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Rohan no Louvre — A arte de Hirohiko Araki

Rohan no Louvre — A arte de Hirohiko Araki
Existe uma singularidade incrível na obra de Hirohiko Araki, famoso mangaká(autor de mangás) japonês, criador e ilustrador de Jojo’s Bizarre Adventure, e foi exatamente isso que o fez ser o primeiro japonês convidado a publicar uma obra no projeto BD (Bande Dessinée) do Museu do Louvre.
Hirohiko Araki, autor de Jojo's Bizarre Adventure.
O projeto consiste em uma série de produções de HQ’s de diversos autores de países diferentes, utilizando do icônico museu como ambientação de suas tramas. Le Petit Dessein: Le Louvre Invite La Bande Dessinée (ou Cartoons: The Louvre Invites Comic-Strip Art) foi o nome da exposição, realizada de 22 de janeiro a 13 de abril de 2019.

Antes de falar sobre Rohan no Louvre, quero destacar alguns pontos sobre a obra de Araki, Jojo’s Bizarre Adventure, de onde vem o personagem. O mangá de Jojo’s Bizarre Adventure foi publicado pela Shueisha em sua revista Weekly Shonen Jump entre 1987 e 2004, e a partir de 2004 pela revista seinen Ultra Jump, está atualmente em seu oitavo arco/temporada, e é possível observar a mudança estética de Araki como mangaká durante os anos.
No começo de carreira o traço de Araki possuía uma grande influência de Fist of the North Star (1983–1988), com personagens de proporções absurdas, com corpos extremamente musculosos e irreais, o tempo foi passando e já na parte 4 podemos ver uma mudança para algo menos exagerado em questão de porte físico, mas assume sua mudança de fato na parte 5, Vento Aureo, onde existe uma drástica mudança estética com muitos personagens apresentando um visual mais andrógeno.
Jonathan Joestar, protagonista do primeiro arco de Jojo’s / Rohan Kishibe, protagonista da Spin-off Rohan no Louvre e personagem secundário do quarto arco da série, desenhado no traço atual de Araki.
Carregado de referências culturais, a obra segue a linhagem da família Joestar, que estaria destinada até o fim a lidar com as consequências das ações de Dio Brando, um jovem ambicioso em busca de poder absoluto. A série conta também com poderes que levam nomes de Arcanos do Tarot, referências à grandes bandas/músicas dos anos 70~90, vilão inspirado em David Bowie, parceria com a marca de roupas italiana Gucci, mas isso tudo fica para um próximo texto.
Jolyne Kujo, protagonista do sexto arco da série nas vitrines de uma loja Gucci.
Rohan Kishibe é um dos personagens secundários do quarto arco, Diamond is Unbreakable, portador do Stand (denominação dos poderes que movem a trama da série da terceira parte em diante) Heavens Door, que permite que Rohan leia e reescreva as lembranças e sentimentos da pessoa atingida, transformando partes do corpo do alvo em páginas de livro. Ele é um jovem e bem-sucedido mangaká, tendo publicado sua primeira obra na Shonen Jump com apenas 17 anos, e sua personalidade peculiar somada a sua carreira como autor fizeram fãs teorizar que ele seria o alter-ego de Araki em sua obra, lhe rendendo status de protagonista em alguns capítulos da série e em spin-offs próprios.
A trama de Rohan no Louvre começa pouco antes do começo de carreira do personagem, quando ele vai passar as férias de verão no interior na casa de uma avó que possuía uma pousada onde alugava quartos, e lá ele conhece uma jovem mulher chamada Nanase Fujikura.

Nanase Fujikura
Rohan e Nanase acabam se aproximando depois de o jovem passar algum tempo observando Nanase e tentando replicar seus traços em desenhos, a mulher então pergunta a Rohan se ele já teria ouvido falar sobre “A pintura mais escura de todas”, uma pintura que diziam carregar uma aura maligna, e que estaria no Museu do Louvre, em Paris.

Segundo ela, o artista Nizaemon Yamamura teria descoberto a tinta mais escura do mundo cortando o tronco de uma árvore anciã de mais de mil anos, o que provocou a ira do senhor daquelas terras, e resultou na execução de Nizaemon.
Dizia uma lenda que Nizaemon teria amaldiçoado suas telas, então todas foram queimadas, exceto por uma que o artista teria escondido antes de sua morte e que Nanase afirma que teria pertencido a sua família quando era mais nova, dizendo até se lembrar de ver a obra de longe, e que teria sido comprada por um curador do Museu do Louvre.

Pouco tempo depois, Nanase se irrita com o fato de Rohan estar se inspirando nela para criar uma personagem, ela então destrói os rascunhos, foge e Rohan nunca mais sequer escuta falar sobre a mulher.
Rohan e Nanase, a pose em que se encontram faz referência a escultura Psique Reanimada Por Um Beijo de Amor, de Antonio Canova, que se encontra no acervo do Louvre.
O caso permanece um mistério, até que em uma conversa sobre obras de arte, 10 anos depois de ter conhecido Nanase (e 6 anos desde o bizarro verão de 1999), Rohan se lembra do nome do autor da suposta pintura maligna, e consumido pelas dúvidas que guarda sobre a peça e seu envolvimento com Nanase, resolve embarcar para Paris em busca de respostas.
Rohan, quase no Louvre.
Ainda que uma leitura rápida, Rohan no Louvre consegue transmitir com precisão a atmosfera de suspense, mistério e excentricidade presentes na obra do autor, com um gostinho especial para quem já conhece a franquia Jojo’s Bizzare Adventure, mas não tornando necessário conhecer a série para aproveitar a One-shot. A HQ é ainda a única de Araki a ser publicada completamente em cores aqui no Brasil, e a cada página que passa fica mais prazeroso não só a busca por respostas sobre o mistério envolvendo a tal obra amaldiçoada, mas também como Araki faz uso de suas cores, dividindo os momentos de Rohan em tons de amarelo/laranja quando ele revisita suas lembranças com Nanase, que muda para rosa/azul-claro assim que o personagem chega em Paris.
A HQ pode ser recomendada para qualquer um que já conheça o trabalho do autor, mas também serve como uma ótima primeira leitura para os que desconhecem, tendo como maior apelo a questão do icônico Museu do Louvre como ambientação, e as artes de Araki que ficam cada vez mais bonitas conforme as páginas passam. A edição brasileira foi publicada pela Pipoca & Nanquim, com capa dura, páginas em papel couché de alta gramatura, cores originais do autor, marcador de páginas e glossário com notas explicativas.
Rohan no Louvre — A arte de Hirohiko Araki
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