As figuras do figurado português surgem à volta de um imaginário com raízes "em memórias culturais visuais ancestrais expressas numa fantasia popular, profana que nos remete para universos do fantástico, do monstruoso e do medonho, do aliciante e tentador"(1), representam-se figuras híbridas, com corpos humanos e cabeças de animais ou vice-versa, têm a função de "contrapeso à banalidade e regularidade do quotidiano"(2).
Este projeto surge sobre a obra de Rosa Ramalho (1888-1977) e em confronto com a segregação de arte e artesanato. As peças aqui criadas surgem antes da animalização das personagens que carregam em si formas e comportamentos animalescos, quase numa centralidade e viagem às raízes humanas, ao cerne da criação, de onde nasce todo esse imaginário e efabulação. Carregam a dimensão bipolar entre o demoníaco e o divino que nas peças do figurado se representam separadamente, agregando simbolismos e interpretações que podem ser entendidas em ambas as dimensões. Estas peças reinterpretam as representações do figurado, o diabo, o galo, o cabeçudo / músico e o bestiário.
Coleção de peças modeladas em barro, 2021