"Quem quiser ver o bonito
Saia fora e venha ver
Venha ver os parafusos
A torcer a distorcer..."

A tradição dos Parafusos é a mais original expressão do folclore de Lagarto em Sergipe e o único existente no Brasil.

A origem dos Parafusos remete ao período colonial, no cenário dos engenhos, onde escravos sonhavam com a liberdade nos quilombos, para escapar do sofrimento. Procurando chegar ao quilombo, escravos em fuga, usavam as anáguas das sinhás, roubadas dos quaradouros. Para camuflar o corpo, colocavam várias anáguas, umas sobre as outras desde o pescoço, pintando o rosto com tabatinga, compondo o disfarce final com um chapéu em formato de cone, igualmente branco. Assim, nas noites de lua se arriscavam pelos canaviais despertando o imaginário popular que consideravam estar vendo visagens ou almas do outro mundo.

A fama das aparições era tão grande quanto o medo que provocavam e ninguém se arriscava a passar nos canaviais com temor das assombrações. Quando findou a escravatura, a mística fantasmagórica acabou, mas permaneceu a tradição com um grupo de negros saindo às ruas, rodopiando na cadência de tambores e triângulos que marcavam o ritmo alucinado. As anáguas brancas que formavam um contraste com sua pele negra, chamaram a atenção do vigário de Lagarto, o padre José Saraiva Salomão, que comparou o movimento dos brincantes ao de um parafuso, observando o rodopiar no sentido anti-horário, parecendo, assim, torcer e distorcer.

O que mais chama a atenção é a sua coreografia, que se baseia em volteios sobre si mesmo, provocando a abertura das anáguas e apresentando um visual de grande beleza estética. As evoluções das duas filas de dançantes imitam a fuga dos escravos pelos canaviais a caminho dos quilombos, despistando os capitães do mato. O que foi um movimento de resistência à escravatura se tornou um folguedo de grande beleza, exclusivamente composto por homens, característico do município de Lagarto.
Parafuso
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