocado pela mineração irresponsável da Braskem. Em 2018, tremores de terra atingiram uma região da cidade de Maceió que corresponde aos bairros do Pinheiro, Bebedouro, Mutange e Bom Parto.
Após a reincidência desses tremores, rachaduras e fissuras começaram a aparecer nas paredes, tetos e chãos das casas e prédios e no asfalto de ruas e vias públicas, comprometendo as estruturas das residências e demais locações dispostas nestes territórios. Não demorou até que a Prefeitura de Maceió decretasse estado de calamidade pública e que pesquisadores investigassem as causas dos problemas, atestando que os abalos foram resultados de anos de degradação do solo da região causada pela larga extração de sal-gema. As perspectivas dos laudos emitidos pelas entidades de pesquisa responsáveis apontavam para a probabilidade de afundamento dos bairros, alertando a população que evacuasse e desapropriasse o lugar com urgência.
Durante o ano de 2020, em concomitância com os desastres causados pela pandemia da COVID-19, a cidade de Maceió vivia um desastre particular: a desapropriação dos bairros do Pinheiro, Bebedouro, Mutange e Bom Parto e a revolta da população que abandonava suas casas, negócios, rotinas e dinâmicas urbanas pelo sobreaviso de desabamento. Nesta série fotográfica, deixo o registro da desapropriação do Pinheiro e Bebedouro através de mensagens, lamentos, escombros, objetos e placas deixados para trás no que hoje são conhecidos em Maceió como bairros fantasmas.
O objetivo deste trabalho é impulsionar reflexões sobre memória e pertencimento através de imagens que relatam as perdas de inúmeras famílias e denunciam um crime sem precedentes.
